Qual o valor embutido atualmente em um item raro e o quanto o valor emocional do público pode alterar o preço ou a escassez daquele produto? Sabemos que existem diversas formas de colecionar algo, desde brinquedos antigos, moedas de outros países ou até mesmo peças de vestuário, como um tênis.
Mas, com a cultura se movendo cada vez mais rápido, as pessoas têm criado verdadeiras comunidades para compartilhar o interesse comum sobre artigos que trazem consigo um “quê” de exclusividade. E isso diz muito sobre as oportunidades que o mercado digital está proporcionando para essa mudança de hábitos e comportamentos.
Para que você possa entender melhor o que quero trazer aqui, vou começar explicando meu ponto sobre a economia dos colecionáveis e o que podemos aprender com ela. A busca por esses itens colecionáveis é grande e tem ganhado destaque também nas formas digitais, um business de muito sucesso.
Com isso, as marcas vêm se adaptando e procurando opções de como atrair o seu público para esse meio, tornando os produtos mais atrativos, além de serem todos legítimos. Foi então que surgiu a StockX, um marketplace que vende streetwear e, principalmente, tênis.
Se você ainda não sabe do que se trata, é importante saber que a ideia do negócio veio através da paixão que os fundadores, os americanos Josh Luber, Greg Schwartz e Dan Gilbert, têm por sneakers. A ideia foi construir um ecossistema mercadológico próprio com base na legitimidade do que é vendido, o que é visto como um grande desafio.
Dentro dessa plataforma, assim como os criadores do negócio, os amantes dos tênis, conhecidos como Sneakerheads, são a maioria dos usuários e, além disso, os que mais geram receita. Lá, os colecionadores têm um catálogo gigante de produtos e várias opções de colecionáveis e até itens exclusivos, desde os próprios sneakers até bolsas, relógios, eletrônicos, enfim, uma variedade infinita de opções.
E como funciona esse mercado? Ele atua como uma espécie de ponte de negociação entre vendedores e compradores. Os usuários podem ir em busca de algo que não se encontra mais atualmente. Através disso, os vendedores são beneficiados por uma espécie de leilão, em que milhares de consumidores fazem um lance do quanto estão dispostos a pagar por aquilo.
Quem der o maior lance consegue adquirir o produto, atraindo ainda mais a atenção dos clientes, já que ele terá comprado algo único e exclusivo. Tudo que esse universo vem construindo na cultura tem sido de um impacto imenso e vem movimentando muito o mercado. Algumas pessoas, inclusive, têm optado pela compra dos sneakers em vez de investir em ações, já sabendo quanto o tênis vai valorizar lá na frente.
Cada vez mais, as pessoas inspiram-se em nomes influentes do meio digital e prezam pela qualidade da experiência de compra
Cada vez mais, as pessoas inspiram-se em nomes influentes do meio digital e prezam pela qualidade da experiência de compra, além de terem a necessidade de estarem antenados no hype da moda. Aliás, a esse último fator atribui-se o fato de que representam uma forma de inserção em determinadas comunidades.
Logo, quando elas enxergam e se identificam com aquele estilo, ou com aquela celebridade que admira, é automática a necessidade de fazer parte daquilo e o primeiro passo, muitas vezes, é adquirir um item daquele meio. De novo, é a cultura se movendo de forma veloz e transformando o comportamento das pessoas, percebe?
Permita-me dar mais um exemplo sobre como a economia dos colecionáveis move o mundo. O modelo Nike Air Jordan 1S — que foi usado em quadra em 1985 e autografado pelo próprio ícone, o jogador de basquete Michael Jordan – foi vendido por US$ 560 mil em um leilão da Sotheby 's em maio de 2020. Eu diria que esse é um dos exemplos mais emblemáticos e que deu início a uma verdadeira comunidade.
Isso fez com que a marca criasse um autêntico hype sobre o produto. Até hoje ele representa um objeto de desejo entre os fãs de sneakers, que, claro, passaram a ser atendidos por um amplo mercado de produtos cocriados com atletas, celebridades e ídolos desejados.
Outro exemplo disso foi o fenômeno do Pokémon, quando o youtuber Logan Paul gerou uma grande influência na venda das cartas na StockX, após ter gastado US$ 2 milhões comprando pacotes de colecionadores e fazendo lives para abrir essas cartas e mostrar ao público, o que gerou uma enorme procura por elas na plataforma.
Fica claro, então, o quanto esse movimento tem mudado de forma brusca o cenário da cultura e do mercado, gerando ainda mais valor, criando mais formas de vendas e revendas, além de lançamentos exclusivos, com destaque nos modelos digitais, como são os casos das NFTs (tokens não-fungíveis). Tudo isso dentro da StockX.
Algumas lojas já têm atuado colocando na versão digital algum produto que já exista no mundo físico. Caso a busca pelo modelo físico seja maior, a tendência é que o item em NFT se torne mais escasso, aumentando o seu preço e tornando o mais valioso. A partir daí, o mundo de opções é imenso e o consumidor pode aproveitar cada oportunidade.
Um caso recente que também quero trazer para vocês em torno desse assunto, foi uma aquisição feita recentemente pela Nike. A empresa americana comprou uma startup de NFTs colecionáveis, a RTFKT, que tem como grande sucesso um tênis híbrido colecionável, inspirado na coleção NFT CryptoPunks.
A ideia é que a marca esteja cada vez mais inserida nesse mercado, dessa vez atuando no metaverso. E, segundo o próprio John Donahoe, presidente da companhia, isso acelera ainda mais a transformação digital da Nike, que visa a atender seu público de atletas e criadores nos ramos de esporte, criatividade, jogos e cultura. Exemplos como esses nos mostram que marcas precisam estar atentas à movimentação da cultura e ao que a tecnologia tem oferecido.
Quando você consegue entender a dimensão por trás de um item que parece simples, você consegue estar mais próximo da sua comunidade e, principalmente, compreender onde essas pessoas estão concentradas. Isso pode ser a chave de muitas portas para os seus negócios. O universo digital é uma das maiores realidades que estamos vivenciando e, com toda certeza, afirmo que vem muito mais por aí.
Rapha Avellar é fundador da Adventures