O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na quarta-feira, 15 de fevereiro, que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva pretende enviar a proposta de arcabouço fiscal para o Congresso Nacional já em março – e não em abril, como havia sugerido mais recentemente –, amenizou a tensão entre governo e o Banco Central, afirmando que Fazenda e BC conversam “todos os dias”, e traçou um cenário econômico favorável para o Brasil.
Haddad participou do painel “Perspectiva Econômica Brasileira” no CEO Conference 2023, evento do BTG Pactual, no qual foi sabatinado por Mansueto Almeida, economista-chefe do banco.
“A proposta de enviar as medidas em março é fruto de uma ponderação do ministro Geraldo Alckmin e da ministra Simone Tebet, para que as medidas tramitem em abril, no Congresso, junto com a LDO (Leis de Diretrizes Orçamentárias)”, disse Haddad.
O ministro da Fazenda procurou esfriar a tensão entre governo e Banco Central – alvo de pressão nas últimas semanas, para baixar as taxas de juros, hoje em 13,75% –, afirmando que a melhor forma de endereçar problemas fiscais e monetários é pela busca de consenso, o que exige paciência.
“A situação do País hoje é melhor do que há um mês, apesar de estar sendo contaminado pelo ruído”, afirmou Haddad. “Lamento que a autoridade monetária se deixe levar um pouco por isso, mas precisamos ir no fundamento, no que interessa”, acrescentou.
Segundo ele, apesar do ruído, “não há motivo para se preocupar”, afirmando que Fazenda e BC conversam todo dia e tomam decisões conjuntas, ou seja, o diálogo sempre existiu.
“Não existe uma política aqui e outra lá, existe uma política econômica, que é obtida pelo consenso”, prosseguiu.
Haddad buscou passar otimismo, afirmando que sua pasta prepara propostas para melhorar o crédito e que as receitas do governo fecharam em R$ 13 bilhões em janeiro, valor acima do previsto.
“Apesar dos efeitos deletérios desses 8% de juros reais, se seguirmos a tendência vamos fechar o ano com déficit menor que 1%”, disse o ministro, enfatizando que é preferível chamar a atenção para a questão dos juros do que para a meta de inflação.
“Nenhum país cumpriu a meta; quem mais se aproximou dela foi justamente o Brasil porque 'socamos' a taxa de juros lá para cima”, emendou Haddad, fazendo coro com as críticas à meta de inflação que os gestores Rogério Xavier, Luis Stuhlberger e André Jakurski direcionaram a ele no painel anterior. Porém, o ministro da Fazenda evitou retomar a polêmica sobre o tema com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Haddad ressaltou que a negociação e votação da reforma tributária também é prioritária para o governo. Ele abordou o tema ao reclamar da herança deixada pelo governo anterior.
“Estou reonerando as barbaridades que foram cometidas pela gestão passada enquanto preparo o terreno para a reforma tributária”, disse, citando as despesas tributárias que recaíram aos estados por causa de medidas tomadas pelo governo Bolsonaro no segundo semestre de 2022.
“Essas despesas são regimes especiais tributários que levam o governo a perder arrecadação, fragiliza os estados e torna o Executivo vulnerável, com esses sistema tributário frankenstein que temos”, disse.
Direto na matriz
Apesar dos problemas, Haddad deixou claro que o Brasil tem uma “janela de oportunidade” em meio à crise econômica global por causa da nossa matriz energética.
“O que nos atrapalha é a ansiedade. Estamos numa posição política e econômica favorável, o mundo inteiro está de olho no Brasil”, disse, citando a crise na Europa com a guerra, a tensão entre Estados Unidos e China e a instabilidade econômica na Turquia, África do Sul e nos vizinhos Argentina e Venezuela.
Haddad disse que, durante sua participação no Fórum Econômico de Davos, foi procurado por empresas que pretendem investir no Brasil. Segundo ele, a exigência é que a produção industrial seja feita com energia limpa.
“Pega o mapa-múndi e olha para nossa matriz energética: está no jeito, mas temos de ser ágeis”, disse.