Nos últimos anos, várias fintechs surgiram chacoalhando o mercado financeiro com o uso intenso de tecnologia e de dados – ferramentas essenciais para ser mais assertivo ao vender um produto a um cliente. Foi assim que surgiram startups que receberam aportes milionários como, por exemplo, o GuiaBolso.
Diante desse cenário, uma das empresas que mais tem informações financeiras dos brasileiros, o birô de crédito Serasa Experian, começa a fazer de sua startup SerasaConsumidor um canhão com potencial de se tornar um unicórnio – como são chamadas as startups que valem mais de US$ 1 bilhão.
Na próxima semana, segundo o NeoFeed apurou com exclusividade, a empresa lança uma plataforma que vai integrar todos os serviços criados desde o seu lançamento, há cinco anos. E isso muda completamente o jogo, fazendo com que o seu site se torne um hub de serviços financeiros, uma espécie de marketplace para quem busca crédito.
“Os potenciais em termos de negócios são enormes”, diz Silvio Frison, CEO do SerasaConsumidor. “Hoje, criamos um ecossistema que ajuda o consumidor em sua jornada de crédito e isso abre portas para inúmeras oportunidades.” As receitas devem dobrar. Fontes do mercado estimam que o faturamento tenha ficado na casa dos US$ 20 milhões, em 2018, e possa alcançar cerca de US$ 40 milhões até o fim de 2019.
Atualmente, a SerasaConsumidor tem seus serviços espalhados: a consulta de CPF; o Score, que dá uma nota para o bom pagador conseguir taxas de juros mais baixas; o Antifraude, de monitoramento; o eCred, que fornece empréstimos de mais de 30 instituições; e o Limpa Nome, que ajuda na renegociação de dívida.
Ao juntar tudo sob um único guarda-chuva, a companhia pretende ganhar em várias pontas. Ali, por exemplo, a pessoa poderá renegociar suas dívidas no Limpa Nome, plataforma onde já são feitos 15 mil acordos por dia, e já buscar um financiamento no eCred, que conta com uma base de 30 empresas como Itaú, Santander, Creditas, entre outras. É um negócio grande. Desde agosto de 2018, R$ 600 milhões foram negociados na plataforma Limpa Nome, gerando descontos da ordem de R$ 2 bilhões.
Desde agosto de 2018, R$ 600 milhões foram negociados na plataforma Limpa Nome
O eCred pode se beneficiar disso. O serviço compara as taxas de cada instituição financeira e aponta qual é o melhor empréstimo para aquele determinado cliente. Conectando todas as pontas, a SerasaConsumidor fica com uma porcentagem do valor emprestado. Detalhe: 12 mil empréstimos são realizados, em média, por mês.
Outra meta da companhia é fazer com que a base de clientes cadastrados aumente. Até março de 2020, o objetivo é saltar das atuais 34 milhões de pessoas para 42 milhões de clientes. Isso significa mais gente, mais dados, mais dinheiro. Afinal, além das assinaturas, a empresa também passou a faturar com publicidade. “De dois anos para cá, saímos de 4 milhões para 30 milhões de acessos por mês”, diz Matheus Moura, gerente de marketing da SerasaConsumidor.
Para se ter uma ideia, dos cerca de US$ 20 milhões faturados no ano passado, estima-se que 15% vieram da publicidade digital. Além de vender publicidade, a Serasa trabalha em parceria com a Adobe e acaba servindo também os dados para que os anúncios sejam mais assertivos. “Eu sei se a pessoa que entrou na plataforma está negativada, se ele precisa de crédito e que tipo de crédito”, diz Moura.
Vida independente
Para manter a alma inovadora da empresa, as operações são separadas – menos o prédio e o CNPJ. Mas a ideia, segundo o NeoFeed apurou no mercado, é fazer um spin-off. Essa prática está virando mais comum do que se imagina e há casos de muito sucesso no mundo dos negócios de empresas que eram spin-offs e acabaram se tornando maiores do que suas “mães”.
Um dos exemplos mais emblemáticos é o do Grupo Folha. Do jornal, surgiu uma spin-off que deu origem ao portal UOL. Do UOL, surgiu uma outra spin-off que deu origem a empresa de adquirência PagSeguro. Hoje, a PagSeguro tem ações listadas na Bolsa de Nova York e vale mais de US$ 13,2 bilhões. "Cada vez mais, empresas consolidadas estão desenvolvendo programas para criar startups corporativas", diz Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, plataforma de geração de negócios para startups em estágios iniciais.
A base tecnológica da SerasaConsumidor funciona em Blumenau, em Santa Catarina. É ali que uma equipe de 100 pessoas desenvolve todos os produtos. “Dos 100 funcionários, 90 são desenvolvedores”, diz Moura. O que está sendo feito hoje na operação brasileira poderá servir de base para uma futura expansão internacional.
A base tecnológica da SerasaConsumidor funciona em Blumenau, em Santa Catarina
A Experian é uma empresa inglesa com operações em mais de 40 países e, entre eles, estão Argentina, Colômbia, Chile, Peru, entre outros da América Latina. São países que têm um perfil semelhante em termos financeiros e muitas startups nascidas no Brasil estão aproveitando essa característica para ganhar escala.
O Nubank, por exemplo, anunciou recentemente sua chegada a mercados como México e Colômbia a partir do zero. Para a Serasa Consumidor, que tem a controladora espalhada em vários países, seria ainda mais fácil replicar o modelo adotado aqui. Indagado sobre esse processo, Moura desconversa e diz que ainda não há nada concreto.
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