A economia brasileira vem caminhando na direção correta, demonstrando recuperação em seus principais indicadores econômicos. Fora isso, apresenta diferenciais de mercado e climáticos que podem voltar a impulsionar o crescimento. Falta apenas uma coisa: Brasília não atrapalhar.

O papel do governo na retomada, mais especificamente, de não criar empecilhos, foi um consenso no painel desta quinta-feira, 9 de novembro, realizado no Macro Vision, com três grandes empresários do País: Abilio Diniz, Rubens Ometto e Eugênio Mattar.

“O Brasil é um país fantástico, é o celeiro do mundo, temos energia abundante, barata, o agronegócio, a parte de mineração fantástica, sob esse aspecto está tudo organizado e podemos continuar crescendo”, disse Ometto, presidente do conselho de administração do Grupo Cosan. “Mas temos um problema sério, da gestão da parte política do nosso País.”

Segundo ele, o governo atual não demonstra clareza sobre como controlar o déficit fiscal. O arcabouço fiscal gerou uma corrida para aumentar a arrecadação, arriscando a segurança jurídica para as companhias.

Ometto citou ainda a disputa entre os poderes, que resulta em um tentando interferir nas atribuições do outro. “É algo que precisa ser resolvido para que o equilíbrio fiscal seja reestabelecido”, afirmou. “Com o déficit fiscal resolvido, você tem a garantia da inflação baixa, levando a juros baixos e leva os empresários a investirem mais.”

Diniz foi além. Segundo o presidente do conselho da Península e conselheiro do Carrefour no Brasil e na França, além das questões políticas, falta ao País mais ambição e um plano para pensar a economia, buscando um crescimento maior do que se projeta atualmente.

“Acho que está tudo certinho, o Brasil está num bom momento, com desemprego caindo, inflação caindo e taxa de juros ameaçando cair”, afirmou. “Estamos num momento bom para crescer 3% neste ano, e talvez 2,5% no próximo, mas é isso que nós precisamos para fazer aquilo que o Brasil precisa?”

Ele criticou as perspectivas de queda dos investimentos privados, destacando que após chegar perto dos 20%, ela corre o risco de alcançar 17%, prejudicando as perspectivas econômicas. “Não se faz crescimento sem investimento, não dá”, disse Diniz. “Aí vemos a luta do governo por mais verba, não ter corte, ter dinheiro para investir.”

Para ele, o governo não precisa amar a Faria Lima, basta criar as condições para que os empresários voltem a investir. “Vamos dar condições, segurança política, jurídica, e vamos botar todo mundo para investir e colocar esse país para crescer”, disse.

Para Mattar, presidente do conselho de administração da Localiza&Co, o Brasil é um país com “estabilidade bem instável”, o que leva a companhia a ser bastante prudente. Mesmo assim, ele destacou que existe ambição para fazer coisas diferentes, ainda que a economia não esteja navegando tão bem.

Além da situação fiscal, ele destacou que falta uma discussão em Brasília sobre como elevar a produtividade no País. “Essa agenda nós não escutamos”, afirmou.

Embora tenha feito críticas, Mattar disse que o País melhorou muito desde quando fundou a Localiza, em 1973. “Sobrevivi a Plano Collor, os planos todos, então já tivemos tempos muito piores, posso dizer que o Brasil é muito melhor do que era e está muito mais estável e organizado institucionalmente”, afirmou.

Mattar destacou ainda o florescimento do mercado de capitais, que facilitou a captação de recursos de longo prazo pelas companhias.

“Eu sou muito otimista, apesar de prudente”, disse. “O Brasil tem muitas oportunidades, é só a gente saber fazer melhor e mais bem feito que as oportunidades existem e a gente consegue capturá-las.”