O presidente Donald Trump está prestes a conseguir que a Apple deixe de produzir iPhones na China. Porém, a companhia fundada por Steve Jobs (1955-2011) não deve cumprir o segundo passo do sonho do mandatário americano, de ver a produção voltando para os Estados Unidos.

Em vez disso, a Apple pretende transferir toda a produção de seu smartphone para a Índia até o ano que vem, segundo apuração do jornal britânico Financial Times (FT).

A intenção da companhia é fazer com que a Índia produza todos os iPhones destinados anualmente aos Estados Unidos até o fim do próximo ano, algo em torno de 60 milhões de unidades, segundo fontes ouvidas pelo FT. Atualmente, a Apple fabrica mais de 80% de seus produtos na China.

Esse objetivo representa dobrar a produção de iPhones na Índia em quase um ano, uma estratégia ambiciosa, considerando que a Apple demorou quase duas décadas para desenvolver suas linhas de produção na China.

A companhia depende fortemente do sistema de produção da China, onde produz diversas partes e produtos através de parceiros, como a Foxconn. Ao longo de 20 anos, a Apple criou uma grande e complexa cadeia de suprimentos no país, que forma um ecossistema com mais de 1 mil fornecedores.

A transferência da produção para a China multiplicou os ganhos da Apple, com as margens brutas, que giravam em torno de 20% no início dos anos 2000, subindo para 40% já no fim daquela década, também pelo impulso do lançamento do iPhone, em 2007.

Mas a guerra comercial travada por Trump, com ênfase especial em Pequim, a deixou exposta às duras tarifas de importação impostas à segunda maior economia do mundo, que atualmente somam 145%.

A situação pesou sobre a Apple, que vê seu valor de mercado recuar 19% em 2025, para US$ 3,1 trilhões, pelo fato de estar no fogo cruzado entre Estados Unidos e China.

A Índia foi atingida por tarifa recíproca de 26%, mas ela está suspensa enquanto Nova Delhi negocia um acordo comercial com os Estados Unidos. Nos últimos anos, a Apple vem ampliando sua capacidade de produção na Índia, replicando o modelo que adotou na China, tendo a Tata Eletronics e a Foxconn como parceiros.

A expectativa é de que a medida reduza o impacto das tarifas americanas sobre os preços dos iPhones, evitando desacelerar as vendas. No ano passado, a Apple vendeu um total de 233 milhões de unidades do smartphone, maior parte dos US$ 300 bilhões em vendas de produtos fabricados no exterior.

Apesar de depender da China para produzir iPhones, a Apple tem sentido a pressão competitiva de marcas locais chinesas nos últimos anos. As vendas no país recuaram 17% em 2024, para 42,9 milhões de unidades, levando a uma perda de quatro pontos percentuais de participação de mercado, que passou para 15%, segundo pesquisa feita pela consultoria Canalys.