Criada em 2015, a partir da fusão entre os grupos Kraft Food e Heinz, a americana Kraft Heinz é mais uma das companhias que nasceu com grandes ambições e que, há tempos, vem colocando em xeque o modelo de gestão proposto pelo bilionário Jorge Paulo Lemann e o fundo 3G Capital, arquitetos do negócio e controladores da empresa, ao lado da Berkshire Hathaway, gestora do também bilionário Warren Buffett.
Sob esse contexto, a empresa de alimentos anunciou nesta terça-feira, 15 de setembro, um novo movimento de reestruturação. A estratégia envolve, entre outras medidas, o plano de cortar US$ 2 bilhões em custos no prazo de cinco anos, em linha com os esforços realizados no início da operação.
À frente da companhia desde meados de 2019, o luso-brasileiro Miguel Patricio destacou, no entanto, em entrevista do The Wall Street Journal, que os novos cortes serão feitos de forma mais estratégica do que aqueles feitos por seus antecessores, quando as marcas do grupo perderam bilhões de dólares em valor.
“No passado, tomamos decisões muito de curto prazo”, afirmou Patricio, ao jornal americano. “Estamos mudando essa mentalidade”, acrescentou o CEO da Kraft Heinz.
A decisão tem como pano de fundo um cenário que foi reforçado pela Covid-19. Na esteira da pandemia, a companhia registrou um crescimento mais robusto nas vendas nos últimos seis meses quando comparado ao avanço registrado nos últimos anos. Entretanto, analistas apontam que a Kraft Heinz perdeu mercado para marcas com preços mais acessíveis.
No segundo trimestre, a Kraft Heinz reportou um crescimento de 3,8% em sua receita líquida, para US$ 6,65 bilhões. No período, no entanto, a empresa registrou um prejuízo de US$ 1,65 bilhão, contra um lucro líquido de US$ 449 milhões, um ano antes.
Em comunicado divulgado hoje, a empresa destacou que o corte de US$ 2 bilhões será usado para alimentar e apoiar as iniciativas de crescimento da empresa. Entre elas, a ampliação dos gastos com publicidade e marketing em 30%. A economia para acelerar essa e outras frentes virá da integração e da busca por maior eficiência em áreas como manufatura, compras e logística.
O novo plano tem outras quatro vertentes. Entre elas, a organização do portfólio de mais de 55 categorias individuais em seis plataformas, agrupadas de acordo com as necessidades dos consumidores.
Sob a ótica de investir em um pacote mais saudável e em linha com as tendências atuais de consumo, a empresa também promoveu o corte de mais de 1,1 mil produtos nos últimos meses. Nessa direção, carros-chefe, como o ketchup, também terão cada vez menos ingredientes processados.
No segundo trimestre, a Kraft Heinz registrou um prejuízo de US$ 1,65 bilhão, contra um lucro líquido de US$ 449 milhões, um ano antes
Outra iniciativa anunciada foi um acordo para vender os negócios de queijos para a subsidiária americana do grupo francês Lactalis. Segundo a Kraft Heinz, os termos da transação envolvem um valor de US$ 3,2 bilhões e a expectativa é de que o negócio seja concluído no primeiro semestre de 2021. A divisão em questão foi responsável por uma receita de US$ 1,8 bilhão nos 12 meses encerrados em junho.
Com essas e outras medidas, a Kraft Heinz informou que espera um crescimento das vendas, no longo prazo, de 1% a 2%, ante uma queda na receita de 1,7%, em 2019. Já para o terceiro trimestre, a projeção de avanço nessa frente é de 4% a 6%.
“Estou extremamente confiante de que desbloquear o poder de escala com agilidade, combinado com nosso novo modelo operacional, levará a Kraft Heinz de volta ao crescimento consistente e sustentável”, afirmou Patricio, no comunicado.
As ações da companhia, que acumulam uma valorização inferior a 1% no ano, estavam sendo negociadas com alta de 1,47% na Nasdaq, por volta das 13h (horário local).
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