O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira, 28 de agosto, que os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), referentes a agosto e divulgados na véspera, foram positivos na comparação com o período anterior. Mas ainda não ofereceram segurança para o BC.

O presidente do BC não citou a possibilidade de, diante dos números do IPCA-15, a autoridade monetária elevar os juros, mas deixou uma porta aberta ao falar que o BC fará “tudo o que for preciso” para atingir a meta de inflação, que é de 3%.

“Tivemos um número de inflação ontem, do IPCA-15, que veio um pouco melhor, mas não nos dá conforto”, admitiu Campos Neto, durante a 25° Conferência Santander, em São Paulo.

O IPCA-15 é tido como uma espécie de prévia da inflação mensal. Serve como ferramenta para o Banco Central no estabelecimento das metas de inflação. O índice mede a inflação baseada em um conjunto hipotético de bens e serviços vendidos no varejo para famílias com rendimentos entre 1 e 40 salários-mínimos no período entre o dia 16 do mês anterior e 15 do atual.

O IPCA-15 desacelerou em agosto, com alta de 0,19%, dentro do esperado. Em 12 meses, o índice chegou em 4,35% - abaixo dos 4,45% observados nos 12 meses imediatamente anteriores e próximo do teto da meta do BC, de 4,50%.

Campos Neto citou alguns indicadores que geraram desconforto, entre eles a desaceleração do processo de desinflação aliada a inflações implícitas nos ativos, que segundo ele subiram muito, além da desancoragem recente nas expectativas de inflação.

O presidente do BC traçou um cenário positivo da economia brasileira, que segundo ele está forte, com mercado de trabalho apertado. Admitiu que a taxa de juros está elevada e, mesmo assim, não impediu o crescimento do mercado de capitais e da economia como um todo.

“Todos os índices estão apontando para uma melhora da economia”, disse. “A massa salarial está subindo em vários setores, mas precisamos avaliar o impacto no setor de serviços, que causa preocupação em termos de inflação.”

Ele admitiu que o fato do BC não ter dado direcionamento específico sobre os próximos passos da política monetária, o chamado guidance, eleva a volatilidade do mercado.

“Só podemos dar um guidance quando temos segurança sobre os dados, uma sinalização por si sem isso pode causar um efeito negativo”, disse, lembrando que, com isso, “cada palavra de um diretor numa entrevista, passa a ter mais efeito”.

De forma direta, mas breve, Campos Neto admitiu que a política fiscal do governo ainda não está dentro do ideal.

“Apesar de ter evolução de receita boa, as despesas estão subindo acima da receita, isso tem sido realidade nos últimos meses, de forma geral nos últimos anos”, advertiu. “Mas o governo tem se esforçado bastante, tem sido bastante difícil esse exercício.”