O skincare sul-coreano conquistou o Ocidente e virou mania global — movimentando cerca de US$ 15 bilhões por ano, sem sinais de arrefecimento. Mas o K-beauty não se resume apenas a cremes, séruns, loções e máscaras. Na Coreia do Sul, as pessoas começam a se submeter a procedimentos estéticos minimamente invasivos desde a adolescência.
É fio de sustentação, microagulhamento, ultrassom de alta intensidade, radiofrequência, laser, injeção de toxina botulínica… tudo em busca da pele de porcelana, sem rugas ou manchas, com o vigor e o frescor da juventude. Esses tratamentos acabaram criando um novo mercado na Coreia do Sul: o turismo da beleza.
Em 2024, quase 1,2 milhão de estrangeiros desembarcaram no país para se submeter a procedimentos estéticos — 96% a mais em comparação ao ano anterior. Os números superaram em 70% as expectativas do Ministério da Saúde e Bem-Estar sul-coreano. Em 2023, o governo estimara: até 2027, os turistas da estética seriam 700 mil.
Quase 60% dos turistas vão à Coreia do Sul à procura de tratamentos dermatológicos. Cerca de 15% buscam ajuda especializada para problemas mais graves e “apenas” 11,5% se submetem a cirurgias plásticas.
Grande parte das máquinas e equipamentos usados nos procedimentos é sul-coreana, mas são encontrados em outros países — inclusive no Brasil. “Atualmente, o mercado de estética é pautado pelo TikTok e pelo Instagram”, diz a dermatologista Katleen Conceição, ao NeoFeed. “São os influenciadores digitais que ditam o ritmo e, se eles vão à Coreia, as pessoas ‘comuns’ também vão.”
Yerim Lee é uma jovem sul-coreana que vive nos Estados Unidos desde criança. Foi por lá que ela deu início à sua conta no TikTok, onde hoje tem uma legião de fãs focados nos hábitos de beleza e estética coreana.
Seu vídeo mais famoso acumula 1,6 milhão de visualizações. Nele, ela conta sobre os 15 procedimentos não invasivos realizados no país em apenas três dias.
A moça reconhece que poderia fazer os mesmos tratamentos em Nova York, onde mora, mas “os preços da Coreia são imbatíveis”, ela propaga nas redes sociais.
Nos Estados Unidos, as aplicações simples de Botox custam, em média, US$ 400 o miligrama, segundo a plataforma Business of Fashion (BoF). Em Seul, US$ 30. No Brasil, a mesma quantidade não sai por menos de R$ 1 mil.
O baixo custo é resultado de uma política do Ministério da Saúde e Bem-Estar de incentivo ao turismo K-beauty. Em 2009, o governo flexibilizou a política de vistos para estrangeiros e facilitou a conexão entre clínicas e agências de viagens.
Atualmente, o vaivém dos viajantes internacionais é tido como um dos mecanismos de proteção da economia sul-coreana frente à queda de natalidade e ao envelhecimento da população.
O.K., os procedimentos são mais baratos e a burocracia é pequena, mas há de se considerar os custos das passagens de avião e da hospedagem. Além disso, uma clínica não é necessariamente a mais adequada só porque é sul-coreana. Produtos e serviços de qualidade questionável proliferam pela capital. Há casos também de pacientes submetidos a procedimentos sem necessidade.
Enquanto isso nos Estados Unidos...
O tarifaço anunciado no início de julho pelo presidente Donald Trump, de que os produtos sul-coreanos seriam taxados em 25%, colocou os americanos aficionados por K-beauty em modo de emergência e agora eles estão correndo às lojas para estocar artigos de skincare antes que as novas tarifas entrem em vigor, conforme relata o jornal The New York Times.
No ano passado, a Coreia do Sul ultrapassou a França e se tornou o maior exportador de cosméticos para os Estados Unidos. Apenas no primeiro semestre deste ano, as exportações atingiram um recorde de US$ 5,5 bilhões — crescimento de cerca de 15% em relação ao ano passado, segundo o Ministério da Segurança Alimentar e Medicamentosa.
Se os planos de Trump se confirmarem na prática, a União Europeia deve ser taxada em 30%, o que não coloca os produtos franceses em destaque novamente.