Este ano, o lagarto mais famoso do cinema completa o 70º aniversário de sua primeira aparição, em 27 de outubro de 1954, no Japão. Foi o que bastou para Godzilla (ou Gojira, como ele é chamado pelos conterrâneos) capturar a imaginação do cinéfilo mundial, virar um ícone pop da cultura japonesa e inaugurar uma franquia que arrecadou mais de US$ 2,6 bilhões só com filmes, DVDs e Blu-rays.
Como parte das comemorações, Godzilla Minus One/Minus Color chega aos cinemas brasileiros em novembro, trazendo uma versão em preto e branco de Godzilla Minus One, de 2023.
Este foi o 33º longa-metragem japonês do réptil gigante, produzido pelos estúdios Toho, onde o monstro nasceu, como a personificação do pesadelo japonês com os ataques nucleares de Hiroshima e Nagasaki, realizados pelos Estados Unidos, no final de Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945.
Quando são somadas as produções hollywoodianas, incluindo Godzilla e Kong — O Novo Império, lançada em março, também para celebrar os 70 anos, a criatura fruto da radioatividade traz 38 filmes no currículo.
Com distribuição da Warner Bros., esta última obra falada em inglês faturou mais de US$ 570 milhões no primeiro semestre e atualmente figura no terceiro lugar no ranking de maiores bilheterias do ano — perdendo apenas para Divertida Mente 2, na primeira posição, e Duna: Parte 2, na segunda.
No ano passado, Godzilla Minus One, que ganha agora a versão em preto e branco, em Godzilla Minus One/ Minus Color, arrecadou globalmente mais de US$ 116 milhões.
Foi o suficiente para que o longa se tornasse um dos filmes japoneses mais lucrativos de 2023, por só ter consumido cerca de US$ 12 milhões de orçamento.
Atualmente disponível no catálogo da Netflix, a produção ainda se firmou como a mais bem-sucedida internacionalmente de toda a safra japonesa do lagarto atômico.
Godzilla é a franquia de filmes mais duradoura (em produção contínua) da história do cinema, segundo o último registro da categoria feito pelo Guinness, o livro dos recordes.
A série de filmes de James Bond também é uma das mais antigas, em atividade, atualmente com 27 títulos. Mas o agente 007 perde para o monstro com jeito de dinossauro, em anos de existência, por ter sido inaugurada em 1962.
Ou seja, oito anos depois de Godzilla aterrorizar as telas pela primeira vez, no longa dirigido por Ishiro Honda.
Terror acentuado
Godzilla Minus One foi o primeiro filme desde que a Toho criou, em 2019, a divisão batizada “Godzilla Room”, voltada ao desenvolvimento de novos projetos sobre o personagem de cerca de 50 metros de altura.
Isso se deu graças à carreira bem-sucedida de Shin Godzilla, que arrecadou US$ 78 milhões e revitalizou a franquia de filmes em 2016, abrindo uma nova era. O título anterior tinha sido Godzilla: Final Wars, de 2004, que fracassou, ao gerar renda de pouco mais de US$ 9 milhões, após ter custado US$ 19,5 milhões.
Tanto Shin Godzilla quanto Godzilla Minus One acertaram ao resgatar o espírito original. Ambos colocam Godzilla como a grande ameaça, sem a necessidade de recorrer a outros monstros, como King Kong, a mariposa Mothra ou o pterossauro Rodan, uma estratégia que deixa o réptil de proporções colossais ainda mais assustadora.
Com direção de Takashi Yamazaki, Godzilla Minus One até vai além, ao homenagear o primeiro monstro em termos de design, com uma estética inspirada em suas raízes, a partir da concepção de Eiji Tsuburaya, diretor de efeitos especiais, responsável pela criação de Godzilla.
A nostalgia é palpável aqui, como se a nova produção não quisesse se afastar da imagem do original só porque a tecnologia avançou tremendamente nos últimos 70 anos.
O filme de 1954 é frequentemente citado como o primeiro “kaiju” do cinema, como são chamadas as ficções científicas japonesas marcadas pela presença de monstros. “Kaiju” significa “besta estranha”.
O original ainda foi o pioneiro na técnica conhecida como “suitmation”: na qual um ator usava uma roupa de borracha de Godzilla e criava uma ilusão de ótica ao pisotear um cenário de Tóquio em miniatura.
Ambientado no Japão dos anos 1940, quando um ex-piloto kamikaze (Ryunosuke Kamiki), sofrendo de estresse pós-traumático, precisa enfrentar a criatura atômica, Godzilla Minus One até venceu este ano o Oscar de efeitos visuais.
As cenas de ataques do monstro e de destruições de quarteirões criadas com técnicas digitais são de cair o queixo. Os melhores momentos são os de Godzilla, com uma tremenda resolução aqui, sobretudo nos close-ups, arrasando quadras inteiras do bairro de Ginza ou revidando nas águas as ofensivas da Marinha japonesa.
A versão em preto e branco foi realizada justamente para acentuar o terror, além de aproximar a nova produção do original de 1954, rodado em P&B.
Ao remover as cores, a ideia é explorar o que a tecnologia moderna pode fazer pelo P&B hoje, em termos de contraste, em um processo que foi ajustado manualmente para atingir o melhor resultado dramático.
Tudo para garantir uma experiência ainda mais visceral para o espectador diante da fúria daquele que é temido como o "Rei dos Monstros".