O encerramento da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira, 17 de setembro, que deverá manter a Selic em 15%, será caixa de ressonância para mais dois indicadores de atividade que viram a página do primeiro semestre marcado pela desaceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira.

A divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) pelo Banco Central e do Monitor do PIB pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), respectivamente, na segunda-feira e terça-feira, 15 e 16 de setembro, vale como “prova dos nove”. Após a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,3% para 0,4% do primeiro para o segundo trimestre a economia está em ponto-morto ou declina?

Os dois indicadores são de julho e reforçam a bateria estatística do início do terceiro trimestre já disparada pelo IBGE que reportou fragilidade na produção industrial, vendas no varejo e serviços. Contexto em que o IBC-Br e o Monitor ganham relevância porque a economia segue sob poderosa restrição monetária, sustentada pelo BC que busca a meta de inflação de 3% em meio a um mercado de trabalho ainda forte com taxa de desemprego de 5,8% em junho – a menor da série histórica e com chance de renovar a marca com o resultado da Pnad Contínua de julho a ser apresentado também na terça-feira, 16.

O IBC-Br e o Monitor do PIB são “leitura prévia” do PIB calculado oficialmente pelo IBGE e conhecido a cada trimestre. Com frequência mensal, a dupla de indicadores antecipa tendências, contribui para decisões monetárias e orienta expectativas de bancos e consultorias que, nessa altura do ano, apontam para declínio gradual da atividade nos próximos meses. Mas percalços à frente não são descartados e tampouco limitados a 2025.

Primeiro, porque há uma precoce “batalha” eleitoral em curso rumo a outubro de 2026 que ofusca a análise fria de decisões de governo que estão sendo (e podem ser) anunciadas para sustentar a demanda e fortalecer a imagem do presidente Lula. Segundo, porque o risco de Donald Trump lançar novas medidas contra o Brasil e/ou autoridades, encerrado o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, é real e alimenta incertezas.

Em contraponto, ampara uma visão mais otimista, a percepção de que a renda do trabalho, programas sociais, pagamento de precatórios e o “Plano Brasil Soberano” – com apoio financeiro de R$ 30 bilhões a setores mais atingidos pelo tarifaço – poderão evitar perda acelerada de tração da atividade. Até por isso, a inflação, mesmo declinante ao longo do tempo, exibe resistência e poderá dar mais trabalho ao BC.

O IBC-Br e o Monitor do PIB, somados a índices de confiança em queda, poderão refinar projeções para a Selic e para o PIB do terceiro trimestre. E fortalecer ou liquidar apostas no corte da taxa mais cedo do que mais tarde.

Mercado de trabalho “empurra” Fed para corte

Na Focus, o mercado sinaliza início do corte da Selic em janeiro com deslocamento da taxa de 15% para 12,50% ao final de 2026 – senha de que o aperto monetário persistirá. Algumas instituições preveem redução durante o primeiro trimestre e não exatamente em janeiro, mas de olho nas próximas decisões do Federal Reserve (Fed) que poderão mobilizar o BC de Gabriel Galípolo rumo à flexibilização mais rápida ou mais agressiva.

O BC norte-americano também define juro no dia 17 e deverá cortar sua taxa em 0,25 ponto percentual. Decisão que poderá ser replicada em outubro e dezembro, forçando ainda mais a queda do dólar globalmente e com respingo no câmbio doméstico. Bom para o controle da inflação. O Banco da Inglaterra e Banco do Japão – entre os maiores do planeta – calibram suas taxas nos dias 18 e 19 de setembro.

A LCA 4intelligence observa que – afora a revisão de dados divulgada em 9 de setembro que acusou criação de vagas muito menor que a antes informada – o mercado de trabalho norte-americano continua em distensão, a uma velocidade aparentemente um pouco mais rápida do que as estatísticas vinham sugerindo. E reforça a premissa da consultoria de que o ritmo de crescimento da economia dos EUA sofrerá “relevante moderação”, consolidando apostas de que o Fed começará a cortar o juro no dia 17.

Entretanto, alerta a LCA, a hipótese de flexibilização mais célere da política monetária dos EUA só passaria a preponderar em caso de uma guinada recessiva, com deterioração mais rápida e aguda do mercado de trabalho. Por ora, o cenário aponta para um “pouso suave”. Com foco no Brasil, a consultoria lembra que o desemprego ronda mínimas históricas. E a criação de vagas formais, embora com alguma desaceleração, mostra dinamismo, sugerindo que a distensão do mercado de trabalho por aqui deverá seguir lenta e irregular nos próximos meses.

“A menos que ocorra um esfriamento mais agudo das economias global e doméstica, continuamos a avaliar que a política monetária só começará a ser flexibilizada, no Brasil, em março de 2026 – perspectiva compatível com o sinal do BC de manutenção da Selic por período bastante prolongado” avalia a LCA.

Já a XP vê um ciclo gradual de corte no Brasil a partir de janeiro, levando a Selic a 12% ao longo de 2026. O Banco do Brasil também projeta 12% ao final de 2026, mas prevê redução a partir de março. A XP pondera, entretanto, que novas reduções que aproximem a Selic do nível neutro – entre 9% e 10% – dependerão de reformas fiscais que reduzam a expansão das despesas públicas nos próximos anos. Mas a probabilidade de tais reformas ocorrerem está diretamente relacionada à campanha para a eleição presidencial de 2026.

Entre os maiores bancos comerciais privados, o Santander Brasil é o que projeta Selic mais alta, 13%, ao final de 2026 e corte a partir de março. E explica o motivo: esse prazo permitiria à nova diretoria do Copom reforçar uma “estratégia gradual e oportunista de desinflação”. Em 31 de dezembro expiram os mandatos dos diretores Renato Gomes (Organização, Sistema Financeiro e Resolução) e Diogo Guillen (Política Econômica).