Em muitos momentos do nosso dia a dia recebemos diversas mensagens de veículos de comunicação, amigos e parentes sobre temas ligado ao agro brasileiro. Precisamos olhar um pouco para trás e entender o tamanho da oportunidade que temos em dar o peso e o olhar justo e correto para ampliarmos a pegada sustentável do agro brasileiro no mundo.
A trajetória recente da agricultura brasileira é resultado de uma combinação de fatores. O cenário para isto é um país com abundância de recursos naturais, com extensas áreas agricultáveis e disponibilidade de água, calor e luz, elementos fundamentais para a vida.
Mas o que fez a diferença nestes últimos 50 anos foram os investimentos em pesquisa agrícola - que trouxe avanços nas ciências, tecnologias adequadas e inovações -, a assertividade de políticas públicas e a competência dos agricultores. De forma nacional, essa grande responsável é a EMBRAPA.
Nos últimos 40 anos, o Brasil saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo. Foram conquistados aumentos significativos na produção e na produtividade agropecuárias. Inclusive, o preço da cesta básica seria ainda mais elevado se o país não tivesse se tornado um dos principais players do agronegócio mundial. Hoje, se produz mais em cada hectare de terra, aspecto importantíssimo para a preservação dos recursos naturais.
Precisamos investir muito mais em tecnologias sustentáveis, que impactam positivamente nosso agro brasileiro. Listo aqui três tendências que têm esse potencial atualmente e contam com o envolvimento da Embrapa:
1 - Biotecnologia
O Brasil é o maior produtor e usuário de agentes de biocontrole do mundo, com estratégias de sucesso fomentadas ao longo de décadas por mão de obra nacional de altíssima qualidade.
Essa expertise adquirida na prática fez o Brasil validar as diretrizes para a agricultura tropical e se tornar o maior fornecedor das commodities mais importantes, como café, soja, cana-de-açúcar e laranja.
Em 2021/2022, foi produzido em solo nacional 656 milhões de toneladas de cana-de-açúcar (40% da produção mundial); 127 milhões de toneladas de soja (38% da produção mundial); 116,5 milhões de toneladas de milho (11% da produção mundial); 50 milhões de sacas (de 60 kg) de café (33% da produção mundial), entre outras importantes culturas alimentícias, segundo o Agrianual, de 2022.
Essas commodities são produzidas o ano todo, com duas ou até três safras anuais, o que pode ser visto inicialmente como uma vantagem competitiva. No entanto, devido ao nosso clima, o surgimento de populações de pragas resistentes é frequentemente relatado por quem está no campo.
O resultado é que o número de produtos biológicos registrados no Brasil passou de 1, em 2005, para 482 registrados em fevereiro de 2023. Atualmente, para cada doença de planta relevante, como a ferrugem asiática da soja, a ferrugem do cafeeiro e o mofo-branco, já existe pelo menos um produto de biocontrole registrado.
Nesse contexto, a preservação dos agroecossistemas é uma exigência cada vez maior dos mercados e o controle biológico é uma tecnologia que possibilita a produção sustentável.
2 - Biogás
Produzido a partir da decomposição de matéria orgânica (mais especificamente, lixo comum e resíduos da agropecuária), o biogás é considerado uma matriz energética limpa que pode descarbonizar uma série de indústrias. Na forma de biometano (biogás com altos níveis de pureza), substitui o diesel e o gás natural, além de ser usado para a produção de eletricidade.
Atualmente, o Brasil ocupa o 9º lugar no ranking dos países que mais produzem energia através do biogás, atrás de Tailândia, França e Alemanha, que é a líder. Mas, com o setor do agronegócio dando as cartas na economia nacional, esse cenário promete mudar rapidamente. A capacidade de investimento das usinas já vem colocando o agronegócio na linha de frente da produção de biogás no Brasil e deve crescer ainda mais. Com isso, a expectativa é de um maior ganho de escala nos próximos anos, o que deverá gerar um fôlego novo para o segmento.
Em 2022, pelo menos 56 plantas foram instaladas ou reformadas, somadas a 755 já existentes, e a produção alcançou 2,8 bilhões de metros cúbicos, um crescimento de 21,3% em relação a 2021. Os dados são da CIBiogás, centro internacional de energias renováveis, instituição de ciência e tecnologia, em formato de associação, dedicada ao desenvolvimento do biogás. Até 2030, devem ser ofertados 30 milhões de metros cúbicos do gás natural renovável por dia, equivalentes a 11 bilhões de metros cúbicos por ano, de acordo com estimativas da CBIogás. As maiores apostas estão nos resíduos da indústria sucroalcooleira e nos aterros sanitários, que podem transformar o metano da decomposição do lixo em uma fonte energética.
O mercado está de olho também em um subproduto importante do biogás, o CO2, cujas fontes atualmente são os derivados de petróleo, utilizado pela indústria de alimentos e bebidas, siderúrgica e hospitais. O CO2 é liberado durante o processo de purificação do biogás e pode ser armazenado para comercialização. Outra frente é produção de hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro. Rico em metano e dióxido de carbono, o biogás pode ser transformado em hidrogênio verde por meio de processos de tratamento e purificação.
A produção do novo combustível deve chegar a 13 milhões de toneladas até 2040 no Brasil. Em 20 anos, esse mercado pode movimentar US$ 200 bilhões globalmente, segundo projeções da consultoria McKinsey.
Esse são alguns dados como o investimento em pesquisa e posicionamento do agro brasileiro frente aos desafios mundiais deveria ser uma política e vitrine sustentável do nosso país. Há muita prática e resultado em diversas áreas que é importante mostrarmos.
3 - Fazendas Verticais
Para otimizar a produção e o espaço físico, ganha força uma agricultura urbana que lança mão de tecnologia de ponta para oferecer a quem vive nos grandes centros uma espécie de fazenda, com a diferença de que o cultivo é feito na vertical e sem utilizar agrotóxicos.
Em vez de cultivar frutas e legumes em grandes fazendas e depois transportá-los por longas distâncias em caminhões e aviões, a agricultura vertical pode fornecer produtos locais a partir de prédios da vizinhança com torres que chegam a alcançar 14 metros de altura e servem como local de cultivo. Isso significa que menos combustível é usado e os alimentos são mais frescos.
As fazendas verticais também tendem a produzir mais do que as fazendas convencionais e as plantas podem ser colhidas 15 vezes por ano. Em um campo convencional, a colheita é duas vezes por ano. Ao controlar com precisão o ambiente de cultivo, os produtos podem durar de 13 a 14 dias, contra três a quatro dias para os produtos equivalentes da agricultura convencional.
Uma pesquisa da inglesa MarketsandMarkets apontou que, até 2026, as fazendas verticais ao redor do globo devem triplicar seu mercado, saltando de US$ 3,31 bilhões em 2021, para US$ 9,7 bilhões nos próximos cinco anos. Outro estudo, revelado no relatório “Indoor Farming Market Size, Share & Trend Analysis”, realizado pela indiana Grand View Research, ampliou o prazo da análise e projetou que até 2028 o mercado global de agricultura vertical atinja US$ 17,6 bilhões.
* Diego Gomes é paulista, pai de três filhos e casado com a Raquel. Começou a vivenciar o tema sustentabilidade na prática em 1999, dentro do Banco Abn Amro. A partir de lá, criou duas empresas, a Coletiva – Mídia que Impacta de Verdade e a 100% Livre – Zero agrotóxicos + Sabor, que nasceram das teorias e práticas adquiridas durante sua trajetória.