Apesar do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizar que a política monetária permanecerá restritiva em 2024, indicando que novas altas devem ocorrer, Bill Ackman permanece cético em relação à capacidade de a autoridade monetária controlar a inflação.
Numa extensa postagem na rede social X (ex-Twitter), publicada na madrugada de sexta-feira, 22 de setembro, o fundador e CEO da gestora Pershing Square, que conta com cerca de US$ 15,5 bilhões em ativos sob gestão, afirmou que permanece short em bonds, esperando que os juros de longo prazo subam ainda mais e os preços dos papéis caíam.
Segundo ele, a elevação da dívida do governo, com um aumento da oferta de títulos do Tesouro americano para financiar o déficit fiscal, mais os altos preços da energia, os efeitos da desglobalização e os custos “incalculáveis” da transição energética devem continuar pressionando a curva de juros.
“A taxa de inflação de longo prazo não vai voltar para 2%, não importa quantas vezes o presidente [do Fed, Jerome] Powell reiterar como a sua meta”, diz trecho da postagem. “Essa meta foi estabelecida de forma arbitrária em 2% após a crise financeira, num mundo muito diferente ao que estamos vivendo agora.”
Diante deste cenário, Ackman diz estar “surpreso” do quão baixas estão as taxas de juros de longo prazo. Ele avalia que isso acontece pelo fato de os yields dos bonds nunca terem ficado acima de 4% por quase 15 anos. Para o gestor, a soma da taxa de inflação de longo prazo com a taxa de juros real mais o prêmio sugerem que o yield apropriado para o título de 30 anos deveria ser de 5,5%.
Não é a primeira vez que Ackman trata do tema. Em 2 de agosto, numa outra postagem na X, revelando que está realizando os shorts por meio de opções, em vez de posições vendidas diretas.
A operação está sendo feita por meio dos chamados swaptions, um tipo de contrato de opções que permite ao comprador celebrar um acordo de swap a uma taxa de juros específica por um período de tempo estabelecido. Ele está apostando que os yields continuarão subindo, enquanto o valor dos títulos irão cair.
Ackman não é o único que demonstra ceticismo em relação à capacidade do Fed de retornar a inflação para a meta de 2% ao ano. Ray Dalio, fundador da Bridgewater, um dos maiores fundos de hedge do mundo, com US$ 150 bilhões sob gestão, afirmou em evento na semana passada que prefere dinheiro em caixa a títulos de dívida, avaliando que a situação do endividamento dos Estados Unidos tende a se “agravar e acelerar”, com aumento das despesas com juros.
Segundo ele, o tamanho do déficit americano vai exigir a venda de dívida para investidores, num equilíbrio difícil entre ser atrativo para credores, mas não elevado a ponto de prejudicar o emissor. Se os investidores decidirem vender, o movimento resultará numa queda de preços dos papéis e um aumento dos yields, o que pode levar o Fed a imprimir mais dinheiro para recomprar os títulos, aumentando as pressões inflacionárias.
“Estamos vendo essa dinâmica acontecer agora”, disse Dalio. “Pessoalmente, eu acredito que bonds não são mais um bom investimento.”