A divulgação do relatório global “Futuro do Crescimento” nesta quarta-feira, 17 de janeiro, pela Fundação Dom Cabral (FDC), em parceria com o Fórum Econômico Mundial, reforça algumas das conhecidas contradições socioeconômicas do Brasil, mas chama a atenção para o atraso do País numa área estratégica de desenvolvimento - a de inovação.
O estudo, divulgado simultaneamente no Brasil e em Davos, na Suíça, tem como objetivo analisar, de forma multidimensional, o andamento e a qualidade do crescimento econômico de 107 países.
O crescimento é medido pelo PIB per capita e sua variação nos últimos cinco anos. Foi adotada uma metodologia comparativa entre as nações, mas sem a formatação de um ranking – substituído por uma combinação de indicadores que formam uma pontuação geral, em uma escala de 0 a 100 pontos.
“A pontuação média do Brasil foi de 50 pontos e, levando-se em conta os quatro pilares analisados – Inovação, Inclusão, Sustentabilidade e Resiliência -, estamos mais no bloco de trás do relatório do que no bloco dos melhores países”, afirma Hugo Tadeu, professor e diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC.
Entre os dez itens listados pelo relatório com as piores pontuações do Brasil, quatro são ligadas ao pilar Inovação: aporte de capital em Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC), registro de marcas, exportações de serviços avançados, e patentes.
“Os países mais bem avaliados no relatório, como Suíça, Finlândia, Suécia, Japão e Coreia do Sul, têm crescimento impulsionado pela inovação, enquanto o Brasil tem uma rota baseada em exportação de commodities”, diz Tadeu.
Segundo ele, falta uma qualificação para o que se chama de debate sobre inovação para o futuro. O tema das patentes é citado por Tadeu como um exemplo.
Além de uma patente levar em média sete anos para ser homologada no País, ele observa que há uma visão equivocada da produção científica no País, mais interessada em gerar artigos científicos para aumentar o ranking dos acadêmicos do que voltada para incluir o setor produtivo neste ciclo virtuoso de conhecimento.
“Quando olhamos para o mundo, o acadêmico está preocupado em gerar artigo, que vai estimular a criação de empresas, de riqueza, de crescimento e, por fim, de patentes”, diz.
Tadeu diz que o relatório suscita dois debates para o Brasil. O primeiro deles é quanto à necessidade de um planejamento estratégico de longo prazo, como os países mais bem posicionados fizeram.
Ele observa que o Brasil já foi “a China do mundo, nos anos 1970”, citando o período de maior crescimento do País, tanto de renda per capita quanto de PIB.
“Foi quando decidimos investir em conhecimento, criando a Embrapa, enviando pesquisadores para estudar no exterior, sem falar na fundação da Universidade Federal de Ouro Preto, que abriu caminho para desenvolver o setor de mineração e a construção de empresas como a Vale”, lista.
Segundo Tadeu, é também necessário estimular o ambiente de negócios com conhecimento pautado em setores econômicos que tragam vantagens competitivas ao Brasil, focando no agronegócio e segmentos, como de energia e financeiro, que tragam crescimento.
Em outra frente, Tadeu sugere melhoria da segurança jurídica para estimular o crescimento do mercado de capitais e, por tabela, dos investimentos.
“A taxa Selic no Brasil é alta por causa dos riscos, isso impacta no investimento das empresas”, diz. “O baixo investimento em inovação é condizente com o custo do capital no Brasil.”
O acadêmico da Fundação Dom Cabral também aponta o Estado como fundamental na elaboração de políticas públicas que privilegiem menos o gasto público e mais a inovação.
“Se não tivermos um alinhamento de projeto estratégico de longo prazo entre o poder público e a iniciativa privada, vamos manter esse voo de galinha de crescimento, é o que relatório mostra de forma escancarada em relação ao Brasil”, diz Tadeu.
Sustentabilidade em alta
A melhor nota do Brasil foi no pilar Sustentabilidade (55,99), acima da média global, de 46,8 pontos. A pior pontuação foi justamente no pilar Inovação (41,88), critério em que a média global também decepcionou, de 45,2 pontos.
No pilar Inclusão, a pontuação brasileira (55,31) ficou em linha com a média mundial, de 55,9 pontos. Em Resiliência, que se refere à capacidade de uma economia de resistir e se recuperar de choques externos e às crises financeiras, o Brasil obteve 51,98 pontos, comparado com a média global de 52,8 pontos.
Os indicadores econômicos do País citados pelo relatório explicam por que a pontuação do Brasil pode ser considerada baixa.
Com PIB per capita pelo critério PPP (paridade de poder de compra) de US$ 16.402 (cerca de R$ 81 mil), o Brasil entrou no relatório no grupo de renda média alta, com crescimento de 1,22% do PIB entre 2018 e 2023.
O estudo deu nota máxima (100 pontos) ao País em termos de recursos hídricos e em concentração de oferta de alimentos.
O relatório elogiou a infraestrutura de telecomunicações do País, como fonte de apoio ao desenvolvimento de negócios e a promoção de inclusão.
A matriz energética brasileira também recebeu menção positiva, seja pela sua diversificação bem como pelo investimento em energia renovável, “que colocam o País em uma posição vantajosa frente a tendências crescentes de transição energética e descarbonização”.
O relatório, porém, destacou alguns aspectos negativos da avaliação brasileira, que recebeu nota zero em igualdade econômica e em termos de polarização política.