O anúncio do arcabouço fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, sinalizando uma política fiscal menos expansionista do que o esperado, levou a XP Investimentos a revisar suas projeções sobre o início do corte na taxa de juros pelo Banco Central – de 2024, como antes estava previsto, para agosto deste ano.

A antecipação da queda do juro para este ano faz parte do relatório “100 dias de 2023”, apresentado pela XP na quinta-feira, 6 de abril, com projeções sobre o cenário econômico brasileiro no curto e médio prazo.

Mesmo prevendo uma queda de 0,25 ponto percentual da atual taxa Selic (que está em 13,75% ao ano), a XP revisou para cima sua estimativa de inflação de 2023, de 5,5% para 6,2%. A mudança da meta de inflação, dos 3% atuais para 4,5%, também entrou no pacote de projeções da XP.

“O arcabouço fiscal sinaliza que a política fiscal do governo, que é expansionista, será limitadamente expansionista com as medidas previstas”, disse Caio Megale, economista-chefe da XP, ao justificar a revisão das projeções sobre corte de juros, referindo-se à regra do pacote que limita o aumento de despesa do governo a 70% do crescimento da receita.

Segundo ele, pelas declarações do governo antes do anúncio, era difícil estimar a estratégia da equipe econômica em relação à política fiscal. “Agora temos uma clareza, uma visibilidade.”

A XP estima que os cortes seguintes na taxa Selic devem ser na faixa de 0,5 ponto percentual, com os juros terminando o ano em 12%. Para 2024, as previsões indicam um recuo para 11% dos juros a partir do primeiro trimestre.

Outras instituições bancárias já haviam previsto o início da queda de juros para 2023. Antes do anúncio do arcabouço fiscal, Itaú, Bradesco e Santander estavam projetando corte da Selic mais para o final deste ano. Após o anúncio do pacote, além da XP, o Banco Inter antecipou de agosto para junho o início da queda dos juros.

De acordo com o relatório, apesar da inflação alta e de uma política fiscal expansionista (mesmo após o novo arcabouço fiscal), a desaceleração do mercado de crédito sugere que o afrouxamento da política monetária deve acontecer antes do previsto. A XP manteve a projeção de crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023.

Meta de inflação

Segundo Megale, a estimativa de um aumento da meta de inflação – um tema polêmico, que divide economistas e analistas políticos – é baseada na preferência já manifestada pelo governo, que tem maioria no Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão que estipula o índice.

O economista-chefe da XP afirma que a política fiscal, ainda que limitada pelo arcabouço, é expansionista e o Brasil tem uma relação dívida/PIB que é alta num cenário-base. Com isso, prevê que o governo vai tentar aumentar a receita tributária, mas acha difícil, neste ambiente, que a inflação caia de forma sistemática muito abaixo dos patamares atuais.

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Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos

“Tudo isso junto, arcabouço fiscal, efeito da política monetária, uma mudança de meta de inflação e a concordância em estender ao longo do tempo a convergência da meta de inflação, nos sugere espaço para o corte de juros”, afirma Megale.

A estimativa da taxa de câmbio da XP permaneceu em R$ 5,30 para o final deste ano. “O real teve uma apreciação de 2,33% em relação ao dólar este ano, mas abaixo em relação à apreciação de outras moedas”, disse Fernando Ferreira, head de pesquisas e estrategista-chefe. “Após o arcabouço, os investidores estrangeiros estão voltando a comprar ativos.”

O valor justo para o Ibovespa, ao fim de 2023, foi revisado pela XP de 125 mil para 128 pontos, com melhoras nas projeções de lucros das empresas e taxas reais de longo prazo mais baixas.