A mudança de hábito dos consumidores colocou duas gigantes – Walmart e McDonald’s – sob holofotes do mercado americano por motivos opostos e razões iguais.

O Walmart, que divulgará seu resultado em 16 de agosto, fez barulho ao informar a perspectiva de queda no lucro por ação de 8% a 9% no segundo trimestre e de 11% a 13% no ano.

O McDonald’s, por sua vez, divulgou, nesta terça-feira, 26 de julho, lucro trimestral acima das expectativas do mercado e informou que as vendas globais aumentaram quase 10% no segundo trimestre, ante estimativa de alta de 6,5%. O lucro por ação no período foi de US$ 2,55, ante expectativa de US$ 2,46.

Os sinais invertidos de dois ícones do capitalismo americano têm uma mesma razão: a inflação, que está mudando os hábitos de consumo.

De um lado, os consumidores americanos estão cortando gastos considerados desnecessários, como vestuários e produtos eletrônicos, o que impacta o Walmart. Por outro, estão optando por gastar suas economias em alimentos, incluindo fast food – boa notícia para o McDonald´s.

As ações do Walmart caíram quase 10% no after market após a varejista divulgar que estava mais uma vez cortando o seu guidance – um tombo de US$ 36 bilhões no valor do mercado da companhia, agora avaliada em US$ 333 bilhões. Quando o mercado abriu, os papéis caem quase 8% na Bolsa de Nova York, arrastando os rivais Amazon e Target.

As ações do McDonald´s, em contraposição, seguem na direção oposta e sobem 2,6%, refletindo outros bons indicadores do balanço da dona do Big Mac.

A receita totalizou US$ 5,72 bilhões, ante projeção de mercado de US$ 5,83 bilhões. A queda é atribuída a saída da rede de fast food do território russo. Nos mercados internacionais, o McDonald’s registrou aumento de 13% nas vendas, lideradas pela França e Alemanha.

Outro fator é que empresas com o McDonald´s, mas também Coca-Cola, Dove e Huggies estão conseguindo aumentar seus preços à medida que seus custos aumentam. Até agora, parece que essa abordagem não está afetando a demanda.

O McDonald's informou que as ofertas com preços mais altos aumentaram as vendas nas mesmas lojas do segundo trimestre em 3,7% nos EUA em comparação com o mesmo período do ano passado “É uma situação desafiadora”, disse Chris Kempczinski, CEO da empresa.

Apesar disso, inflação alta não é uma boa notícia para nenhuma empresa. Nos Estados Unidos, ela está no patamar de 9,1%, anualizada até junho. E reforça a expectativa de que o Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, deverá anunciar nesta quarta-feira, 27 de julho, mais um aumento de juro de 0,75 ponto percentual, elevando a taxa básica ao intervalo de 2,25% a 2,50%.

A consequência de mais um avanço no aperto monetário é atividade em desaceleração que deverá chegar, mais cedo ou mais tarde, ao mercado de trabalho e coibir ainda mais os gastos com consumo.

Não à toa, a confiança do consumidor nos EUA caiu pelo terceiro mês consecutivo em julho, como anunciado nesta terça-feira pelo The Conference Board.

A queda da confiança foi impulsionada sobretudo por um declínio no Índice da Situação Atual, um sinal de que o crescimento da economia desacelerou no início deste terceiro trimestre. Preocupações com a inflação – aumento dos preços do gás e dos alimentos em particular – continuaram a pesar sobre os consumidores, informou o órgão.

Além da revisão para baixo das projeções para o crescimento global e regional anunciada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A Moody’s reduziu na segunda-feira à noite suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA e avaliou que o aperto monetário não deverá, porém, empurrar o país para uma recessão.

A estimativa de expansão da Moody’s para o PIB dos EUA desde ano caiu de 2,8% para 2,1% e, para 2023, de 2,3% para 1,3%. A agência de classificação de risco de crédito prevê também que a taxa de desemprego norte-americana devera subir de 3,6% para 4% no ano que vem.