Lucas Moraes, de 33 anos, é integrante da quinta geração da família fundadora do Grupo Votorantim. O jovem poderia ter escolhido o caminho traçado por seus antecessores e se dedicar aos negócios. Mas em seu sangue sempre correu a paixão por esporte, em especial o de duas rodas.
O gosto por motos começou cedo. Ao redor dos três anos, ele ficava fascinado pelo hobby do pai, Marcos. Naquele momento, surgiu seu primeiro sonho: ter sua própria máquina e acompanhar o pai nos passeios. Aos quatro anos, quando tirou as rodinhas de sua bicicleta, Lucas não ganhou uma bicicleta maior, mas uma motocicleta.
“Nessa idade, já participei da minha primeira competição de motocross”, conta, em entrevista ao NeoFeed. “Naquela época, tudo era apenas um hobby de família, mas, aos 11 anos, minha perspectiva começou a mudar.”
O menino então passou a se dedicar, de fato, ao motocross. Às terças e quintas, um ônibus passava em um ponto combinado de Barueri, cidade na região metropolitana de São Paulo, onde ele morava, e pegava um grupo de entusiastas do esporte, todos crianças, para treinar no interior do estado.
Aos 15 anos, Lucas recebeu sua primeira proposta de trabalho: virar piloto profissional de motocross pela Suzuki. Pouco tempo depois, ele mudou de equipe, dessa vez para a Yamaha, onde permaneceu até os 21 anos. Depois de se formar na escola, ele decidiu deixar a faculdade para o futuro e focar apenas no motocross.
“Eu tive a sorte de ter pais que me apoiaram e permitiram que eu me dedicasse ao esporte, vendo que aquilo poderia me garantir um bom futuro”, diz Lucas. “Naquela época, eu já havia conquistado prêmios como vice-campeão brasileiro e vice-campeão latino-americano na categoria, o que ajudou nessa decisão.”
Quando estava no auge de sua carreira, prestes a competir de forma consistente nos Estados Unidos, Lucas descobriu que tinha uma doença no quadril, que lhe causava muita dor e o impedia de disputar em alta performance. Por causa do problema, ele perdeu boa parte da cartilagem e articulações da região, precisando passar por três cirurgias em apenas dois anos.
“Eu sabia que o motocross era um esporte que exigia muito do corpo, tanto que poucas pessoas passam dos 30 anos praticando, mas esperava conseguir seguir um pouco mais”, conta ele. “Não é fácil abrir mão do que você gosta tanto de fazer, então, querendo fugir daquela realidade, eu decidi mudar tudo.”
Passagem só de ida
Lucas então comprou uma passagem só de ida para a Califórnia, nos Estados Unidos. Seu destino era o Vale do Silício. Durante dois anos, estudou o o mercado de alta tecnologia e conheceu algumas das companhias mais importantes do setor.
Aos poucos, ele foi se interessando pelo negócio e, com Cristiano Oliveira, fundou a Olivia, uma startup que usava inteligência artificial para ajudar seus usuários no controle dos gastos. Em 2022, a fintech foi adquirida pelo Nubank, provando que o modelo funcionava.
“Eu brinco que empreender é o esporte mais difícil do mundo, porque as características são muito similares e a experiência como atleta me ajudou demais nessa jornada”, conta Lucas.
Mas a paixão por esporte continuou lá e, mesmo durante a empreitada na Olivia, o empreendedor-atleta mergulhou no universo do automobilismo — na direção de um carro de rally, novamente por influência do pai. Em 2019, ele ganhou o seu primeiro Rally dos Sertões, a maior prova da categoria no Brasil.
A partir daquele momento, ao perceber que poderia ter sucesso sobre quatro rodas, Lucas decidiu se profissionalizar e chegar à Europa, o posto mais alto no pódio do esporte. Seu sonho era competir no Rally Dakar, o maior campeonato da categoria no mundo.
Meticuloso e dedicado, Lucas traçou passo a passo as etapas de sua jornada. Em 2023, ele ficou em terceiro lugar no campeonato mundial. Dois meses depois, veio finalmente o primeiro convite para participar do Rally Dakar, realizado sempre na virada de ano, durante duas semanas.
“Eu estava sonhando com esse convite, mas aquele ano tinha sido tão corrido, com o Rally dos Sertões, o campeonato mundial, que nem consegui assimilar aquela oportunidade, mas mesmo assim eu fui”, diz Lucas. “Além disso, fui contratado pela Red Bull para o evento, o que tornava tudo ainda mais incrível.”
No fim do período, ele se consagrou como o melhor estreante em 35 anos de prova após conquistar o terceiro lugar — além de ter marcado na história da competição o melhor resultado já alcançado por um brasileiro.
Um ano depois, ele foi contratado pela Toyota, passando a ser piloto oficial de equipe “de fábrica”, como o setor chama. Segundo Lucas, com ela, os ganhos de preparação, estratégia e profissionalismo são imensos, o que muda o jogo.
“O que me move agora é colocar o nome do Brasil em destaque nesse esporte tão nichado. Ganhar o Dakar virou uma obsessão. Ninguém do Brasil fez isso e eu quero trazer esse título para casa”, afirma Lucas. Na passagem de 2025 para 2026, lá estará ele novamente.
Se engana, porém, quem pensa que o foco no esporte tira os olhos de Lucas do setor de tecnologia. Atualmente, ele investe em cerca de seis startups — e continua atento ao que surge de melhor no mercado. Duas paixões não são difíceis de conciliar, garante.
Como ele diz: "Hoje eu olho para trás e penso que, apesar dos desafios, não mudaria nada da minha trajetória".