Poucas áreas são tão cheias de regras como a arte de tomar um vinho. Aliás, tomar não. Degustar, seria o verbo apropriado. Há normas para quase tudo, desde como pegar o copo (ops, a taça) até a temperatura ideal para servi-lo e a comida correta para combinar (não, harmonizar) com a bebida.
Mas há uma tendência que começa a ganhar corpo, em especial entre o público mais jovem, que deixa de lado todo esse ritual. São os vinhos em lata, cujas vendas estão crescendo no Brasil e no mundo.
Até 2025, a venda de vinho em lata deve superar a casa dos US$ 4,5 bilhões apenas nos Estados Unidos, segundo previsão da consultoria inglesa Wine Intelligence. Seu consumo é forte também em mercados como o inglês e o australiano. No Brasil, apesar de pequeno, o consumo de vinho em lata é considerado bastante promissor.
Em seu primeiro ano de atividade, somente a Vivant vendeu 40% mais do que o previsto. “Nossa estimativa era comercializar entre 100 mil e 110 mil latinhas, mas chegamos a 150 mil em 2019”, conta Alex Homburger, um dos três sócios da empresa. Agora em 2020, a previsão é vender entre 800 mil e 1 milhão de latinhas.
O sucesso desta nova categoria de vinho se deve ao público jovem, que apoia a ideia de provar um branco, um rosé, um tinto e até um espumante sem tanta formalidade e até mesmo não dispensa algumas vezes um canudinho. Numa festa, numa balada ou numa situação de consumo mais descompromissada, nada como não ter de segurar a taça ou a garrafa o tempo todo.
“Tenho certeza que esta será uma categoria relevante”, afirma Karene Vilela, sócia da importadora Portuscale e uma das primeiras a apostar no sucesso deste produto no começo de 2019. Somente no ano passado, ela vendeu 6 mil latinhas, entre os clientes da importadora e para os participantes das festas “Got Wine”, que ela promove com sócios em datas específicas.
Ainda segundo a Wine Intelligence, entre as tendências dos próximos anos estão os novos formatos de embalagem para o vinho. Rótulos mais criativos, embalagens reutilizáveis e rolhas com emissão zero de carbono estão neste radar, mas o vinho em lata é o que melhor endossa esta tendência.
“Um dos nossos maiores mercados é a ilha de Fernando de Noronha, onde a questão da sustentabilidade e da reciclagem é muito valorizada”, afirma Carlos Valentim, winehunter da importadora Plural Bebidas.
A Plural foi uma das primeiras a trazer o vinho em lata para o Brasil, em 2018, com a marca Barokes. Optou por importar a bebida da Austrália, hoje vendida entre R$ 14 e R$ 20 a latinha.
O maior desafio do vinho em lata é o seu envase. Pela acidez da bebida, é necessário que a lata tenha uma película protetora interna para evitar a oxidação.
“Quando começamos a estudar este mercado, não havia tecnologia para isso”, conta Priscila Simon. Junto com a sócia Raquel Scherer, elas demoraram quase três anos para desenvolverem o vinho Bliss, lançado em outubro de 2019, nas versões branco, feito com a uva chardonnay, e rosé, com a pinot noir.
O mesmo desafio encontrou Alex Homburger, da Vivant, antes de lançar os seus três vinhos (um branco, um rosado e um tinto) em janeiro de 2019. Do montante inicial de R$ 250 mil, os três sócios da Vivant agora vão investir mais R$ 2 milhões para aumentar a capacidade produtiva, a equipe e a verba de marketing.
“Agora é desenvolver o mercado, inclusive com novos vinhos”, afirma ele. Ou seja, vinho em lata: com certeza você ainda vai provar.