Antes de se tornarem parte da nossa sociedade e um novo status quo, todas as grandes transformações digitais foram ridicularizadas como besteira, coisa de uma juventude de valores invertidos ou um hype, uma mania louca que está fadada a se destruir.

É impossível não lembrar do surgimento da Web 1.0, quando numa entrevista na TV David Letterman faz piada com um jovem Bill Gates: "ninguém avisou que nós já temos o rádio?"

Veja, por exemplo, a chegada dos celulares, não eram incomuns comentários como "mas porque eu vou deixar que me liguem em qualquer lugar?". E hoje o smartphone se tornou uma extensão de quem somos, é onde nos comunicamos, é onde acessamos nosso dinheiro, onde pedimos nossa comida e até por onde planejamos viagens e nos deslocamos na cidade. Estamos o tempo todo cruzando o digital e o real, numa fusão que hoje é indivisível.

Olhando em retrospecto, se nós diminuíssemos e pautássemos todo o valor e importância da internet e do celular a partir dos sites interativos como "the million dollar homepage" e o famigerado "jogo da cobrinha" talvez tivéssemos descartado duas das maiores revoluções da história da humanidade.

É natural que existam aqueles que querem lutar contra ou diminuir o tamanho e importância dessas transformações, as reduzindo aos seus primeiros produtos e resultados. Mas quando nos educamos sobre NFTs percebemos que sua transformação pode ser tão grande quanto seus predecessores, o smartphone e a internet.

Os NFT (Non Fungible Tokens) são contratos inteligentes no blockchain que verificam se você é dono ou não, a origem e o histórico de transações de um item, virtual ou físico. Suas aplicações são diversas e altamente relevantes, podendo substituir cartórios, documentos, contratos, certidões e certificados.

No futuro eles poderão até validar a origem e a cadeia produtiva de um grão de café colombiano, atestando que ele foi de fato colhido numa certa fazenda, por um coletor específico, num dia e hora específicos, que foi bem remunerado e passou por todos os processos corretos para chegar na sua mão.

Isso acontece porque como os contratos inteligentes acontecem no blockchain (uma rede descentralizada de computadores que valida e armazena essa informação em blocos não alteráveis) você não corre o risco de uma fraude por suborno de um regulador desonesto, a perda de informação por acidente ou a simples falsificação de um documento que parecia legítimo.

Isso é relevante para muitos - senão todos - os mercados, mas está começando pela arte. Como a internet, os celulares e toda transformação digital em seu início, o uso de NFTs ainda é caro e pouco escalável para ser usado na indústria ou nos cartórios, ainda é necessário evoluir a tecnologia.

Começando pelo entretenimento, a cultura e pela construção de comunidades que consomem e discutem conteúdo, a comunidade de NFTs estimula o uso dos contratos pela compra de arte digital e até de produtos reais. Historicamente isso faz sentido, já que a arte muitas vezes encabeçou a vanguarda da ciência. Veja os primeiros filósofos gregos, o Renascimento em Florença ou mesmo a Semana de 1922 (que inclusive fez seu centenário neste mês).

Marcas como Adidas, Nike, Louis Vuitton, Dolce & Gabbana já estão associando seus produtos a NFTs e ajudando a impulsionar o desenvolvimento tecnológico dessa nova ferramenta que será transformadora não só na moda, mas em construção, finanças, indústria, energia, direitos autorais, varejo e muitas outras.

Ao mesmo tempo, isso ajuda o mercado de criadores, que mesmo com problemas de direitos autorais e desorganização no mundo das NFTs, tem pela primeira vez uma estrutura direta de venda, ownership e monetização de longo prazo com suas criações, algo inédito no segmento. Que na Web 2.0 se via obrigada a gerar conteúdo gratuito massivo antes de cobrar e que tinha que se sujeitar às regras e direcionamentos de plataformas, gravadoras e produtoras terceiras.

Existem neste momento diversas empresas e comunidades de artistas se sustentando e enriquecendo com NFTs como nunca conseguiram na Web 2.0 como Larva Labs, Yugalabs, Azuki e DAOs (Decentralized Autonomous Organizations) como Rarible, SuperRare, FlamingDAO, PleasrDAO, Fingerprints e outros.

No universo de Games, isso ganha ainda uma outra importância financeira pelos mesmos benefícios de descentralização. Porque não importa quanto dinheiro você gaste num jogo com itens e benefícios, essa propriedade não é sua. Ela existe apenas dentro do jogo e sujeita a qualquer decisão, mudança ou banimento dentro da plataforma. Algumas plataformas permitem negociações entre jogadores, mas ainda existem muitas limitações.

Com os contratos de NFT, você passa a ser dono dos seus itens, podendo até fazer a portabilidade de um jogo para o outro, de um metaverso para o outro e negociar livremente com outros jogadores do mesmo ou de outros jogos, trazendo também um nível de valor intangível para coleções e itens que se tornam "reais" para mais de uma plataforma e seu dinheiro volta a ser seu, e não fica confinado naquele único jogo.

E isso é válido para todas as aplicações das NFTs, os contratos inteligentes em bloco são como o "livro razão" de propriedade, histórico e origem de tudo que você transforma em NFT e esse "livro razão"(blockchain) que interage com protocolos diferentes para armazenar e validar os dados daquilo que você é dono.

Podendo inclusive ser a "réplica digital" que garante a autenticidade de fotos e obras, cumprindo o papel de galerias de forma mais rápida, transparente e eficiente. E pode garantir autenticidade até de roupas e outros produtos como está sendo usado por marcas como Nike, Louis Vuitton, etc.

Isso sem falar das possíveis aplicações para substituição de cartórios e na indústria.

Resumindo: Para os desavisados e mal informados é fácil reduzir NFTs a uma loucura do capitalismo que atribui valores ilusórios a certificados de compra de imagens .JPEG.

Há até quem inclusive queira conectar erroneamente os contratos digitais com poluição e impacto ambiental, por conta do gasto energético dos computadores conectados à rede. Quando esse na verdade é um assunto sobre matriz energética de cada país e região, paralelo e muito anterior à chegada das criptomoedas, blockchain, NFTs e etc.

(Para padrão de comparação, seria o mesmo que culpar Google, Meta/Facebook e Amazon por impactos ambientais nas regiões onde ficam seus servidores, porque eles gastam muita energia e geram muitos dados).

Mas quando nos educamos e entendemos as possibilidades e possíveis aplicações desses contratos inteligentes, começamos a entender que esse é o começo de uma grande transformação na maneira como transações, certificados, documentos e autoria são registrados. Criando uma infinidade de possibilidades e oportunidades para empreendedores, criadores, artistas e consumidores.

E como toda nova revolução tecnológica que desponta, existem centenas de problemas e melhorias que precisam ser implementadas para que isso se expanda.

Entretanto, com o nível de aderência e crescimento de interesse pelos contratos inteligentes crescendo exponencialmente mês a mês, novos protocolos e redes são formados, mais computadores se conectam e uma tecnologia que já era sólida, se torna cada vez mais segura e transparente.

Coleções e hypes vêm e vão, mas as aplicações e crescimento do uso dos contratos inteligentes só aumenta em número, frequência e sofisticação.

Isso significa que você precisa comprar uma arte em NFT? Não, só Não Fuja da Transformação.

* Alma é um DAO (Decentralized Autonomous Organization) de líderes, empreendedores, investidores e builders que mentora, investe, educa e ilumina empresas e iniciativas de Web3.

Este texto foi escrito de maneira colaborativa e descentralizada pelos membros catalisadores da Alma. São eles: Rony Meisler, Rapha Avellar, Paulo Orione, Gustavo do Valle, Daniel Smolenaars, Guilherme Bettanin, Tallis Gomes, Lucas Prim, Pedro Sirotsky, Heli Diogo Dourado, Pedro Bergamini, Isac Honorato, João Bernardtt, Rodrigo Portaro, Rogue, Felipe Bonetto, Laio Santos, Bruno Nardon, Ivan Pereira, Luccas Riedo, Rudá Pellini, Ricardo Bechara, Robson Harada, Victor Stabile, Bogado, Pedro Cardoso, David Politanski, Thiago Gil