O governo da China anunciou na sexta-feira, 9 de maio, que as exportações do país cresceram 8,1% em abril, por meio do desvio de seus fluxos comerciais dos Estados Unidos para o sudeste da Ásia, Europa e outros destinos.
O anúncio, um dia depois de o presidente americano, Donald Trump, fechar um acordo comercial com o Reino Unido amplamente favorável - visto como um modelo de como serão as negociações tarifárias com os EUA daqui para frente -, mostra que os dois países chegam à primeira rodada de negociação comercial direta, que ocorre no final da semana na Suíça, com um trunfo na manga.
O forte crescimento das exportações chinesas em abril (em dólares, na base anual) foi surpreendente porque a previsão de analistas ocidentais era de um avanço de apenas 1,9%. No entanto, houve desaceleração em relação ao crescimento de 12,4% em março, quando os números foram impulsionados pelos exportadores que buscavam escapar às tarifas esperadas antecipando remessas para os EUA.
Além disso, as importações chinesas caíram 0,2% em abril, o terceiro mês consecutivo de queda, aumentando as preocupações com os crescentes superávits comerciais da China, que são a fonte de muitas das tensões com os EUA.
O plano B de direcionar as exportações chinesas inicialmente previstas para os EUA – e com isso evitar as tarifas de 145% impostas por Trump – pode consolidar uma importante alteração no mapa do comércio global.
As exportações da China para países como Vietnã, Tailândia e Indonésia aumentaram 23%, 28% e 37% respectivamente em abril, em comparação com o ano anterior. O mesmo ocorreu nas remessas para a América Latina (aumento de 17%), África (25%), e União Europeia (8,3%).
O superávit comercial da China com os EUA foi de US$ 20,46 bilhões em abril e de US$ 96,2 bilhões no total. No entanto, as remessas para os EUA caíram 17,6% em comparação com o mês anterior, indicando que a China de fato aumentou o comércio com mercados alternativos.
Numa mostra que essa tendência deve permanecer, a Câmara de Comércio da União Europeia na China revelou que as reservas para embarques chineses para os EUA caíram entre 30% e 50%.
No ano passado, as exportações representaram cerca de um terço do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, segundo dados oficiais. Mesmo com a bem-sucedida mudança da rota comercial, muitos economistas preveem que o crescimento do PIB da China este ano ficará próximo de 4% ou menos.
Novo parâmetro
Se a China obteve um trunfo antes do início da primeira negociação comercial direta com os EUA desde o anúncio do tarifaço, no início de abril, o acordo comercial fechado na Casa Branca por Trump com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, na quinta, 8, também fortalece a posição americana nas negociações de Genebra com a China, no final de semana.
Trump conseguiu tudo o que queria com Starmer. O Reino Unido continuará a pagar tarifa de 10% de suas exportações - a média antes de Trump era de 1,3% -, enquanto as tarifas britânicas médias sobre importações dos EUA cairão de 5,1% para 1,8%.
Foi a primeira negociação direta dos EUA desde o tarifaço. O fato de Trump ter mantido a tarifa de 10%, apesar de os EUA terem superávit nas trocas comerciais com os britânicos, foi visto como um modelo de como serão as negociações tarifárias com os EUA daqui para frente.
"Este acordo mostra que, se você respeitar os Estados Unidos e apresentar propostas sérias, os Estados Unidos estão abertos para negócios. Muitos outros virão — fiquem ligados!", postou Trump no Truth, sua plataforma de mídia social, acrescentando que o acordo traria oportunidades de US$ 5 bilhões para os exportadores americanos.
A declaração, por outro lado, pareceu confirmar que a ameaça de tarifas era apenas uma tática de negociação de Trump para garantir melhores termos comerciais.
O próprio presidente americano reforçou essa percepção na sexta, ao sugerir que “tarifa de 80% sobre a China parece correta!”, em postagem no Truth. "Muitos acordos comerciais no caminho, todos bons (ótimos!)!", escreveu o presidente mais tarde. A China também impôs tarifas pesadas, de 125%, às exportações americanas.
A reunião desse final de semana entre autoridades chinesas e americanas na Suíça pode abrir caminho para negociações mais amplas. No entanto, ambas as partes indicaram que o principal objetivo desta reunião é aliviar as tensões.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, vai liderar a delegação americana, que contará também com o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer. A comitiva do governo chinês será chefiada pelo vice-primeiro-ministro He Lifeng – homem de confiança do presidente Xi Jinping.
He, que não domina o inglês, será apoiado por Liao Min, vice-ministro das Finanças, e por Li Chenggang, representante chinês na Organização Mundial do Comércio, que falam inglês fluentemente.
“He provavelmente será um interlocutor mais difícil para os americanos”, disse Andrew Gilholm, chefe de análise da China na consultoria Control Risks. Enquanto Trump afirmou na quinta-feira que "a China quer muito fazer um acordo", Gilholm acrescentou que "a China está disposta e é capaz de suportar a dor política por mais tempo do que a Casa Branca".
Gao Jian, um especialista do Centro de Segurança Internacional e Estratégia da Universidade Tsinghua, em Xangai, por sua vez, afirma que, “embora o governo chinês avalia Bessent como um ‘profissional equilibrado’, a equipe de He parece ter sido autorizada a conduzir apenas um envolvimento inicial em vez de uma negociação completa".
Antes das negociações, segundo Gao, o mantra chinês era de que “apaziguamento não compra paz, nem compromisso traz respeito”.