Um relatório do BTG Pactual divulgado nesta quarta-feira, 28 de fevereiro, aponta o Brasil numa posição única no cenário global, com democracia consolidada e geopoliticamente distante dos principais conflitos, além de oferecer agendas de sustentabilidade e de crescimento agrícola avançadas em relação a outros países.

Um dos pontos que mais chamam a atenção, porém, são as oportunidades oferecidas pelo mercado acionário do Brasil frente aos seus pares globais, entre elas o preço baixo das ações. “Quando comparamos as avaliações e os retornos das ações locais com outros mercados internacionais, o Brasil se destaca claramente”, diz o estudo.

O tom otimista que percorre boa parte do relatório em inglês de 37 páginas começa com uma indagação no título – “A hora do Brasil finalmente chegou?” – e se estende ao abordar boa parte dos setores da economia brasileira, sempre com dados e estatísticas para justificar a percepção desse avanço do País.

Assinado por Carlos Sequeira, head de pesquisa do BTG, e por outros dez analistas, o documento também alerta para fatores que podem atrapalhar esse avanço, incluindo os indicadores ruins de educação, a questão demográfica, o ambiente político instável e as políticas macroeconômicas dos últimos anos.

Para investidores internacionais, o estudo ajuda a mapear setores da economia cujo crescimento já vinha chamando a atenção no exterior, como agricultura e energia renovável. Por essa razão, o espaço dedicado ao mercado acionário do País no relatório ganha relevância por indicar um potencial de ganhos alinhado com o avanço dos setores mais visados.

Tendo como título “As ações brasileiras estão baratas”, o capítulo referente ao tema no relatório afirma que os papéis estão sendo negociados a um múltiplo preço/lucro (P/L) de 10 vezes para os próximos 12 meses, excluindo as ações de Petrobras e Vale, um desvio padrão abaixo da média, de acordo com o BTG Pactual. Incluindo as duas empresas, esse índice cai para um múltiplo P/L de oito vezes.

Já o prêmio para manter ações - medido como o inverso do preço/lucro menos as taxas reais de 10 anos - está em 4,3%, um desvio padrão acima da sua média histórica.

“O retorno sobre investimento (ROI) consolidado de 18,8% das ações brasileiras é bom e comparável a outros mercados emergentes e globais”, aponta o relatório, lembrando que o ROI brasileiro é inferior ao da Índia (19,3%) e dos EUA (24,8%), mas ressaltando que as avaliações são bem mais baixas.

“Ações brasileiras estão sendo negociados com um múltiplo P/L de oito vezes nos próximos 12 meses, em comparação com um múltiplo P/L de 21,4 vezes para a Índia e de 19,6 vezes para os EUA”, ressalta o estudo.

Os retornos e as avaliações são impulsionados pelo fato de as ações da Petrobras e da Vale representarem uma grande fatia do lucro consolidado (40% combinados).

“Naturalmente, as ações brasileiras, excluindo as da Petrobras e da Vale, não são tão atraentes como quando olhamos para os números consolidados, mas ainda são razoavelmente convincentes”, diz o estudo.

Dois setores à frente

Em relação a outros setores, agricultura e energia renovável são claramente vistos como os que estão fazendo a diferença para o País no cenário global.

A análise minuciosa da agricultura brasileira, por exemplo, cita o fato de apenas 16% da terra arável disponível no Brasil ser cultivada, em comparação com outros países (Rússia, 60%; EUA, 70%; China e Índia, 100%).

“Com a demanda por aumento da produção global de alimentos, o Brasil está em uma posição única para atender a essas necessidades”, aponta o estudo, lembrando a divisão do uso da terra no Brasil: 66% de vegetação nativa e 30% de agricultura.

Há também menção ao aumento de 58% da produtividade agrícola do Brasil após 2000, uma das taxas de crescimento mais elevadas de qualquer país no período.

Na área de energia renovável, o relatório coloca o Brasil como ator-chave na agenda da sustentabilidade, com uma matriz energética limpa (80% de sua energia vem de energia hidrelétrica, eólica ou solar).

“O Brasil está numa posição para continuar a liderar o desenvolvimento e adoção de fontes renováveis de energia, bem como recursos de biocombustíveis, todos com custos e preços muito competitivos”, diz o estudo, citando ainda o potencial do hidrogênio verde, que recebeu um capítulo à parte.

Citando um relatório da McKinsey, os analistas do BTG Pactual escreveram que o hidrogênio verde poderia oferecer ao Brasil uma oportunidade de US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões em receitas até 2040.

Mas o Brasil não recebeu só elogios. Com o sugestivo título “O que pode dar errado”, o estudo dedica um capítulo para ressaltar a importância do apoio de políticas macroeconômicas sólidas e um ambiente político estável para o avanço do País.

Duas críticas ganham destaque. Uma delas são as políticas econômicas “pouco ortodoxas e populistas” que travaram o crescimento econômico recente.

“Em 2013-22, o crescimento médio anual do PIB foi de apenas 0,5%, e em 2015-16 o Brasil enfrentou a pior recessão econômica em mais de um século”, advertiu o estudo.

Outra crítica é quanto à dívida em relação ao PIB, que terminou 2023 em 74,3%, alta para um mercado emergente, além de um déficit fiscal primário persistente (2,3% do PIB em 2023).

“Equilibrar o orçamento e melhorar a qualidade da despesa pública são cruciais para garantir um futuro promissor”, diz o relatório.