Paixão de Cristo e Dia de Tiradentes – feriados marcados para 18 e 21 de abril – desconectam temporariamente o mercado brasileiro do internacional e recomendam cautela aos investidores. Os negócios estarão paralisados na bolsa brasileira, B3, na próxima sexta-feira e na segunda seguinte.

A pausa de 90 dias para aplicação das tarifas recíprocas anunciada por Donald Trump na quarta-feira 9 de abril – quando também elevou a 125% a taxação contra produtos da China para, no dia seguinte, confirmar 145% – não dispensa operações defensivas para conter riscos.

Dada a errática postura de Trump, as incertezas persistem e permeiam as negociações com ações, juros, câmbio e commodities. Sem discriminação geográfica, todos os ativos seguem expostos a decisões que podem pipocar da Casa Branca em ritmo “overnight”. Para o bem ou para o mal.

Após perdas trilionárias especialmente nas bolsas de valores internacionais na sequência da formalização das tarifas recíprocas por Trump em 2 de abril – agravada por taxações ampliadas e retaliação sobretudo da China – impera nos mercados uma instabilidade que a trégua de 90 dias não vai eliminar. Inclusive por não haver garantia do que virá em seguida no comércio mundial.

Na quarta-feira, após o “recuo” tarifário, todos os segmentos de negociação nos mercados dispararam num misto de alívio e iniciativa de recuperar preços. Mas prejuízos decorrentes de chamadas de margem para garantir a liquidação de contratos firmados nos mercados futuros não foram dissipados.

A necessidade de “fazer caixa” e honrar posições, combinada à crise de confiança que se abateu sobre os títulos do Tesouro americano, desencadeou vendas de ativos de alta liquidez e ampliou a volatilidade de instrumentos que são referências globais – caso dos Treasuries que orientam a remuneração de dívidas soberanas do mundo inteiro.

O Brasil escapou de uma reprecificação mais intensa na esteira do tarifaço de Trump por ter uma economia fechada, ter sido taxado com a alíquota mínima de 10% – agora compartilhada, por 90 dias, por todos os parceiros comerciais dos EUA exceto China – também por praticar juro de quase 15% e dispor de US$ 332 bilhões de reservas cambiais. Uma estupenda linha de defesa.

Entretanto, o “modo cautela” prevalece e para além das fronteiras dos mercados, devido à perspectiva de desaceleração da atividade nos EUA que, se confirmada, contaminará a economia mundial.

Até a trégua tarifária, expoentes do universo financeiro e corporativo davam como certo o mergulho dos EUA numa recessão. A postergação do tarifaço abrandou essa avaliação, mas sem aliviar a expectativa de que pressões inflacionárias já estão contratadas e pegarão os bancos centrais de jeito.

Caos agrava “dilema” da política monetária

Circunstância que reaviva o dilema dessas instituições na gestão se suas políticas: controlar a inflação perseguindo metas “sucateadas” no pós-pandemia pela arrancada de preços decorrente da quebra de cadeias de suprimentos ou blindar a atividade, o emprego e a renda?

Mesmo com o tarifaço postergado, o dilema das autoridades monetárias se faz presente. Todas as atenções seguem voltadas ao maior BC do mundo, o americano Federal Reserve (Fed). Entretanto, será o Banco Central Europeu (BCE) o primeiro a definir sua taxa nesse inédito e caótico contexto econômico.

Enquanto o Fed tem seu próximo encontro de política monetária em 6 e 7 de maio, o BCE definirá sua taxa na quinta-feira, 17 de abril. Esse é o principal evento de mercado dos próximos dias numa agenda que inclui uma bateria de indicadores da China. Entre eles, o PIB do primeiro trimestre.

O BCE poderá cortar sua principal taxa de juro em 0,25 ponto, de 2,50% para 2,25%, na sétima redução consecutiva. Porém, o tarifaço de Trump, mesmo adiada, colocou essa possibilidade na berlinda. Em março, o banco indicou estar “bem encaminhada” a convergência da inflação para a meta de 2%.

Entretanto, as medidas tresloucadas de Trump tornaram as projeções incertas e integrantes do comando do BCE passaram a divergir publicamente quanto à continuidade do alívio monetário. Mas pesquisa Reuters divulgada na quinta-feira, 10 de abril, revela que 61 de 71 economistas entrevistados preveem a redução da taxa que poderá voltar sofrer novo corte em junho, para 2%.

No Brasil, a semana será arrematada pelo feriado da Paixão de Cristo, sexta-feira 18 de abril. E a semana seguinte será igualmente abreviada pelo Dia de Tiradentes na segunda-feira, 21. Os próximos dias serão esvaziados de indicadores econômicos locais. Mas as contas públicas estarão em destaque.

O Orçamento deste ano – aprovado no Congresso com três meses de atraso – foi sancionado na quinta-feira, 10 de abril, pelo presidente Lula. E a Comissão Mista de Orçamento (CMO) deverá receber na terça-feira, 15 de abril, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026.

O texto define as bases de construção do Orçamento da União do ano que vem. Ano eleitoral e, portanto, altamente relevante. O ministro Fernando Haddad confirmou a expectativa de que, na proposta para 2026, o Executivo reafirmará a meta de superávit primário das contas públicas de 0,25% do PIB.

A meta fiscal de 2026 foi originalmente fixada em superávit de 1% do PIB, mas acabou reduzida com metas subsequentes há exatamente um ano. Iniciativa que levou à deterioração significativa das condições financeiras e aumento da percepção de risco fiscal, “sinalizando uma estabilização mais longínqua da dívida”, pontua o Itaú Unibanco em relatório sobre política fiscal.

O documento informa que as duas principais pautas em discussão no Congresso são a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil mensais e o Comitê Gestor da Reforma Tributária. A isenção do IR deve ser aprovada no segundo semestre, mas com alterações, principalmente no formato das compensações, segundo especialistas do Itaú. Ainda em abril, o governo deverá enviar à apreciação parlamentar a proposta do novo Vale-Gás.