Em suas últimas aparições públicas, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tem se dedicado a reforçar que o Comitê de Política Monetária (Copom) não tem uma decisão tomada sobre o rumo da taxa básica de juros, a Selic, e que toda definição será baseada na análise da conjuntura e dos dados.

Nesta sexta-feira, 30 de agosto, durante participação na Expert XP, o presidente da autoridade monetária voltou a ressaltar que o BC fará “o que for preciso” para que a inflação convirja para o centro da meta.

Ele disse que o Copom optou por não dar guidance porque o momento exige flexibilidade para atuar, destacando que “assimetria do balanço de risco” não é um indicativo do que possa vir. E apontou que “existe hoje um prêmio de risco na parte curta da curva de juros que não é compatível com a comunicação”.

Apesar de todas essas ponderações, Campos Neto deu uma sinalização de como o colegiado responsável pela política monetária pode agir caso decida atuar. “Entendemos que, se e quando houver um ciclo de ajuste, ele será um ciclo gradual”, disse ele durante a apresentação.

Olhando para a inflação, o presidente do BC afirmou novamente que os últimos dados de inflação – IPCA-15 de agosto desacelerando a 0,19%, com a leitura dos últimos 12 meses recuando de 4,45% para 4,35% – exigem atenção, ainda que tenham sido positivos. E destacou que as expectativas de inflação seguem desancoradas.

Ele destacou que a atividade econômica segue forte e que o mercado de trabalho está apertado, com a taxa de desemprego convergindo ao menor patamar da história. Dados divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que a taxa de desemprego recuou para 6,8% no trimestre encerrado em julho, em comparação com o trimestre de fevereiro a abril, quando ficou em 7,5%.

Outro ponto que Campos Neto fez questão de reforçar o posicionamento do BC foi na parte do câmbio, depois que a autoridade monetária anunciou a realização de um leilão de venda de dólares nesta sexta-feira, pela manhã, o primeiro desde 2022.

Segundo ele, a medida se deu por conta de um fluxo atípico de recursos, motivado pelo rebalanceamento de índices acionários, com a operação tendo sido discutida com o diretor de política monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo.

Campos Neto destacou que não se trata de uma ferramenta que o BC pretende recorrer para lidar com a flutuação do câmbio, mas pode atuar quando detecta “disfuncionalidades” .

“Não fazemos intervenção considerando o curto prazo, olhamos para o fluxo e entendemos que o BC precisava fazer uma intervenção”, disse. “Se entendermos que for preciso fazer mais intervenções, assim faremos.”