Depois de flertar com a falência e "pisar em ovos" no mercado, a Crocs voltou a ser moda em Wall Street e agora desfila em uma avaliação de US$ 3,2 bilhões.

A companhia viu suas ações dispararem 238% desde março, quando a crise do coronavírus chegou aos Estados Unidos e impôs a "coleção conforto", que transformou os sapatos emborrachados em uma espécie de uniforme para o "novo normal".  

A procura pelos calçados de gosto duvidoso é tamanha que a última coleção, assinada pelo cantor Justin Bieber, esgotou nos primeiros 90 minutos após ser lançada, na terça-feira, 13 de outubro. A procura pela peça foi tamanha que o site da empresa não aguentou o volume de acessos e ficou indisponível. 

Vendidos por US$ 60, os Crocs criados pelo artista canadense agora são negociados em sites de revendas e leilão online, como o eBay, por mais do que dobro do seu valor original. 

Os frutos desta parceria com Justin Bieber foram colhidos antes mesmo de os produtos chegarem ao e-commerce da empresa. No primeiro dia do mês, o cantor postou em seu perfil oficial no Instagram uma foto dos Crocs em uma piscina, com a legenda "em breve". A publicação foi suficiente para elevar em 13% os papéis da companhia.

Colaborações como essa fazem parte da estratégia da Crocs desde que a empresa conheceu o fundo do seu poço, em 2008, quando suas ações chegaram a ser negociadas por US$ 1,2, um valor bem distante dos atuais US$ 48,75.

A Crocs estreou na Nasdaq em fevereiro de 2006, e levantou US$ 207,9 milhões em seu IPO. No ano seguinte, a marca viveu seu apogeu. Em outubro de 2007, suas ações atingiram a máxima histórica, valendo US$ 74,7 cada. 

Nos três anos seguintes, porém, a companhia entrou em queda livre no mercado. Os pedidos dos varejistas terceirizados se reduziram drasticamente, enquanto o excesso de oferta nas lojas próprias criou um problema no estoque. Paralelo a tudo isso, desafios com falsificações e descontos também impactaram negativamente no desempenho da companhia. 

Nessa época, a Crocs fechou centenas de lojas e algumas fábricas, enxugou seus gastos e ampliou seu leque de produtos. As sandálias tipo "tijolão", marca registrada da empresa, eram associadas ao inverno. A companhia aderiu, então, a chinelos e tênis e passou a explorar todas as estações do ano.

Mas foi só em 2017 que a empresa voltou a subir "no salto alto". Ao fechar uma parceria exclusiva com a marca de luxo Balenciaga, queridinha das celebridades, a Crocs viu seu nome voltar às manchetes e aos pés de influenciadores e personalidades de interesse. 

Feito a partir de uma resina especial, que é leve e resistente a odor, o calçado Crocs foi inicialmente pensado para marinheiros e entusiastas de esportes aquáticos. Seu conforto, porém, atraiu outro nicho, como enfermeiros e garçons, que tradicionalmente têm de ficar em pé por longas horas.

Agora, porém, a marca viu seu negócio ser transformado pela pandemia e pela priorização, justamente, do conforto. A procura por Crocs na internet cresceu 32% mês a mês, segundo a Lyst, um site de busca de artigos fashion. 

Como resultado, as vendas online da marca avançaram 67,7% no segundo trimestre deste ano. A receita da companhia neste mesmo período foi de US$ 331,5 milhões, uma queda de 7,6% em relação à mesma época de 2019, mas essa "escorregada" se deu por conta do fechamento das lojas físicas da companhia.

Mesmo assim, o lucro da Crocs no segundo trimestre foi de US$ 56,5 milhões, contra US$ 39,9 milhões no mesmo período do ano anterior. Isso representa um salto de 42,3%.

Os calçados da companhia estão longe de serem unanimidade entre fashionistas e faz parte de sua estratégia ser assim. Como diz a CEO da marca, Michelle Poole, "as pessoas nos amam ou nos odeiam e não tem problema, porque significa que elas estão prestando atenção". E, agora, o mercado também está de olho nas sandálias blocadas. Mas por motivos que vão além do visual.

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