No início de março deste ano, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) ganhou a oportunidade de destravar seu valor no mercado de capitais ao oficializar sua separação do Assaí. Desde então, o caminho para concretizar o plano de mostrar resultado aos investidores vem se mostrando tortuoso.
Há três semanas, o GPA deu um novo passo para virar essa página ao anunciar a venda de 71 lojas do Extra Hiper ao Assaí, por R$ 5,2 bilhões, e abandonar o pouco rentável formato de hipermercados. Agora, mais leve, o grupo já traça os planos para entregar, enfim, o que se espera da operação.
“Esse foi a transação mais transformadora que o GPA realizou em sua história recente”, afirmou, nesta quinta-feira, Jorge Faiçal, CEO do GPA, a analistas. “O que fica são os formatos com mix de margem mais rico e uma estrutura mais enxuta, que vai nos permitir ter muito mais foco nos fundamentos do varejo.”
A partir dos recursos injetados no caixa com a transação dos hipermercados, um dos pilares será a marca Pão de Açúcar. Nessa bandeira, o grupo anunciou hoje uma nova meta de expansão, com a projeção de inaugurar 100 lojas até 2024. Até então, a previsão era abrir 50 unidades até 2023.
“Dessas 100 lojas, já temos 14 aprovadas e outras 14 conversões dos hipermercados restantes”, disse Faiçal. As próximas inaugurações da marca envolvem uma unidade em Limeira, interior de São Paulo, ainda nesse ano, e outra na capital paulista, no início de 2022.
“Vamos recuperar nosso tamanho atual em três anos, mas de forma muito mais rentável”, observou o executivo. Atualmente, levando-se em conta todas as suas bandeiras e formatos, o GPA tem uma rede de 697 pontos-de-venda.
Faiçal também anunciou o plano de converter todas as unidades do Pão de Açúcar para o modelo G7, até o fim de 2022. O formato envolve uma loja conceito, com destaque para produtos frescos e forte integração com os canais digitais. Hoje, das 181 lojas Pão de Açúcar, 47 já operam sob esse desenho.
Um segundo foco do que Faiçal chama de “novo GPA” são as lojas de proximidade. Além da meta de inaugurar 100 unidades nesse segmento até 2023, o executivo destacou a Pão de Açúcar Fresh, bandeira lançada em outubro, com foco em hortifruti, perecíveis, carnes e peixes, entre outros itens.
O novo formato envolve lojas de tamanho intermediário, de 400 a 700 metros quadrados. A primeira delas foi inaugurada em São Caetano do Sul (SP) e a próxima a abrir as portas, ainda nesse ano, será em São Paulo.
“Temos muita confiança e convicção nesse novo formato, que é feito para atender bairros expandidos e concorrer com redes de hortifruti e sacolões”, afirmou. “É um modelo com alto potencial de replicação e que pode gerar outra centena de lojas do grupo no futuro.”
A terceira frente de apostas do GPA sob essa nova estrutura é o digital, área na qual o grupo registrou um GMV de R$ 475 milhões no terceiro trimestre de 2021, alta de 46% na comparação anual.
“Se fizermos uma projeção anual, estamos falando de um negócio que já beira a marca de R$ 2 bilhões e no qual ainda somos early stage”, disse o executivo. “Estamos falando de um mercado endereçável atual no varejo alimentar de R$ 7 bilhões e que, segundo nossas estimativas, será de R$ 45 bilhões em cinco anos.”
Entre os avanços recentes relacionados ao digital, ele citou os lançamentos da opção de entregas aos domingos, do clique e retire em até uma hora e o início das vendas por WhatsApp. Essa última iniciativa ainda está em fase de projeto-piloto, mas deve ganhar escala a partir do primeiro trimestre de 2022.
Outro ponto ressaltado foi o lançamento recente da oferta de fulfilment para os sellers do marketplace do grupo, por meio da GPA Log. Bem como de uma plataforma de retail as a service, na qual o GPA responde pelo estoque, a separação de pedidos e pela logística. O primeiro parceiro nesse modelo é o aplicativo HomeRefill.
Modo de "liquidação de estoques"
Em paralelo a esses movimentos, o GPA projeta entregar todas as lojas ao Assaí até meados de janeiro e concluir todo o processo de transição até o fim do primeiro trimestre de 2022. Até lá, as unidades nesse formato irão operar em modo de “liquidação de estoques”, aproveitando a Black Friday e o Natal.
“Teremos um final de ano de saldão nos hipermercados”, afirmou Faiçal. “Os outros formatos também terão promoções fortes no período. Já para 2022, estamos cautelosos. Com o cenário macroeconômico ainda muito volátil, é difícil fazer qualquer tipo de projeção.”
O cenário de pressão inflacionária e alto índice de desemprego foi justamente um dos fatores apontados pelo GPA para justificar o desempenho fraco registrado pela operação no terceiro trimestre de 2021.
Entre julho e setembro, o grupo reportou um prejuízo de R$ 89 milhões, contra um lucro líquido de R$ 386 milhões, em igual período, há um ano. A receita líquida cresceu apenas 0,2%, para R$ 12,08 bilhões.
A operação brasileira teve maior influência negativa no resultado do trimestre, com um recuo de 5% na receita liquida, para R$ 6,39 bilhões. Já as operações da Colômbia, Argentina e Uruguai registraram um crescimento de 6,6% no indicador, para R$ 5,67 bilhões.
Dando sequência ao histórico desafiador do GPA, o mercado não reagiu bem a esses e outros números. As ações da companhia estavam sendo negociadas a R$ 23,68, queda de 4,52%, por volta das 13h. A empresa está avaliada em R$ 6,3 bilhões.