Em uma conversa considerada improvável até poucas semanas atrás, os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, iniciaram na segunda-feira, 6 de outubro, negociações que podem resultar na retirada ou, ao menos, em um alívio das tarifas americanas aplicadas sobre produtos brasileiros.

A conversa, realizada por telefone, durou 30 minutos e terminou com elogios mútuos de ambos os líderes. Após a ligação, o presidente Trump afirmou, em publicação na rede Truth Social, que teve um telefonema “muito bom” com o presidente Lula, destacando que manterá as discussões, especialmente voltadas a temas econômicos e comerciais.

“Vamos nos encontrar em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei da ligação — nossos países irão se sair muito bem juntos!”, escreveu Trump na postagem.

Lula também demonstrou otimismo. No Twitter, o presidente brasileiro disse ter relembrado a “boa química” que tiveram na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, quando Trump afirmou pela primeira vez ter a intenção de dialogar com Lula.

No mercado, a conversa foi vista com um misto de cautela e otimismo. Por um lado, o diálogo marcou uma melhora nas relações entre os dois países, que vinham abaladas nos últimos meses. Por outro, a indicação de que Marco Rubio continuará nas negociações gerou cautela.

“A conversa foi positiva. Mas a indicação de Rubio pegou um pouco mal. Ele atacou muito o Brasil nas redes sociais durante o tarifaço e a imposição da Magnitsky [sobre brasileiros]. Isso deixou o mercado ressabiado”, disse Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos.

Entre os embates recentes de Rubio, por exemplo, estiveram falas duras contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, a quem acusou de abuso de poder.

Na avaliação de Victor Borges, especialista em investimentos da Manchester, a indicação de Rubio sugere que os Estados Unidos serão rígidos na condução das negociações. “Isso coloca o governo Lula à prova, testando sua capacidade de conduzir negociações que beneficiem a economia brasileira”, disse.

Na segunda, 6, o Ibovespa, principal índice da B3, terminou o dia em queda de 0,41%, aos 143,6 mil pontos, enquanto o dólar recuou 0,47%, para R$ 5,311.

Para Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, embora as sinalizações tenham sido positivas, parte desse movimento já vinha sendo precificada desde que o início das negociações foi sinalizado, durante a Assembleia Geral da ONU. “O mercado, agora, precisa entender o caminho dessa conversa, quais serão as ações concretas no cenário comercial e na parte política.”

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, considera que o andamento das negociações ainda terá efeitos relevantes sobre o mercado brasileiro, mas, no curtíssimo prazo, os sinais da política monetária têm influenciado mais os preços. Segundo ele, os efeitos das falas de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, se sobrepuseram à ligação entre Trump e Lula.

Nesta segunda, Galípolo afirmou que o mercado de trabalho é o “mais exuberante” em três décadas e que perseguirá o centro da meta de inflação, de 3%, e não o teto, de 4,5%. “A fala do Galípolo fez o mercado precificar corte de juros mais para março. Isso beneficia o real e joga contra a Bolsa, porque favorece a pessoa física e fundos de pensão a permanecer na renda fixa.”