Em 2010, a revista americana Time elegeu a Crocs como uma das 50 piores invenções da história. Ela não foi a única a debochar do item, que inspira memes e faz fashionistas ao redor do globo torcerem o nariz para marca de sapatos emborrachados.
A estilista e ex-cantora do grupo britânico Spice Girls, Victoria Beckham, disse, em abril deste ano, que preferia morrer a usar um Crocs lilás decorado com ursinho, que ganhou de presente do cantor canadense Justin Bieber.
Mas o estilo de se vestir de forma mais confortável, inaugurado pela pandemia, está transformando a Crocs em um item indispensável do mundo atual, com as vendas das sandálias batendo recordes atrás de recordes.
A fabricante da Crocs registrou vendas de US$ 640 milhões no segundo trimestre deste ano, quase o dobro do mesmo período do ano passado. O lucro saltou de US$ 54,7 milhões, um ano antes, para US$ 190,5 milhões, quase quadruplicando.
“Nós continuamos a observar um forte demanda pela marca Crocs globalmente", disse Andrew Rees, presidente da Crocs, durante o anúncio de seu resultado trimestral, nesta quinta-feira, 22 de julho.
As ações da companhia, negociadas na Nasdaq, estão também em patamares recordes. Nesta quinta-feira, subiram quase 10%. No ano, elas valorizam-se 110,5%. Desde março do ano passado, multiplicaram-se por quase cinco vezes. Hoje, a Crocs vale US$ 8,6 bilhões.
A Crocs está se beneficiando dos novos hábitos dos consumidores, que, mesmo voltando para as escolas e escritórios (em especial, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, onde a vacinação está avançada) têm optado por itens mais confortáveis.
Essa é uma tendência que afetou também a Nike, cujo resultado do segundo trimestre foi o melhor de seus 50 anos de história. A receita líquida atingiu US$ 12,3 bilhões, 96% superior quando comparada a igual período, um ano antes. Nesse intervalo, a empresa reportou um lucro líquido de US$ 1,5 bilhão, revertendo um prejuízo líquido de US$ 790 milhões.
A explicação não é diferente do desempenho da Crocs: os consumidores estão preferindo usar tênis e calças confortáveis, antes restritas à academia e fins de semana, em vez de trajes sociais e sapatos e sandálias desconfortáveis.
“Estes são os momentos em que marcas fortes podem ficar mais fortes”, afirmou John Donahoe, CEO da Nike, durante uma conferência com analistas, em junho. “E, a cada trimestre, essa realidade se torna ainda mais clara.”
E a Crocs têm aproveitado esse momento. Às vezes, com parcerias de gosto duvidoso (mas quem se importa com isso?). Em julho do ano passado, a fabricante fez modelos inspirados nos baldes de frangos do restaurante de fast-food KFC.
O cantor Justin Bieber assinou uma coleção que se esgotou em 90 minutos no ano passado. O diretor musical da edição do Oscar deste ano, Questlove, desfilou com uma Crocs dourada no tapete vermelho em sua interpretação inusitada das estatuetas. Em junho deste ano, a marca lançou uma versão com salto alto em parceria com a Balenciaga.
Feita a partir de uma resina especial, que é leve e resistente a odor, a Crocs foi inicialmente pensada para marinheiros e entusiastas de esportes aquáticos. Seu conforto, porém, atraiu outro nicho, como enfermeiros e garçons, que tradicionalmente têm de ficar em pé por longas horas.
Agora, a marca que todo mundo debochar está se transformando em uma espécie de uniforme do novo normal.