Em abril deste ano, quando a Netflix divulgou seu resultado referente ao primeiro trimestre de 2022, um número, em especial, chamou a atenção do mercado: a perda de 200 mil assinantes, a primeira reportada em toda a história da empresa comandada por Reed Hastings.
Mais que um problema restrito à companhia, a queda acendeu o sinal de alerta para os serviços de streaming e indicou que a reabertura da economia, após dois anos de restrições na pandemia, e a alta da inflação, com seus efeitos no bolso dos consumidores, formam um pacote nada positivo para o setor.
Esse não é, porém, o cenário percebido e projetado pela OnlyFans, plataforma fundada em 2016 na Inglaterra e que ganhou fama e escala ao permitir que criadores compartilhassem conteúdos, em especial, eróticos ou explícitos.
“Não estamos passando por essa desaceleração”, afirmou Keily Blair, diretora de estratégia e de operações da OnlyFans, durante a sua participação na Money 20/20, evento voltado à fintechs realizado nesta semana em Amsterdã, na Holanda.
De acordo com Lee Taylor, CFO da companhia, a OnlyFans tem dois milhões de criadores de conteúdo e cerca de 200 milhões de usuários, sendo que cada usuário tem, em média, quatro assinaturas na plataforma.
Ele também observou que o serviço tem “um modelo de negócios completamente diferente” da Netflix que está “competindo em um mercado muito saturado”, que inclui gigantes de tecnologia, como a Amazon, e de mídia, como a Disney.
O executivo também destacou que, enquanto a Netflix e outras companhias de tecnologia fizeram uma série de demissões recentes, a OnlyFans segue crescendo, com sua equipe crescendo de 2% a 3% por mês. Hoje, a empresa tem mais de mil funcionários.
“Estamos cientes da crise do custo de vida”, afirmou Taylor. “Estamos estruturando uma equipe no Reino Unido para ajudar nossos criadores de conteúdo a maximizarem seus ganhos.”
A participação da empresa em um evento destinado a fintechs encontra uma motivação justamente no fato de que a OnlyFans ganhou popularidade ao se consolidar como uma alternativa para que criadores de conteúdo, em particular, adulto, cobrassem mensalidades pelo acesso às suas produções.
Segundo Taylor, a partir dessa proposta, a plataforma construiu um negócio de pagamentos considerável que, recentemente, processou US$ 18 milhões de pagamentos a criadores em apenas um dia.
Mesmo com uma perspectiva mais favorável, a OnlyFans também passou por alguns desafios recentemente. Em 2021, a empresa enfrentou uma forte reação ao anunciar que iria banir a pornografia da plataforma. Com a resposta negativa, a companhia recuou da decisão meses depois.
“Nós meio que quebramos a internet quando dissemos que mudaríamos nossa política”, afirmou Blair, admitindo que a empresa subestimou a força da sua comunidade de criadores de conteúdo. “Foi um momento desafiador. O que mais me orgulho é a rapidez com que conseguimos reverter isso."
Ao que tudo indica, a OnlyFans não foi bem-sucedida apenas nessa esfera. Um ranking recente do jornal britânico Financial Times aponta que a operação é o quarto negócio que mais cresce na Europa, com uma receita de € 316,7 milhões em 2020.