O sistema bancário europeu sofreu um novo baque nesta sexta-feira, 24 de março, puxado pela queda de 14% no preço das ações do Deutsche Bank, o maior da Alemanha e um dos principais da Europa, em virtude de uma forte alta no custo do seguro de dívida do banco contra a inadimplência.
O rali com os papéis do Deutsche Bank acabou impactando nas principais bolsas europeias, derrubando na esteira as ações de outros bancos do continente, como do Commerzbank da Alemanha (queda de 8,5%) e do Société Générale da França (recuo de 7,4%).
O índice Stoxx Europe 600 Banks da Europa, que acompanha 42 grandes bancos da UE e do Reino Unido, caiu 5% no meio do dia europeu. O índice FTSE 100, da Bolsa de Londres, recuou 2%. Os mercados futuros dos Estados Unidos também abriram em queda no pré-mercado, com o Dow Jones recuando 1,1%, o S&P 500, 1%, e o Nasdaq Composite, 0,71%.
O preço dos swaps de inadimplência de crédito de cinco anos do Deutsche Bank - derivativos que agem como seguro e pagam se uma empresa não cumprir seus pagamentos - subiu de 134 pontos-base, na quarta-feira, para 198 pontos-base, nesta sexta-feira, segundo dados da Refinitiv. Tais papéis dão ao detentor o direito de vender ações a um preço específico, em uma data determinada.
A turbulência no mercado europeu, que inicialmente repercutiu a crise bancária nos Estados Unidos - com a quebra de um banco de médio porte, o Silicon Valley Bank (SVB), no início do mês -, escalou no fim de semana com a compra apressada do Credit Suisse pelo UBS, numa operação polêmica intermediada pelo governo suíço e pelo banco central local.
O pano de fundo da atual instabilidade é a desconfiança dos mercados quanto à capacidade dos bancos europeus em manter a liquidez diante de uma série de fatores.
Entre eles, os seguidos aumentos das taxas de juros pelas autoridades monetárias para conter a inflação e seus efeitos, como o rápido aumento dos custos de empréstimos e a queda do valor dos títulos públicos em poder desses bancos (ativos que poderiam ser vendidos para assegurar a liquidez).
Os bancos centrais da zona do euro, EUA e Reino Unido avançaram nos últimos dias com a elevação dos juros, aumentando a tensão no setor bancário.
Na semana passada, o BCE, o BC da zona do euro, elevou em 0,5 ponto percentual os juros (hoje em 3,5%). Na quarta-feira, o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, aumentou a banda de juros em 0,25 ponto percentual (entre 5% e 5,25%). No dia seguinte, foi a vez do Banco da Inglaterra anunciar um aumento de 0,25 ponto percentual – os juros no país estão em 4,5%.
Outro efeito do impacto dos juros no sistema bancário europeu, esse indireto, foi a crise no Credit Suisse, o segundo maior banco suíço, que acabou sendo incorporado no final de semana pelo seu maior rival, o UBS, após enfrentar problemas de gestão desde o ano passado.
A operação de venda, por US$ 3,25 bilhões, foi alvo de críticas pela forma como foi realizada – os acionistas do Credit Suisse não foram consultados e, como parte do acordo, os detentores de títulos da classe AT1 do banco, que valiam US$ 17 bilhões, perderam os papéis, que não puderam ser resgatados.
Em outra frente de instabilidade do dia, houve queda das ações do UBS (6%) e do Credit Suisse (7%), depois que a agência Bloomberg informou que o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) estava investigando se o Credit Suisse havia ajudado oligarcas russos a escapar das sanções ocidentais. O DOJ enviou intimações a funcionários do banco antes que o UBS assumisse o Credit Suisse, de acordo com o relatório.
Michelle Cluver, vice-presidente e estrategista de portfólio da Global X, afirma que as mídias sociais estão adicionando combustível à volatilidade em torno do setor bancário.
“As menções diárias do Reddit ao Deutsche Bank estão se aproximando dos níveis vistos no Credit Suisse na semana passada”, disse ela ao NeoFeed. “Historicamente, o Deutsche Bank e o Credit Suisse eram vistos como problemáticos em suas operações, mas o banco alemão fez uma grande reformulação em 2019 e hoje está em uma posição muito mais forte.”