Em sua última jogada, o presidente Donald Trump impôs uma tarifa de 145% sobre os produtos chineses, enquanto aliviou, por 90 dias, a taxa para o resto do mundo para 10%. Um relatório do Goldman Sachs Global Research aponta que a estratégia dos Estados Unidos para atingir seu maior inimigo no xadrez deve reduzir o crescimento da China em 1 ponto percentual (p.p.) neste ano e em 2 p.p. em 2026, sendo uma das economias mais prejudicadas.

Apesar do impacto no crescimento chinês, o banco estima que os efeitos da política americana podem prejudicar muito mais empresas de outros países, como as do Brasil e da América Latina, do que as companhias da própria China.

Embora não veja grandes efeitos diretos das tarifas, o Goldman Sachs prevê que a desaceleração global provocada pela política de Trump cobrará um alto valor das companhias brasileiras. Pelas projeções dos analistas, o impacto deve ser de 13,9% no lucro líquido, de 7,9% no operacional e de 8,7% na receita, considerando as taxas originalmente anunciadas. Para as empresas chinesas, o Goldman Sachs prevê uma queda de receita de 2,1%, de 3,3% de lucro líquido e 3,2% no lucro operacional.

“A ameaça imediata de tarifas recíprocas globais pode ter desaparecido, mas as tarifas ainda permanecem e podem prejudicar os fluxos comerciais globais e, consequentemente, a saúde econômica global”, diz o relatório do Goldman Sachs.

O cálculo foi feito a partir das 37 empresas brasileiras cobertas pelo banco, com as estimativas ponderadas pelo valor de mercado do free float, o que dá peso relevante para empresas de commodities, como Petrobras e Vale. Do lado chinês, foram consideradas 443 do universo de cobertura do banco.

As estimativas do Goldman Sachs também consideraram uma apreciação de 5% do dólar em países emergentes, redução de 15% nas importações americanas e petróleo a US$ 65. As outras commodities, como o minério de ferro, foram precificadas de acordo com as estimativas do início da semana.

Um dos fatores que ajudam a blindar as empresas chinesas da ameaça tarifária é a maior concentração da receita e custos dentro de casa. Segundo o relatório, 84,4% da receita é doméstica, assim como 84,9% das despesas operacionais.

Para as companhias da Nova Zelândia, que tem 99,7% da receita local, o impacto direto e indireto das tarifas será próximo de zero, diz o banco. No Brasil, 72,5% da receita das empresas analisadas é interna, enquanto as operações locais representam apenas 66,9% do custo.

Mas nem de longe o Brasil está na pior posição. Pelas estimativas do Goldman Sachs, o país será um dos que apresentará o maior crescimento de lucro por ação neste ano, com alta de 23,4% – só a Turquia, no universo de análise do banco, deve ter um crescimento lucro maior, de 24,2%. O valuation de 10,2 vezes preço/lucro, abaixo da média histórica de 14,6 vezes, também joga a favor. Já o ROE (return over equity) esperado para os próximos 12 meses é de 20%.

Em situação mais delicada, aponta o banco, estão as empresas da Ásia, como Coreia do Sul e Japão, que, pela configuração original, sofreram tarifas na ordem de 25%. A taxa, temporariamente, caiu para 10% e os países buscam uma negociação. Se não houver avanços, no entanto, a estimativa do Goldman Sachs é de que os lucros caiam 20,4% no Japão e 24,9% na Coreia.

Os setores os mais afetados, considerando os efeitos diretos e indiretos das tarifas, deverão ser os de fármacos e automóveis. O impacto nos lucros líquidos deverá ser de 31,1% e 34,5%, respectivamente, segundo o banco americano.