O encerramento da segunda revisão do acordo de cerca de US$ 45 bilhões da Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), anunciado nesta segunda-feira, 19 de setembro, dá fôlego para que o país chegue a 2023.
O acordo ainda precisa ser aprovado pelo Conselho Executivo do Fundo nas próximas semanas. Mas o aval é dado como certo e garante ao governo argentino US$ 3,9 bilhões.
Não há dinheiro que tire a Argentina do caos econômico em que está mergulhada – como indica a inflação de 78,5% anualizada até agosto – mas alivia o caixa do governo e permite que o país pague ao próprio FMI uma parcela de US$ 2,8 bilhões que vence na quarta-feira, 21 de setembro.
A transferência de recursos antes da chegada do dinheiro do FMI é possível porque o Banco Central argentino vem engordando suas reservas, inclusive, com o “dólar de soja” – um programa que incentiva exportações da commodity com um dólar vantajoso aos produtores.
Em comunicado, o FMI informou que “as recentes e decisivas” medidas tomadas pela Argentina para corrigir “retrocessos anteriores” estão contribuindo para restaurar a confiança e fortalecer a estabilidade macroeconômica, inclusive reconstruindo reservas internacionais.
O FMI e as autoridades argentinas concordaram que as metas estabelecidas na aprovação do acordo permanecerão inalteradas até 2023. “A maioria dos objetivos do programa até o final de junho de 2022 foram cumpridos”, disse o órgão, com exceção do piso de reservas internacionais líquidas, devido principalmente ao aumento de importações.
Na frente fiscal, o FMI ratificou a meta de déficit primário de 2,5% do PIB neste ano e de 1,9% do PIB em 2023. A meta de reservas internacionais segue em US$ 5,8 bilhões ao final de 2022.
O FMI reconheceu melhorias nas finanças públicas baseadas em redução de subsídios para energia, água e transporte; priorização de gastos para execução de investimentos e a adequada proteção às famílias pobres; e o reforço de controle de gastos.
Quanto à política monetária, o FMI admitiu que o BC argentino está comprometido com a implementação contínua e consistente do quadro de política monetária que já está gerando taxas de juros reais positivas.
O Fundo considera a prática de juro real positivo uma condição necessária para que a Argentina fortaleça a demanda por ativos denominados em pesos, reduza pressões externas e apoie uma redução da inflação.
Há uma semana, o FMI divulgou um inesperado vídeo em que sua diretora-gerente Kristalina Georgieva destacou o “grande compromisso” do governo argentino com o programa acordado com o Fundo. Ela afirmou ter a sensação de que o país “é um sócio com o qual o organismo multilateral pode trabalhar bem”.
As declarações de Georgieva foram feitas ao final da visita do ministro argentino da Economia, Sergio Massa, a Washington, onde visitou autoridades do governo americano e o FMI acompanhado pelo primeiro escalão da equipe econômica, incluindo o presidente do Banco Central.
A iniciativa de Massa de envolver toda a sua equipe nas negociações com o FMI no processo de revisão do acordo foi elogiada por Georgieva e agregou pontos ao ministro que ainda não completou 50 dias à frente da Economia e, no dia 29 de setembro, embarca para a Europa para entendimentos com credores privados reunidos no Clube de Paris.