Perguntado sobre qual deve ser o próximo projeto vinícola do empresário argentino Alejandro Bulgheroni, o executivo italiano Stefano Capurso é rápido na resposta: “Não me venha com mais uma vinícola.”
Sua fala sai em tom de brincadeira, depois de comentar como é puxada a vida de um CEO de três vinícolas, das seis que Bulgheroni tem na Toscana.
Mas a possibilidade de mais um projeto está sempre presente depois que Bulgheroni descobriu, cerca de 15 anos atrás, o gosto por ter vinícolas e vinhedos e já investiu estimados US$ 1 bilhão nesta área.
Os negócios de Bulgheroni têm origem na exploração de petróleo e gás na Argentina, que herdou do pai e fez crescer. Em 2018, sua empresa se associou a British Petroleum, formando a Pan American Energy, da qual é o chairman do grupo.
Atualmente, Bulgheroni, que é o homem mais rico da Argentina com uma fortuna estimada em US$ 3 bilhões pela revista Forbes, é dono de 15 vinícolas, em destinos tão diversos como Argentina, Uruguai, Itália, França, Estados Unidos e Austrália.
A paixão do empresário argentino pelo vinho começou com a uruguaia Bodegas Garzón, em 2008. Na mesma época, ele se tornou sócio do amigo Carlos Pulenta, dono da vinícola argentina Vistalba, um dos grandes nomes do vinho de Mendonza.
Foi Pulenta que havia lhe sugerido investir em vinhos alguns anos antes. Na época, vale destacar, Bulgheroni não consumia nada alcoólico.
Ele passou a provar brancos e tintos com a vinícola uruguaia. No início do projeto da Garzón, Bulgheroni chamou o enólogo italiano Alberto Antonini para avaliar o potencial da região para os vinhos. Já havia, ao lado, um projeto de azeites, com as oliveiras bem adaptada ao solo e ao clima.
Bulgheroni descobriu, cerca de 15 anos atrás, o gosto por ter vinícolas e vinhedos e já investiu estimados US$ 1 bilhão nesta área
Antonini sugeriu plantar alguns hectares, como experiência. A resposta de Bulgheroni ficou famosa. Disse que ele já tinha mais de 60 anos (atualmente tem 75 anos) e não tinha tempo para experiências.
Assim, o projeto Garzón saiu do zero para chegar, em menos de 15 anos, em 250 hectares de vinhedos. E inaugurou uma nova e promissora região vinícola no Uruguai, bem próximo ao balneário de Punta del Este. Em 2018, a Garzón, foi apontada como a melhor vinícola do Novo Mundo pela revista americana Wine Enthusiast.
Os brasileiros já conhecem bem os rótulos uruguaios. Os brancos, rosados e tintos da Garzón são os mais vendidos do portfólio da importadora World Wine no Brasil. São ao redor de 300 mil garrafas por ano, mais do que rótulos campeões do Chile e da Argentina.
O desafio, agora, é ganhar espaço com outros rótulos. “O que precisamos é que os brasileiros conheçam melhor os nossos vinhos italianos”, afirma Capurso, que estava em São Paulo, depois de um encontro entre os executivos do Alejandro Bulgheroni Family Vineyards, na Bodegas Garzón.
Sob a tutela de Capurso, um enólogo que migrou para a área de marketing e de administração, estão três das seis vinícolas do empresário na Toscana. A primeira é a Diovole, na região de Chianti, focada na sangiovese. Bulgheroni chegou à vinícola pelas suas oliveiras (os azeites são também um ramo do negócio do empresário), mas se surpreendeu com a qualidade dos vinhos.
O segundo projeto é a Podere Brizio, com 11,5 hectares também de sangiovese, em Montalcino, a terra dos grandes brunellos. O mais recente é a Tenuta Meraviglia, com 30 hectares plantados com variedades originárias de Bordeaux, como cabernet franc e cabernet sauvignon, no topo de uma colina na região de Bolgheri. Novata, a Tenuta deve ganhar sua própria vinícola em breve, construída esculpida numa enorme pedreira.
As vinícolas italianas seguem o cultivo orgânico, em um projeto que começou em 2014. Contam com a consultoria do enólogo Alberto Antonini, que trabalha na maioria das vinícolas do grupo.
A consultoria em terroir do chileno Pedro Parra, um dos maiores especialistas em identificar parcelas de vinhedo próprias para vinhos de qualidade, também trabalha para as vinícolas do bilionário argentino. O Maestro di Cava, elaborado apenas com a cabernet franc e trazido na mala pelo executivo para mostrar aos brasileiros, é um exemplo.