Com apenas 18 anos, João Fonseca tem todas as credenciais para iniciar uma "nova era" no tênis brasileiro. O primeiro grande movimento aconteceu no período de ouro de Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros em 1997, 2000 e 2001.

No primeiro Grand Slam de sua carreira, Fonseca chegou à segunda rodada do Australian Open (AO), com uma jornada de três vitórias na fase de qualificação, e um jogo histórico contra o número 9 do mundo, o russo Andrey Rublev, vencido pelo brasileiro por 3 sets a zero.

O desempenho já coloca o tenista brasileiro na 98ª posição (pelo menos) no ranking mundial da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) - é o mais jovem profissional a figurar entre os Top 100.

As atuações renderam elogios de atletas de várias gerações, como John McEnroe, que afirmou que o brasileiro é "o próximo Carlos Alcaraz", em referência ao ex-número 1 de mundo. O espanhol, aliás, disse que a atuação de Fonseca no AO foi "simplesmente incrível".

O NeoFeed conversou com Bruno Soares, que, ao longo de sua carreira profissional como tenista, ganhou duas vezes o Australian Open (2016, nas duplas masculinas e duplas mistas) e quatro vezes o US Open (2016 e 2020 nas duplas masculinas, e 2012 e 2014 nas mistas), para entender o tamanho do feito de Fonseca.

Para ele, que já foi número 2 do mundo nas duplas em 2016, o grande destaque do jovem tenista brasileiro está na maturidade com que vem lidando com a pressão de um jogador profissional. E na surpreendente força de seus golpes.

“Sem dúvida, a direita dele já é uma das mais potentes do mundo, e ainda vai continuar evoluindo”, analisa Soares.

Até a derrota na segunda rodada do AO para o italiano Lorenzo Sonego, em um jogo duríssimo, por 3 sets a 2, em sua primeira partida disputada em cinco sets e que durou 3h37, Fonseca tinha 14 vitórias seguidas, incluindo as que deram a ele os títulos do Torneio Next Gen Finals, em dezembro, na Arábia Saudita (foi o primeiro sul-americano a vencer a competição que reúne os oito melhores do mundo com até 20 anos) e o Challenger de Camberra, na Austrália, na primeira semana de 2025.

As conquistas já renderam ao menino de 18 anos uma premiação que chega próxima a US$ 1 milhão. “Essa chegada do João vai ser ainda mais positiva para o esporte. Ele tem esse mérito de atrair empresas para buscar também essa visibilidade. E vai atrair também para outros jogadores”, afirma Soares.

bruno soares
O ex-tenista Bruno Soares

Guilherme Benchimol, fundador da XP, soube do talento do jovem tenista brasileiro e, em junho de 2024, assinou contrato de cinco anos com o atleta. Essa é uma pequena mostra que o tênis profissional voltou a ser um espaço atrativo para que as empresas divulguem suas marcas, e apoiem o desenvolvimento do esporte.

Fonseca também tem, desde 2022, quando ainda não havia se profissionalizado, o patrocínio da marca de artigos esportivos On, do ex-tenista Roger Federer. A Rolex também é outra que apoia o jovem brasileiro.

Acompanhe, a seguir, os principais tópicos abordados pelo mineiro Bruno Soares sobre João Fonseca:

Primeira vez que viu João Fonseca em quadra

Eu vi o João jogar pela primeira vez aos 14 anos de idade (em 2020). Ele foi treinar comigo, no Rio Open. A gente fez um treino de uma hora e meia. Naquele primeiro momento, já fiquei impressionado demais, pela soltura que tinha nos golpes, para um garoto de 14 anos. Também me surpreendi com a capacidade dele de acelerar a direita e a consistência que já apresentava. Foi muito impactante.

Vitória sobre um Top 10 no Australian Open

Os números já dizem a força dele. Uma pessoa que está estreando em um Grand Slam, passar pelo qualifying sem perder nenhum set, cair no sorteio para enfrentar o número 9 do mundo [o russo Andrey Rublev], um jogador estabelecido, entrar em quadra com a personalidade que entrou, jogar um tênis melhor que o adversário e dominando a partida, mostra que é diferenciada, muito especial. Pouquíssimas pessoas no mundo conseguiram fazer isso. Apenas os jogadores muito grandes conseguiram um feito deste tipo.

A participação no primeiro Grand Slam

Foi excepcional. Ele tinha jogado o qualifying do US Open (agosto de 2024), ido até a última rodada, mas batido na trave, agora entra com tamanha personalidade em uma chave principal, com um nível de tênis espetacular. Ele perdeu para o Lorenzo Sonego, que é um tenista muito forte, um veterano de circuito e que está acostumado a jogar grandes torneios. João perdeu no quinto set e mostrou que aguenta grandes batalhas e ainda tem muito tempo para evoluir ainda mais.

Potência dos golpes do tenista brasileiro

Esse é um dos diferenciais, entre muitos que ele tem. Há quatro anos, esses golpes já haviam me impressionado, pela qualidade e pela velocidade. Sem dúvida, a direita dele já é uma das mais potentes do mundo, e ainda vai continuar evoluindo. Ele tem um movimento curto, limpo e extremamente potente. O mais impressionante é que ele consegue fazer isso muito perto da linha de base, cortando tempo do adversário e batendo muito forte, que é sinal de um tênis extremamente moderno. É um tênis jogado por Novak Djokovic e Carlos Alcaraz. São jogadores que conseguem imprimir uma velocidade jogo muito alta, jogando perto da linha de base, que é algo muito difícil.

Importância do preparo mental

Isso é fundamental em qualquer momento na carreira de um atleta. E é mais um dos pontos fortes do João. Ele é dedicado, profissional e muito bem preparado mentalmente. Está com um grande time, que garante uma unidade. Tem uma grande família por trás para dar o suporte. O pai, o Crico (empresário Christiano Fonseca Filho, fundador da IP Capital Partners), e a mãe (ex-atleta de vôlei Roberta Fonseca) estão sempre muito próximos dando todo o apoio. E isso é fundamental.

Maturidade com apenas 18 anos

Ele tem uma grande maturidade, dentro e fora da casa. E isso é muito importante. É um jogador muito maduro para a idade dele, bem acima da curva e ainda segue em processo de amadurecimento. Muito bacana ver esse comportamento de um garoto tão jovem. Ele é extremamente educado, e como ser humano, que é o mais importante, é excepcional.

Pressão a partir de agora

O João vai começar a enfrentar um nível de pressão totalmente diferente do que estava lidando até então. Os grandes jogadores já o conheciam, e ele vinha deixando grande impressão. Mas vir no maior torneio do mundo e executar em quadra aquela qualidade de tênis certamente muda o patamar de pressão. Isso vai aumentar muito, mas ele está preparado para lidar com essa questão. Sei que ele vai conduzir muito bem esse momento.

Cenário pós-Guga e atração de patrocinadores ao tênis

A gente está no início de uma era muito semelhante à do período do Guga. O tênis vem um momento incrível, com muitos grandes atletas além do João, como Bia Haddad, Luisa Stefani, Ingrid Martins, Thiago Monteiro, Thiago Wild. Há uma geração muito forte. O Brasil vive um momento muito bom. E essa chegada do João vai ser ainda mais positiva para o esporte. Ele tem esse mérito de atrair empresas para buscar também essa visibilidade. E vai atrair também para outros jogadores. É muito legar ver nomes como o Benchimol, da XP, acreditando no João já há algum tempo. E muitos outros patrocínios virão. Isso fundamental para o crescimento do esporte.