Em 10 de dezembro, o calendário crava a última “superquarta” de 2025. Nessa data, o Banco Central e o Federal Reserve, BC dos EUA, anunciam suas taxas básicas de juro em contagem regressiva para renovações no comando. Ainda que incomparável pelo porte das instituições e relevância dos postos em rotação, o processo sucessório poderá emitir sinais – ou alimentar especulações – sobre a condução da política de juro e a influência ou a ingerência do Executivo na orientação da autoridade monetária. Lá e cá.
A princípio, porém, a dupla segue um mesmo itinerário de redução de juro em 0,25 ponto percentual, mas em descompasso temporal. Nada menos que 94% das apostas que envolvem US$ 245 milhões na plataforma Polymarket apontam mais uma redução da taxa – a terceira do ano – nos EUA neste dezembro para o intervalo de 3,50% a 3,75%. Para ajuste semelhante, a ferramenta FedWatch, do CME Group, aponta 89,2%.
Já a Selic poderá declinar a 14,75% em janeiro indica a Focus. Projeção fortalecida pelo resultado do PIB do terceiro trimestre que avançou 0,1%, ante o período anterior e abaixo do esperado. A revisão da série histórica pelo IBGE autoriza projeção ligeiramente mais elevada de crescimento para 2025.
Entretanto, os dados confirmam desaceleração da economia no segundo semestre e podem alimentar a expectativa de que o governo – para além da isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil – poderá ampliar estímulos fiscais para lustrar o PIB de 2026 ou o BC deverá acelerar o corte de juro.
Nesse ambiente de flexibilização monetária, o Fed troca de presidente em maio de 2026 com o fim do mandato de Jerome Powell indicado à presidência do conselho da instituição em 2017 por Donald Trump e reconduzido ao cargo por Joe Biden em 2021. Apesar do “patrocínio” de Trump no primeiro mandato, Powell deixará seu posto sob uma saraivada de críticas do mandatário que, há tempos, ensaia sua demissão.
É elevada a probabilidade de Powell passar o bastão a Kevin Hassett. Atual chefe do conselho de economia da Casa Branca, Hassett ocupou cargo semelhante no primeiro mandato de Trump, detém a confiança do presidente e de Republicanos em geral e, para preocupação de analistas e investidores, não hesitaria em cortar o juro para acelerar a atividade e agradar o “chefe”.
O favoritismo de Hassett sobre outros “postulantes” ao comando do Fed, integrantes da diretoria inclusive, foi sugerido por Trump a jornalistas e, na Polymarket, a chance de ser confirmado alcançou 85% na última semana. Na quinta-feira, 4 de dezembro, o favoritismo do conselheiro havia caído a 71% com o esvaziamento das apostas.
O Brasil, por sua vez, terá uma cota particular de expectativa porque, em 31 de dezembro, desembarcam do BC de Gabriel Galípolo os diretores de Política Econômica Diogo Guillen e de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução Renato Gomes – últimos remanescentes do governo Bolsonaro no comando da autoridade monetária.
As substituições, lá e cá, são atribuições dos presidentes da República. Trump já escolheu o sucessor de Powell a ser anunciado no início de 2026. Lula, em meio ao aumento de tensão entre Legislativo e Judiciário, ainda não fez menção à decisão que tomará sobre o BC. E é improvável que o faça.
A informação, possivelmente, ficará a cargo de Fernando Haddad que, em 2024, foi designado a comunicar a escolha de Galípolo – então segundo homem na hierarquia da Fazenda – para a presidência do BC no lugar de Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e duramente criticado por Lula e o PT.
“Patrono” do BC
Após a definição de Lula, os diretores indicados deverão ter seus nomes chancelados pelo Senado numa ação sem qualquer apelo popular, mas nada trivial para o mercado financeiro. Será um marco porque, a partir dessa dupla substituição, Lula será o “patrono” da Diretoria do BC, com seus nove membros replicados no Copom – condição que tende a instaurar o “modo vigília” sobre as deliberações da instituição. E não apenas monetárias.
A expectativa corrente entre economistas e gestores é de reprise de um movimento já tradicional. Isto é, que a Política Econômica do BC seja ocupada por um profissional atuante no setor privado, mais precisamente no sistema bancário, enquanto a Organização e Resolução pende a uma solução “doméstica”.
Isto é, fique sob comando de funcionário de carreira do próprio BC, com perfil técnico e especialista nas inovações desenvolvidas pela instituição nos últimos anos, sendo o Pix a mais popular e responsável por histórica transformação nos meios de pagamento e inclusão financeira no País. Uma iniciativa tão bem-sucedida que foi alçada a grande preocupação dos EUA de Trump por, supostamente, ferir a competitividade de empresas do comércio digital e serviços de pagamento eletrônico.
A Organização e Resolução do BC, que comparativamente tem menos ibope que a Política Econômica e a Política Monetária junto ao mercado, é diretoria de grande relevância por outras atribuições que mexem na estrutura do sistema financeiro. Entre elas, autorizar a constituição e o funcionamento de bancos. E ser responsável pela transferência de controle societário, aprovação de nomes para cargos em órgãos societários e pela instauração de liquidação extrajudicial de instituições, além de regular, supervisionar e controlar as operações do crédito rural e do Proagro.
Sucessões no BC sempre geram torcida e expectativa, especialmente, quando estão em jogo a Política Econômica e a Política Monetária porque ambas “conversam” diretamente com o mercado. A primeira por ser “guardiã” do regime de meta de inflação; a segunda, hoje ocupada por Nilton David, por ser diretamente responsável pelo gerenciamento de operações com taxa de juro e taxa de câmbio. Após o imbróglio e liquidação do Banco Master, além da Fiscalização, a Organização e Resolução ganha protagonismo numa história que agora repousa no Supremo Tribunal Federal.