O anúncio feito pela Tesla, do bilionário Elon Musk, de que fará um robô com características humanas para desempenhar “tarefas chatas” e repetitivas, foi recebido com desconfiança até mesmo por quem é otimista com o futuro da companhia de veículos elétricos.
Para o experiente analista Dan Ives - da Wedbush, gestora que está entre as instituições que mais enxergam uma potencial valorização das ações da Tesla - o movimento da empresa é difícil de entender e mais parece uma tentativa de “distração”, em meio a tantos outros desafios de curto prazo que a companhia tem, como enfrentar questões de segurança para veículos autônomos.
"Embora apreciemos a visão de tecnologia de longo prazo de Musk, um robô da Tesla não é o que os investidores querem ver, mas, sim, muito mais foco em questões como (a escassez de) chips, veículos autônomos e em reacelerar a demanda chinesa por veículos elétricos, um mercado chave, em um momento crítico", disse o analista, em um relatório distribuído a clientes nesta sexta-feira, citado pelo site americano Business Insider.
O anúncio da companhia foi feito na noite de quinta-feira, 19. Na ocasião, Musk apresentou ao mercado o Tesla Bot, um robô humanoide que pretende assumir funções que os humanos desempenham no dia a dia, consideradas chatas, repetitivas e perigosas. “Essencialmente, no futuro, o trabalho físico será uma escolha”, ele disse.
Uma versão preliminar do robô foi exposta no evento e Musk afirmou que um protótipo deverá estar pronto no próximo ano.
Ives, da Wedbush, reconhece que o anúncio deve “agitar” o mercado, mas alerta que o movimento não tem relação nenhuma com problemas mais urgentes que precisam ser solucionados. "As questões de segurança na direção autônoma continuam sendo uma preocupação para os investidores, que ganharam fôlego nesta semana, representando outra queda para as ações."
O analista se refere a uma investigação aberta nesta semana pelo governo dos Estados Unidos contra a Tesla, a respeito de acidentes envolvendo a tecnologia de direção assistida da companhia, o sistema Autopilot, em meio a acusações de que a montadora usou softwares não testados em estradas públicas.
A investigação, que teve início no último dia 13 e foi anunciada ao mercado na segunda-feira, dia 16 de agosto, envolve 11 colisões com carros da Tesla, com 17 feridos e uma morte.
A apuração abrange todos veículos da Tesla que foram vendidos nos Estados Unidos nos últimos anos, ou cerca de 765 mil carros, de acordo com a Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário (NHTSA, na sigla em inglês).
O regulador informou que vários modelos da Tesla “encontraram cenas de primeiros socorros e, subsequentemente, atingiram um ou mais veículos envolvidos nessas cenas”.
Na segunda, as ações da Tesla, avaliada em US$ 669 bilhões, caíram quase 5%, mas, desde então, a companhia já recuperou parte das perdas. Nesta sexta-feira, os papéis negociados na Nasdaq subiam 0,42%, por volta das 12h30, para US$ 676,72. A Wedbush, de Dan Ives, estima que o preço-alvo da companhia é de US$ 1000.