VALETTA (Malta) - Foi ainda em 2003 que o patriarca Frank J. Del Rio (nascido em Havana e emigrado para os EUA em 1961, aos 6 anos) decidiu lançar em Miami sua própria armadora, adquirindo navios já existentes da hoje extinta Renaissance Cruises (companhia na qual fez carreira e chegou a ser CFO e co-CEO).
Na época, ligou para o filho, Frank A. Del Rio, que estava em plena lua de mel, e disse: "Filho, talvez você pudesse voltar antes para a casa, que estamos lançando uma empresa de cruzeiros." Ele não tem pudores em contar sobre o começo da Oceania Cruises, que completa agora 20 anos de fundação lançando o Oceania Vista, o mais luxuoso de seus navios.
O navio foi inaugurado em maio deste ano no porto de Valetta, em Malta, um investimento de 575 milhões de euros que passa a ser uma nova referência para o nicho que eles mesmos criaram, o upper-premium.
Os cruzeiros da Oceania, que desde o primeiro ano operam no Brasil, contam com instalações mais sofisticadas e investimentos em gastronomia, destaques que não figuram nos representantes da concorrência premium.
Nestes 20 anos, a armadora da família Del Rio passou de uma empresa com apenas um navio para 864 passageiros para uma das líderes neste mercado, com sete navios que visitam mais de 600 portos em mais de 100 países ao longo do ano - e com novas embarcações já em produção.
As primeiras aquisições da Oceania, conta Del Rio, tiveram dinheiro emprestado de investidores que eram também grandes amigos. "Tínhamos juntos apenas US$ 14 milhões de capital, uma gota no oceano para uma linha de cruzeiros", disse o empresário na inauguração do Vista. A primeira madrinha dos navios da Oceania Cruises, por sinal, foi sua própria esposa, Marcia.
Mas tanta água passou por seus navios - com o perdão do trocadilho - que a companhia em 2008 comprou a luxuosa Regent Seven Seas (uma das líderes no segmento de cruzeiros de luxo), criando a Prestige Cruises International.
Na década passada, a Prestige se fundiu à gigante NCL (Norwegian Cruise Line) em um acordo de US$ 3 bilhões, dando origem a holding NCLH. Foi uma combinação inédita entre uma das maiores armadoras de cruzeiros de massa do mercado (NCL) com duas líderes, respectivamente, nos nichos upper-premium (Oceania) e luxo (Regent).
Avaliada em US$ 8 bilhões, a NCLH fechou o primeiro trimestre deste ano com uma receita de US$ 1,8 bilhão, o que representou um salto de 249% sobre o mesmo período de 2022. Parte dessa alta foi impulsionada pelo aumento dos gastos dos passageiros a bordo, 30% mais elevados do que em 2019.
Del Rio, que assumiu a presidência da Norwegian Cruise Line Holdings em 2015, acaba de passar o bastão para Harry J. Sommer, o novo CEO da companhia. Seu filho Frank A. Del Rio, chamado de Frank Jr. , assumiu a presidência da Oceania Cruises.
“Para ser honesto, não imaginávamos que os negócios fossem se recuperar da pandemia tão rapidamente quanto aconteceu”, contou Frank Jr. ao NeoFeed .
O otimismo é compartilhado por Sommer. "Desde novembro passado, o ritmo de reservas tem sido impressionante." Em seu discurso durante o batismo do Vista, o CEO da holding enfatizou. "Não conheço nenhum hotel tão bom quanto esse navio".
Uma nova fase para a armadora
Quando comprou da Renaissance os navios Regatta, Insignia e Nautica no começo dos anos 2000, a Oceania pagou US$ 125 milhões por cada um deles. Seus primeiros navios próprios, Marina e Riviera, lançados há mais de dez anos e responsáveis pelo primeiro grande boom da companhia, custaram US$ 530 milhões cada.
O Oceania Vista é uma inovação nesse processo, tanto que terá um irmão gêmeo a ser lançado em 2025. Com capacidade para até 1.200 passageiros, o navio tem uma proporção (inédita no nicho) de dois tripulantes para cada três hóspedes. Há um chef a bordo para cada dez passageiros e o maior culinary center de toda a indústria de cruzeiros.
Há novos restaurantes, um exclusivo programa de mixologia e parcerias com pequenas empresas locais em diferentes partes do mundo para conseguir desde ingredientes frescos a itinerários exclusivos para os tours em terra.
A partir de julho, pacotes de bebidas, algumas excursões em terra e crédito à bordo, antes escolhas cobradas à parte, passam a estar incluídas para todos. "Não queremos ser all inclusive, mas seremos sem dúvidas cada vez 'more inclusive'", definiu Frank Jr.
O navio veio com mais espaço por passageiro, todas as cabines com varanda, enormes boxes nos banheiros (uma raridade no setor) e mais de uma dezena de opções gastronômicas incluídas.
Levou quatro anos e meio para ficar pronto, tem um design mais contemporâneo e com tudo automático, da abertura das cortinas ao sinal de não perturbe.