O IBGE, o Banco Central e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas divulgam nos próximos dias três indicadores que fecham o primeiro trimestre do ano: pesquisa do setor de serviços, Indicador de Atividade Econômica (IBC-Br) e o Monitor do PIB.
A pesquisa de serviços sai na terça-feira, 14 de maio; o IBC-Br na quarta, 15 de maio; e o Monitor do PIB na quinta, 16. Os dados são de março, já distante no calendário, mas arrematam estatísticas fundamentais para projeções da atividade econômica. O segundo trimestre vem com tropeços.
Em abril, o Brasil não escapou da turbulência externa com foco na perspectiva, já confirmada, de manutenção do juro americano em patamar elevado por mais tempo e da mudança na meta fiscal de 2025 em diante.
E maio se mostra desafiador pela tragédia ambiental e humanitária que solapa o Rio Grande do Sul e pelo “freio de mão” na Selic puxado pelo Copom na quarta-feira, 8 de maio. O colegiado optou por desacelerar o corte da taxa de 0,50 ponto percentual para 0,25, para 10,50%. E o racha na decisão fez disparar os juros futuros – aqueles que realmente importam para o crédito.
A tragédia no Rio Grande do Sul, por sua vez, contrata alguma perda de PIB e alta de preços dos alimentos, sobretudo, no atacado que, no tempo, tende a se estender ao varejo. Por ora, o impacto é impreciso.
Dados recém-divulgados sobre produção industrial e vendas no varejo em março vieram aquém do esperado, mas apontaram para um primeiro trimestre consistente, favorecido também por índices de confiança benéficos e expressiva criação de empregos formais e aumentos reais de salários.
Indicadores financeiros, porém, estavam e continuam salgados. No primeiro trimestre a Selic recuou de 11,75% para 10,75% e, agora em maio, declinou a 10,50%; de janeiro a março, a inflação em 12 meses declinou de 4,51% a 3,93% e a expectativa para 2025 congelou em 3,50%. Entretanto, essa estimativa já subiu a 3,64% na Focus publicada em 6 de maio.
O dólar virou o ano a R$ 4,85, avançou a R$ 5 e escalou a R$ 5,30 em abril. Nas últimas semanas devolveu parte da alta, mas não caiu abaixo de R$ 5.
Os primeiros dados de atividade de abril, publicados em maio, sugerem um segundo trimestre positivo, mas sem o ímpeto observado anteriormente. Já para o segundo semestre, os prognósticos são de moderação.
E justificam, inclusive, estimativas de que o PIB deste ano não reprisará a alta de 2,9% vista em 2023. Deverá ser menor para arrepio do governo que deverá – como já vem fazendo – fomentar o crédito para turbinar a economia, mas possivelmente com maior dificuldade, dada a arrancada dos juros mais longos.
“Dia das Mães” e juro testam consumidores
Um teste e tanto para as expectativas mais otimistas quanto à atividade bate à porta. Virá do “segundo Natal” do ano para os varejistas – como é conhecido o Dia das Mães celebrado no domingo, 12 de maio.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) prevê expansão de 3,5% nas vendas na comparação anual, com giro financeiro de R$ 13,23 bilhões e criação de quase 26 mil empregos temporários.
Ao NeoFeed, Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), lembra que o consumo do Dia das Mães, em volume, valor e uso de crédito é importante referência sobre a propensão e capacidade de consumo dos brasileiros.
Maio é relevante também porque indicará, segundo Tingas, efeitos da mudança da sinalização de política monetária e sua repercussão sobre os juros de prazos mais longos – uma combinação que pode afetar a confiança do consumidor.
“Prevalece, entretanto, crescente otimismo com o ritmo de atividade e liquidez na economia neste 2024. Condições que, pelo lado da oferta, favorecem a concessão de crédito. A carteira total deve fechar 2024 com expansão próxima a 10%”, diz o economista. Em 2023 o crédito cresceu 8,1%.
Pelo lado da demanda, acrescenta, já contribuíram para que o primeiro trimestre registrasse uma gradual e firme retomada: o aumento do salário mínimo, aposentadoria e benefícios; programas de inclusão social e de renda; renegociação de débitos com ampla atuação do sistema financeiro privado; redução de custos e aumento de limites do consignado e oferta de crédito público em escala crescente e, em casos específicos, em condições facilitadas.
Ainda positivo para o crédito é a melhora do fluxo de caixa do consumidor de baixa renda que favorece sua capacidade de poupança e consumo. Para a média e alta renda, o aumento da atividade e liquidez na economia melhoram a condição para aquisição de ativos móveis e imóveis, explica Tingas.
Quanto às empresas, acrescenta o economista-chefe da Acrefi, as grandes voltam a encontrar um mercado de capitais favorável à emissão de dívida privada em melhores condições para financiar negócios e investimentos. E as micro e pequenas têm fluxo de caixa beneficiado, inclusive, para gradual reestruturação se passivos alavancados no sistema financeiro.
Do lado da oferta, pontua, institucionalmente reforça o otimismo das instituições a redução gradual, mas significativa, das perdas inesperadas em operações junto a grandes empresas e reestruturação e mitigação de riscos.