A batalha do governo contra o juro alto do Banco Central (BC) teve uma trégua com o encaminhamento da âncora fiscal e do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ao Congresso, mas volta com tudo em uma semana de arromba.

Enquanto a Câmara inicia a avaliação do marco fiscal que teve comedida recepção no mercado – dadas as exceções ao limite de gastos e imprevisibilidade quanto ao aumento de receitas – o juro estará sob holofotes.

E, desta vez, sob pressão do conjunto de medidas anunciado pelo Ministério da Fazenda, na quinta-feira, 20 de abril, para estimular o mercado de crédito, de capitais e de seguros, além de parcerias público-privadas (PPPs) de Estados e municípios que terão garantia do Tesouro.

Ao acenar com maior oferta de recursos, a Fazenda também busca reduzir o custo do dinheiro e, claro, baixar a guarda do BC em sua incessante e, para alguns, intransigente vigília contra a inflação.

Nos próximos dias, o BC será alvo do Executivo e da ala política do governo, com a superexposição de Roberto Campos Neto, a menos de uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 2 e 3 de maio.

Apesar do risco de a possível instalação da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro monopolizar atenções e tirar espaço da pauta econômica, a agenda parlamentar prevê Campos Neto como protagonista de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado na terça-feira, 25 de abril, para explicar a política de juros da instituição.

Dois dias depois, na quinta-feira, 27 de abril, Campos Neto deverá dividir a cena com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, no plenário do Senado em debate sobre juros, inflação e crescimento econômico.

Iniciativa do presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o evento será potencializado pela presença de representantes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e de confederações setoriais.

Um quórum tão qualificado adicionará pressão sobre a autoridade monetária para o corte da Selic, alta demais e por tempo demais. No governo, sua redução também é vista como necessária contribuição ao ajuste fiscal por conter despesas com pagamento de juros sobre a trilionária dívida pública.

Mais que isso, em uma semana, a Fazenda entregou o arcabouço fiscal e o pacote do crédito. Uma contrapartida é esperada, o que não significa que o BC vai alterar seu plano de voo, que consiste em manter a Selic em 13,75% enquanto sua diretoria não estiver convencida de que a inflação embica para as metas e com expectativas domadas.

E essa orientação transcende declarações de Campos Neto, agora mais blindado contra críticas, graças à comunicação ampliada entre os membros de sua diretoria – ideia por ele defendida e que traz para o Brasil procedimentos do Federal Reserve (Fed).

No BC dos Estados Unidos, os dirigentes expõem publicamente opiniões pessoais sobre as políticas da instituição não raro divergentes de declarações do presidente Jerome Powell. E sem telequete.

Na primeira semana de abril, a diretora de Assuntos Internacionais e de Risco Corporativo do BC, Fernanda Guardado, conversou com o Valor Econômico. Na terça-feira, 18 de abril, o diretor de Regulação do BC, Otávio Damaso, falou à Folha de S.Paulo.

Ambos reafirmaram a sinalização do Copom de que a redução da Selic ocorrerá quando o BC tiver “mais certeza” e “conforto” quanto à convergência da inflação para a meta.

Até por essas declarações, somadas à afirmação do presidente do BC, em Londres na quarta-feira, 19 de abril, de que a inflação se mostra muito resiliente, o mercado dá como certa a manutenção do juro em maio.

Entretanto, economistas não descartam a possibilidade de o Comitê sinalizar – ao final da reunião do dia 3 – uma flexibilização da política monetária.

E essa expectativa está ancorada, entre outros fatores, na finalização da proposta da nova âncora fiscal, ponto alto da agenda do governo no retorno da delegação brasileira da viagem à China, e na redução de incertezas.

“Da mais recente reunião do Copom para cá, as incertezas diminuíram. A proposta do arcabouço fiscal foi concluída, parte dos prêmios embutidos nos preços dos ativos brasileiros caiu e a perspectiva é de projeções mais baixas de inflação que podem convergir para a ancoragem das expectativas”, pondera José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, que, adicionalmente, alerta para a melhora do cenário externo.

Ele avalia que alguns eventos recentes conspiram a favor de uma moderação dos bancos centrais quanto à alta de juros e, por tabela, a favor da desvalorização do dólar ante outras moedas. E lista a crise bancária, o receio de repique desta crise, a inflação americana abaixo do esperado em março e sinais de desaceleração no mercado de trabalho também nos Estados Unidos.

A inflação americana mais confortável, com a queda do índice cheio e do núcleo, levou à queda dos juros em mercado e, com eles, o dólar.

“Esse movimento promoveu a revisão de projeções”, observa Gonçalves. “E a perspectiva de elevação do juro pelo Fed, que poderia chegar ao final do ano em 5,75%, agora é projetada em 5,0%. Cenário que nos favorece, lembrando que dólar em queda afeta positivamente as expectativas de inflação por aqui, via bens comercializáveis que não são pouca coisa em nosso índice.”

O economista arremata: “A expectativa da inflação para 2024 e 2025 vai começar a ser afetada pelas projeções dos preços dos serviços; misto de recessão e inércia”.

Nos próximos dias, a agenda internacional não vai dar moleza. Analistas estarão em contagem regressiva para reuniões de política monetária dos maiores bancos centrais do mundo.

Assim como o Copom, o Fed se reúne em 2 e 3 de maio e o Banco Central Europeu (BCE) discute juro no dia 4. As perspectivas são de manutenção da Selic e aumento de taxas pelo Fed e BCE – talvez os últimos movimentos para o encerramento dos ciclos de aperto monetário.

Na semana de 24 a 28 de abril, Estados Unidos, Zona do Euro e Alemanha também divulgarão o Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre.

Por aqui, o Tesouro publicará as contas do governo central (Previdência, BC e Tesouro Nacional) de março. O BC vai disparar balanços das operações externas e de crédito e o resultado consolidado das contas públicas.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o IPCA-15 de abril e a Fundação Getulio Vargas (FGV), o IGP-M também de abril.

Estatísticas do mercado de trabalho – Caged e Pnad Contínua – encerram os trabalhos e um agitado mês de abril.