Diante da expectativa praticamente unânime do mercado de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) vai começar a cortar os juros a partir de setembro – cenário confirmado na manhã de sexta-feira, 23 de agosto, por Jerome Powell no simpósio anual em Jackson Hole, – os investidores já estão se posicionando para aproveitar os efeitos do afrouxamento monetário.

Por enquanto, a preferência tem sido por um tipo de fundo considerado mais conservador, que é o caso dos Money Market Funds (MMFs). Um levantamento feito pelo Bank of America (BofA), obtido pela agência de notícias Reuters, mostra que os investidores aplicaram cerca de US$ 37 bilhões nesse tipo de investimento no acumulado da semana até quarta-feira, 21 de agosto.

Com esse volume, a captação de MMFs caminha para o maior valor acumulado em três semanas desde janeiro, em US$ 145 bilhões. O relatório do BofA mostra ainda que, na mesma semana, os investidores colocaram US$ 20,4 bilhões em ações, US$ 15,1 bilhões em bonds e US$ 1,1 bilhão em ouro.

Os MMFs são um tipo de fundo mútuo de investimento com cotas negociadas nas Bolsas americanas que investe em títulos de dívida de curto prazo e baixo risco de crédito.

A expectativa é de que o início do corte de juros pelo Fed, que se encontram entre 5,25% e 5,50%, elevasse a propensão a risco dos investidores, caraterística pela qual os MMFs não são conhecidos.

Esses fundos apresentam volatilidade bastante baixa, investindo em títulos de dívida de curto prazo, como títulos do Tesouro dos Estados Unidos, notas de agências governamentais e papéis de empresas com ratings mais elevados, em geral tendo por consequência retornos mais modestos.

No entanto, alguns grandes investidores estão aplicando recursos em MMFs antes de cortes de juros pelo Fed justamente por conta da concentração de títulos de curto prazo, visando aproveitar os retornos ainda em bons patamares desses papéis com baixa volatilidade.

Essa visão, porém, não é generalizada. Muitos investidores também recorrem a esses fundos no momento em que tem dúvidas sobre os rumos da economia e como isso pode afetar os mercados.

A expectativa de muitos é de que os Estados Unidos passem por um soft landing, mas ainda existem dúvidas sobre se este cenário de fato se concretizará, e o que isso pode significar para os mercados.

Independente da explicação, fato é que o movimento em direção aos MMFs vem ganhando força. Na primeira metade de agosto, esses fundos receberam US$ 88,2 bilhões, segundo dados da consultoria EPBR citados em reportagem do Financial Times publicada em 21 de agosto. Boa parte desse movimento tem sido puxado por investidores institucionais.

A chegada dos cortes de juros ficou praticamente certa hoje após o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole.

Segundo ele, “chegou a hora” de começar a ajustar a política monetária dos Estados Unidos, destacando que o momento e o ritmo dos cortes dependerão dos dados econômicos, das expectativas econômicas e do “balanço de riscos”.

Powell destacou que sua “confiança cresceu de que a inflação está em um caminho sustentável de volta para 2%” e que “os riscos de queda para o emprego aumentaram”.