Entre os dias 12 de junho e 14 de julho, o acionista minoritário da Gol vai ver sua ação valendo R$ 1.120. Em tela, o valor de mercado da companhia aérea ficará em torno de R$ 1,3 trilhão.

O "fenômeno" tem uma explicação: esse período de um mês e dois dias equivalem à fase de subscrição do direito de preferência da base atual de acionistas para a conclusão do aumento de capital de pouco mais de R$ 12 bilhões.

Para essa nova capitalização, a Gol terá de emitir trilhões de novas ações - isso mesmo, trilhões -, o que vai, num primeiro momento, provocar um descasamento entre os números do total de ações em circulação, o valor do papel e, consequentemente, o market cap.

"Esse aumento de capital envolve a emissão de 1,2 trilhão de ações econômicas, resultando em uma significativa diluição do patrimônio de 99,8%”, escreveram Lucas Marquiori e Fernanda Recchia, analistas do BTG Pactual.

Na próxima quinta-feira, o total de ações em livre circulação será de 1,2 trilhão, mas o papel GOLL4 em tela estará em fase de transição e continuará mostrando algo em torno de R$ 1,12.

Com isso, o investidor vai se deparar com um valor de mercado da Gol três vezes maior que o da Petrobras. Esse número será ajustado após o dia 14 de julho, quando os códigos de negociação GOLL3 e GOLL4 serão substituídos por GOLL53 e GOLL54, com o valor unitário de R$ 0,01 da nova emissão.

Por esse motivo, para que a Gol não seja, de cara, uma penny stock (um papel negociado abaixo de R$ 1) na bolsa de valores, a companhia estará no mercado acionário com lote padrão de 1.000 ações a partir de quinta-feira, ou seja, ela partirá de R$ 10. Os acionistas terão direito a 2.861 novas ações da Gol, que valerão R$ 0,01 cada, para cada ação.

Conforme o documento de aprovação do aumento de capital na assembleia geral extraordinária da Gol, realizada em 30 de maio, será necessário emitir 9,16 trilhões de ações, sendo 8,19 trilhões de ações ordinárias e pouco menos de 970 bilhões de ações preferenciais. Dessas, somente as chamadas ações econômicas (pouco mais de 12% desse total) estarão em circulação.

“Essa não é uma ação que o investidor institucional tem na carteira, mas o pessoa física, sim. Essa diluição vai causar uma confusão para esses minoritários”, disse um analista do mercado ao NeoFeed.

“E com uma quantidade gigantesca de emissão de ações, o preço tende a convergir para esse preço de emissão de 1 centavo”, complementa.

Essa diluição faz parte do acordo com o grupo de credores e o plano de reestruturação para a companhia deixar o Chapter 11. O passivo consolidado da Gol era, de aproximadamente, R$ 51 bilhões, ou aproximadamente, US$ 8,7 bilhões no fim de fevereiro deste ano. Pós-deal, essa dívida deve ficar em torno de R$ 30 bilhões.

Na sexta-feira, 6 de junho, a Gol informou em fato relevante que havia concluído a reestruturação financeira do grupo. A companhia aérea disse que saía do processo com a situação financeira fortalecida após levantar US$ 1,9 bilhão em financiamento junto a credores e investidores e quitar integralmente o financiamento na modalidade debtor in possession financing (DIP).

Como resultado, a Abra, holding que controla Gol e Avianca, passou a deter, direta ou indiretamente, aproximadamente 80% da totalidade das ações ordinárias e preferenciais da empresa.

“Após a reestruturação, a alavancagem da empresa permanecerá alta em 5,4x e a Abra agora deterá 80% da Gol. Ressaltamos ainda que a totalidade do capital social da Gol Investments é detida pela New GOL Parent (NGP), sociedade de capital fechado constituída de acordo com as Leis de Luxemburgo”, escreveram os analistas do BTG Pactual.

Às 13h, a ação GOLL4 na B3 estava em queda de 12,2% no dia. O valor de mercado estava em R$ 454 milhões. E o volume médio de negociação do papel era de R$ 18,6 milhões.