Em entrevista concedida ao NeoFeed, em agosto de 2020, Octavio de Lazari Jr., CEO do Bradesco, fez menção às cinco vezes em que esteve presente no Fórum Econômico Mundial, em Davos. “Você escuta gente do mundo inteiro falando sobre aquecimento do planeta, dos oceanos, do meio ambiente. Mas é muito discurso e pouca ação”, afirmou o executivo na época.
Nove meses depois, o Bradesco sinaliza que está disposto a ser um dos agentes do mercado financeiro a sair do discurso e consolidar, efetivamente, a prática. O banco anunciou nesta quarta-feira, 5 de maio, a meta de destinar R$ 250 bilhões para negócios sustentáveis até 2025.
“Estamos dando um passo bastante importante na missão de promover o desenvolvimento sócio-econômico e incentivar as ações necessárias para uma economia mais sustentável”, afirmou Lazari Jr., em conferência realizada nesta manhã com analistas do mercado financeiro.
Segundo o executivo, a destinação desses recursos se dará por meio de linhas de crédito corporativo, da assessoria de operações no mercado de capitais para setores de impacto positivo e de soluções financeiras com foco nos princípios de ESG.
“Com isso, vamos ampliar nosso esforço em alguns setores destacados e incentivar as melhores práticas em quaisquer segmentos da economia que trabalhem conosco”, observou o CEO do Bradesco.
A princípio, o Bradesco vai direcionar esse foco a projetos ligados às seguintes áreas: biocombustíveis; agricultura de baixo carbono; saúde e segurança social; educação, cultura e esporte; energia renovável; manejo florestal; saneamento e água; e gestão de resíduos.
O anúncio de hoje não é o primeiro movimento do Bradesco nessa direção. Em julho de 2020, por exemplo, o banco, ao lado do Itaú Unibanco e do Santander, lançou um plano para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
A iniciativa incluiu a elaboração de 10 medidas e ações concretas, a partir de três frentes de atuação consideradas prioritárias na região: conservação ambiental e desenvolvimento da bioeconomia; investimento em infraestrutura sustentável; e garantia dos direitos básicos da população da região.
Outras ações compõem o olhar mais atento que o banco vem dedicando a esses temas. Em dezembro, o Bradesco emitiu o seu primeiro título atrelado a critérios ESG, por meio de uma Letra Financeira, com prazo de 30 meses.
Segundo o banco, o montante de R$ 1,2 bilhão captado será usado para financiar projetos menos intensivos em carbono, como energia renovável, eficiência energética, transporte limpo e iniciativas de green building.
Antes, em setembro, o Bradesco anunciou sua adesão à Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), entidade internacional que reúne bancos, investidores e gestoras de fundos com o objetivo de criar metodologias para mensurar e divulgar o nível de emissões de carbono dos projetos financiados por seus investimentos.
À parte das questões relacionadas ao ESG, Lazari Jr. também falou sobre os possíveis impactos relacionados ao início das operações do WhatsApp Pay, ferramenta de pagamento do Facebook, realizado ontem, no mercado brasileiro.
“É natural que exista um volume maior de transações por esse canal e também pelo PIX”, afirmou o executivo, acrescentando nesse escopo o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central. “Sabíamos que ia acontecer e isso não nos preocupa sobremaneira.”
Sob essa ótica, o executivo não fez rodeios sobre qual será a resposta do Bradesco diante do possível avanço dessas novas modalidades. “É preciso ter ganhos de escala e aumentar o número de clientes dentro do banco”, afirmou. “É o que o Bradesco vem tentando fazer. Do último trimestre de 2020 para cá, tivemos um crescimento de cerca de 3,5 milhões de clientes.
Resultado trimestral
No primeiro trimestre, o Bradesco superou as estimativas do mercado reportou um lucro líquido recorrente de R$ 6,5 bilhões, alta de 73,6% na comparação com os primeiros três meses de 2020. Já a receita de prestação de serviços recuou 2,6%, para R$ 8,06 bilhões.
No período, a carteira de crédito expandida registrou um salto de 7,6%, para R$ 705,1 bilhões. Já as despesas com provisões de crédito tiveram uma queda de 41,8%, para R$ 3,9 bilhões.
Avaliado em R$ 215,4 bilhões, o Bradesco acumula uma queda de 12,3% na cotação de suas ações em 2021.