A primeira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos colocou novamente o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no centro das atenções, uma vez que os esforços da autoridade monetária de desacelerar a economia para baixar a inflação de volta à meta de 2% parecem não estar surtindo efeito.
Entre julho e setembro deste ano, o PIB avançou 4,9%, acima da alta de 2,1% apurada no segundo trimestre de 2023 e superior à média das expectativas coletadas pela Dow Jones, de 4,7%. Os números mostram uma economia ainda resiliente.
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Parte do desempenho do período veio do consumo, com os gastos pessoais crescendo 4%, depois de subirem apenas 0,8% no segundo trimestre. O investimento privado subiu 8,4% e o consumo e investimento do governo cresceu 4,6%, sempre em taxas anualizadas.
O que esses dados indicam? De acordo com Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, o Fed dificilmente mudará seus planos. Na última reunião, a autoridade monetária manteve as taxas entre 5,25% e 5,50% e deixou em aberto a possibilidade de realizar mais uma alta.
Segundo Nobre, o resultado não chega a ser surpreendente, considerando que outros dados já mostravam uma economia robusta. “Dados como vendas no varejo, produção industrial, PMI, todos estavam acima das expectativas, o mercado estava de olho nisso”, diz o economista.
A reação comedida do mercado ao resultado mostra que uma forte leitura do PIB “estava na conta”. Por volta das 13h, o Dow Jones caía 0,31%, aos 32.934,44 pontos. O S&P 500 recuava 0,83%, aos 4.152,60, enquanto o Nasdaq tinha queda 1,19%, aos 12.668,95 pontos.
Outro dado do PIB, relacionado à inflação, corroborou a tese de que o Fed não deve mudar seu plano de voo. O Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês) registrou crescimento de 2,9% com relação ao trimestre anterior, ligeiramente acima do resultado registrado no trimestre anterior, de 2,5%.
Mas o que chamou a atenção foi o núcleo do PCE, que registrou inflação de 2,4%, o menor valor nessa métrica desde o quarto trimestre de 2020.
“Esse número mostrou que a inflação está se aproximando do objetivo do Fed”, afirma Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research. “Qualquer dado que mostra inflação próxima da meta do Fed tende a aliviar o sentimento do mercado, porque existe a expectativa de que não vai ter mais aumento de juros.”
Para os analistas, o que pode se depreender da leitura do PIB do terceiro trimestre é que o Fed deve manter os juros em patamares próximos ao atual por mais tempo, até de fato ver a inflação convergir sustentavelmente para a meta de 2%.
“Se a atividade já estivesse desacelerando, o Fed poderia começar a ponderar se mantém os juros elevados, mas com a atividade resiliente, o Fed se sente seguro em deixar os juros nos atuais patamares”, afirma Nobre.
A expectativa, agora, é de que o país comece a desacelerar, considerando o atraso temporal que a política monetária tem, mais um motivo para o Fed não apertar ainda mais a política econômica.
“Os membros com voto do Fomc [comitê responsável pela definição da política monetária no Fed] já deram declarações de que fizeram muitas altas de juros”, diz Pacheco. “O aumento de juros começou há 18 meses e, teoricamente, ele vai começar a pegar na atividade agora. Por isso, as últimas sinalizações do Fed são de que não é preciso avançar mais com o aperto monetário.”
Para Nobre, a economia americana ainda está sendo impulsionada pelos estímulos e pacotes fiscais dados pelo presidente Joe Biden, mas indicadores antecedentes já apontam para uma desaceleração da economia, reforçando a leitura de um “pouso suave”. “Existem motivos para acreditar que o crescimento não é sustentável. Se parar de estimular, vai desacelerar”, afirma.