Durante sete anos, a área de saúde foi o foco de Manoela Mitchell em fundos como Temasek e Actis. E foi justamente no setor que ela decidiu empreender, em 2019. Na época, em suas palavras, as healthtechs estavam deixando de serem vistas como os “patinhos feios” pelos investidores.
Dois anos depois, as startups de saúde estão comprovando a tese da, agora, empreendedora. E a Pipo Saúde, fundada por Manoela, Thiago Torres e Vinicius Correa, é mais um exemplo para reforçar a boa forma dessas empresas na atração de investimentos.
Corretora digital de contratação e gestão de planos e benefícios de saúde por clientes empresariais, a startup anuncia nesta quarta-feira, de 28 de julho, um aporte de R$ 100 milhões, liderado pela gestora americana Thrive Capital e que também marca a entrada do fundo brasileiro Atlântico, dos mesmos fundadores da Canary, na operação.
A lista inclui ainda Hans Tung, sócio do fundo GGV Capital; Florian Otto, CEO da Cedar, unicórnio americano de saúde e ex-CEO do Groupon no Brasil; e Henrique Loyola, ex-sócio da XP. Também acompanham a rodada os fundos Monashees, Kaszek e OneVC, além de David Vélez, fundador do Nubank, que já investiam na empresa.
“O Thrive traz um know-how de saúde digital que nenhum outro fundo no mundo tem e a o Atlântico nos dá mais profundidade no ecossistema brasileiro”, diz Manoela, cofundadora e CEO da Pipo Saúde, ao NeoFeed. “E também temos investidores empreendedores, que já estiveram nas ‘trincheiras’”.
No caso da Pipo Saúde, são três as trincheiras de atuação, todas elas baseadas em um grande volume de dados. A primeira é a identificação dos planos de saúde, odontológicos e dos demais benefícios mais adequados a cada empresa, com a opção de adaptá-los aos diferentes perfis de funcionários.
Em um exemplo dessa proposta, se uma determinada região onde a empresa tem funcionários a rede credenciada traz poucas opções de atendimento, a healthtech identifica, recomenda e complementa essa cobertura com serviços de telemedicina, para aquele grupo específico de funcionários.
O segundo pilar é uma plataforma que digitaliza a gestão desses benefícios para os departamentos de RH. Já a terceira frente gera uma série de insights e permite que essas áreas tenham uma visão ampla de como esses benefícios estão sendo usados e de como reduzir custos nesses processos.
Nesse modelo, a Pipo Saúde é remunerada por comissões mensais pagas pelas operadoras dos planos de saúde, com base no número de vidas sob gestão. Com nomes como MadeiraMadeira, Buser e Funcional, hoje, a carteira da startup tem cerca de 100 empresas clientes e 15 mil vidas sob gestão.
“Nós crescemos muito essa base nos últimos meses e não precisávamos, de fato, desse investimento agora”, explica Manoela. “Mas vimos no aporte a oportunidade de aprofundar o nosso modelo e diferenciar ainda mais os nossos serviços.”
Nessa linha, um dos focos é aprimorar o @meajuda, concierge de saúde que reúne especialistas voltados ao atendimento dos usuários dos benefícios. E que também analisa dos dados de cada empresa e desenvolve ações educativas, de prevenção e de controle de custos.
Além de dobrar esse time, formado atualmente por 12 profissionais, o plano é reforçar os investimentos em digitalização de novos processos no serviço. Os recursos também serão aplicados para triplicar as áreas de tecnologia e produto, compostas atualmente por 30 pessoas, nos próximos 12 meses.
Nesse mesmo intervalo, a Pipo Saúde quer dobrar seu quadro total para 200 funcionários. As equipes de marketing e de vendas serão outro destaque nessa ampliação.
“Atendemos um mix grande de empresas mais tecnológicas”, diz Manoela, destacando a projeção de dobrar o número de vidas sob gestão até o fim do ano. “Nosso sweet spot são clientes com 30 a 2,5 mil funcionários, mas temos conseguido atender cada vez mais as empresas tradicionais e de grande porte.”
Diretor de inteligência de mercado da Liga Ventures, Raphael Augusto destaca justamente que o modelo proposto pela Pipo Saúde tem bastante potencial no mercado brasileiro, com boas oportunidades no atendimento às demandas por eficiência de empresas de grande porte.
“Essa abordagem é um caminho interessante, especialmente pelo fato de que, no Brasil, o plano de saúde é visto como um benefício para aceitar ou não um emprego”, diz. “Há um bom mercado a ser desenvolvido nesse espaço.”
Além da Pipo Saúde, uma das startups que exploram a gestão de planos de saúde corporativos em seu portfólio é a Vitta, adquirida em maio de 2020 pela Stone, em uma transação cujo valor não foi revelado.
Boa parte das ofertas no segmento, no entanto, está mais concentrada na oferta direta de planos de saúde, em novos formatos, contratados pelas empresas ou diretamente pelos usuários. Nesse contexto, destacam-se healthtechs como a Sami e a Alice.