O grupo de medicina diagnóstica Sabin está criando o Rita, um centro de saúde digital que começa oferecendo os serviços da companhia, mas que vai evoluir para um marketplace com outros laboratórios, médicos para consultas via telemedicina e farmácias que vão oferecer medicamentos com descontos.
A iniciativa do grupo fundado em Brasília em 1984, que fatura R$ 1,2 bilhão, está presente em 12 Estados mais o Distrito Federal e conta com 296 unidades em 53 cidades brasileiras, ilustra a transformação radical pela qual está passando o setor de saúde em meio a pandemia do novo coronavírus.
“O setor de saúde está passando por muitas mudanças e a tendência da transformação digital está afetando nosso negócio e os nossos serviços”, disse Lídia Abdalla, presidente do grupo Sabin, com exclusividade ao NeoFeed. “A pandemia acelerou de forma abrupta essa tendência.”
A healthtech Rita nasce com 60 mil clientes do cartão de saúde do Sabin, um projeto que oferece exames com preços menores e com descontos para pessoas que não têm plano de saúde. Mas o centro de saúde digital tem potencial de chegar a mais de 1 milhão de clientes dos quase 6 milhões que o Sabin atende anualmente em suas unidades físicas. A plataforma digital pode gerar uma receita adicional de até R$ 100 milhões entre dois anos e cinco anos, segundo estimativas da empresa.
O objetivo do Sabin, com o Rita, é atender indivíduos sem planos de saúde. No Brasil, 47,6 milhões de pessoas tinham um plano de saúde em dezembro de 2020, número quase três milhões inferior a de 2014, quando 50,5 milhões de brasileiros contavam com esse tipo de assistência, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O foco, neste momento, é atender apenas as pessoas físicas com o Rita.
O serviço estreia nesta segunda-feira, 15 de março, a partir de Brasília – depois chegará as outras regiões em que o Sabin atua. O consumidor precisará criar uma conta no aplicativo ou no site do Rita. A partir daí, escolherá os serviços que quer comprar e agendar atendimento em uma unidade física. São mais de 3,5 mil opções de produtos e serviços de análises clínicas, diagnósticos por imagem, vacinação e check-up executivo.
O centro de saúde digital oferecerá também o serviço de telemedicina. Nesse momento, serão 12 médicos de diferentes especialidades do próprio grupo Sabin. Mas a ideia é abrir o serviço para outros profissionais. “Queremos oferecer um modelo de saúde coordenado ao paciente com o apoio da telemedicina”, afirma Abdalla.
Em um segundo momento, laboratórios em locais onde o Sabin não tem presença física também serão aceitos na plataforma, assim como farmácias para venda de medicamentos com descontos. Nesses casos, o grupo de medicina diagnóstica ganhará uma comissão pela transação. “Não seremos um plano de saúde e não teremos hospitais”, diz Abdalla. “Vamos nos concentrar no atendimento primário e secundário ao paciente.”
O consumidor poderá ainda criar uma conta digital para manter créditos que podem ser usados no futuro em exames ou serviços de telemedicina. Nesse caso, o grupo Sabin está finalizando acordo com uma fintech que tenha o modelo de “banking as a service” para oferecer o serviço – o nome da empresa não foi revelado.
O grupo Sabin quer contar também com a modalidade de “crowdfunding", na qual pessoas físicas ou até mesmo empresas podem doar créditos para que pessoas de baixa renda possam utilizar o Rita e fazer exames e teleconsultas. “Esse será um dos diferenciais do Rita”, afirma Abdalla.
A chegada do Rita acontece em um momento em que as empresas da área de saúde estão pressionadas por conta da Covid-19, bem como para acelerar seu processo de transformação digital.
O Fleury, um dos concorrentes do Sabin, lançou o Saúde iD, em setembro do ano passado, um marketplace que busca ser um “one-stop-shop” de serviços de saúde, em um esforço de expandir os negócios do grupo para além de seu core, a realização de exames de medicina diagnóstica.
O Saúde iD já nasceu com mais de 7 milhões de usuários. A plataforma incluiu desde operadoras de saúde, serviços para empresas e pessoas físicas até telemedicina. O modelo de remuneração varia de um fee por vida para operadoras e empresas que contratarem a plataforma para seus segurados e até uma comissão no caso de algumas transações conforme novos serviços são agregados.
Em fevereiro deste ano, o Saúde iD, que conta com um CEO a parte para tocar a operação, o médico Eduardo Oliveira, lançou seu serviço para pessoas físicas no modelo de assinatura, que dá direito a consultas online e presencial, bem como a exames de rotina.
“O Rita é algo parecido, mas, além da plataforma marketplace, estamos olhando para o cuidado coordenado de saúde, pensando em fazer, de fato, um acompanhamento da jornada toda do paciente”, afirma Abdalla, que tem liderado uma série de iniciativas digitais do Sabin nos últimos anos. Algumas delas com o próprio Fleury.
Em 2020, por exemplo, a companhia criou, em conjunto com o Fleury, o Kortex Venture, um fundo de corporate venture, com R$ 200 milhões, para investir em startups. “Entendemos que poderíamos ser colaborativos nesse projeto”, diz Abdalla. “Com isso, queremos ganhar velocidade e rapidez nas nossas outras iniciativas de inovação.”
O laboratório de medicina diagnóstica, no entanto, já aposta em startups há mais de três anos. Em 2018, fez um investimento de US$ 1 milhão na Qure, incubadora israelense de saúde digital, ligada ao fundo OurCrowd. No ano passado, o Sabin também aportou recursos do We Ventures, projeto da Microsoft que investe em startups fundadas e lideradas por mulheres.
A companhia fez também uma série de investimentos diretos em alguma startups. Entre elas, a Prontmed, de prontuários médicos, na qual detém uma fatia de 12% (o Fleury é também acionista da empresa); e a bem.care, novata que disponibiliza serviços por assinatura nas categorias de consultas e exames, saúde e bem-estar, saúde emocional, seguros e medicamentos.
A maior aposta do Sabin, no entanto, é na Amparo Saúde, da qual detém uma fatia de 30% - a empresa conta também com o médico José Luiz Setúbal, da família controladora do Itaú Unibanco e dono do Hospital Infantil Sabará, na base de acionistas.
Focada no atendimento primário para operadoras de saúdes e para empresas, no modelo de autogestão, a Amparo Saúde deu um salto gigante no número de vidas atendidas. Antes da pandemia, tinha 45 mil vidas. Agora, são 2,1 milhões. Tudo isso por conta da telemedicina, que permitiu esse crescimento exponencial.
“Temos um alinhamento cultural com o grupo Sabin”, diz Emilio Puschmann, fundador e CEO da Amparo Saúde. “Eles têm um jeito de agir muito pragmático. Nem parecem que são uma grande corporação, com mais de R$ 1 bilhão de receita.”
Puschmann diz que a Amparo, que tem também clínicas de atendimento primário em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal, analisará se fará parte do Rita quando ele estiver aberto para terceiros. “Podemos participar em algum momento”, afirma o empreendedor.
No começo deste ano, o Sabin também conseguiu colocar em prática um projeto que ficou paralisado por conta da pandemia. Trata-se do SkyHub.bio, um hub de inovação no estilo de Cubo ou de Inovabra, um espaço físico para conectar startups, profissionais acadêmicos, empresas e investidores localizado em sua sede em Brasília. As primeiras empresas acabam de ser selecionadas. São elas Oya Care, GlucoGear, WeCare, Bludworks, PickCells, Arvorah e Overmind.
Em tempo: o nome Rita foi escolhido por ser comum a tantas mulheres brasileiras, mas também para homenagear a Rita Lobato, a primeira médica a se formar no Brasil, em 1887, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Hoje, o Sabin tem um time de 5,6 mil pessoas, sendo 77% delas mulheres.