“The winter is coming.” Essa é sempre uma boa notícia para a malharia Anselmi, fundada há 40 anos, em Farroupilha (RS). Em especial este ano quando prepara a primeira coleção de roupas de esqui de olho nos brasileiros que se programam para temporada de neve no Hemisfério Norte.

A empresa familiar que começou na sala da empreendedora Maria de Lourdes Anselmi verticalizou sua produção para focar na rastreabilidade e sustentabilidade das matérias-primas. Longe dos fios sintéticos, usando algodão BCI (Better Cotton Iniciative), algodão agroecológico, e a lã natural nos tricôs, eles agora caminham para a internacionalização.

“É a autenticidade e durabilidade dos produtos que conquista os consumidores conscientes. Nosso negócio é a moda do futuro”, diz ao NeoFeed Eduardo Anselmi, CEO da empresa, que desde os três anos acompanha no ambiente doméstico o desenvolvimento da malharia.

Em julho, a Anselmi apresentou sua coleção numa pop-up em Southampton (NY), e estruturou o e-commerce para atender os Estados Unidos. “Quando os americanos viam que os tricôs eram de algodão e não sintéticos compravam na hora.”

No próximo ano, conta, será a vez de expandir o e-commerce para Europa e ter uma pop-up em José Ignácio, no Uruguai, “que tem muitos formadores de opinião europeus.”

Uma jornada e tanto para quem começou de forma artesanal, atendendo as primeiras encomendas por carta, e depois de se estabelecer no atacado, conquistou espaço no mercado de luxo, com seis lojas próprias em shoppings como Iguatemi e JK, em São Paulo, e em multimarcas como a NK. A empresa abre ainda mais duas unidades este ano, em Belo Horizonte e no shopping Iguatemi de Alphaville (SP). O e-commerce próprio já representa, por sua vez, 35% das vendas do varejo.

Nas três bases industriais em Farroupilha, Feliz e Alto Feliz, no Rio Grande do Sul, a empresa fabrica 80 mil peças por mês, com 550 funcionários e faturamento previsto de R$ 200 milhões, o que representa um crescimento de 15% em relação ao último ano. O tíquete médio de suas peças é de R$ 450, com itens que superam R$ 2 mil.

Para vender tricôs no Brasil e agora entrar em outros países, a Anselmi trabalha basicamente com algodão rastreado e desde o último ano com uma parcela de matéria-prima agroecológica, em parceria com o Instituto Casaca de Couro, do agreste nordestino. A iniciativa impacta 800 famílias de pequenos produtores. "É um posicionamento na contramão do fast-fashion e dos produtos asiáticos de procedência e confecção sempre misteriosas. Temos um compromisso social."

Peça confeccionadas com texturas inusitadas, como essa com relevo de conchas, usada por Silvia Braz ( reprodução Instagram)

O projeto que permite planejar uma coleção de malhas para esqui, no entanto, parte de um resgate do uso da lã natural e do investimento na fiação própria, que facilita a criação de mesclas originais. “Para essa coleção vamos fiar merino de rebanhos do Uruguai com cashmere da Mongólia. Vão ser fios super quentinhos para o clima de montanha.”

Para assumir a fiação, a Anselmi investiu R$ 8 milhões em infraestrutura e na aquisição de equipamentos da fiadora japonesa Kurashiki Textil, instalada no Rio Grande do Sul desde a década de 1960, atraída na época pelo rebanho de ovinos na região.

Outro investimento de R$ 1 milhão está sendo feito este ano para aquisição de novas máquinas vindas da Itália para poder “pentear” os lotes de lã virgem do pampa brasileiro - “um dos biomas mais afetados do país” -, com o qual vão trabalhar edições limitadas.

Peças da coleção de inverno 2023

“Compramos um lote de três toneladas de merino de origem australiano da Cabaña Santa Camila, de Alegrete (RS). Uma lã tão fina quanto o cashmere.”

A Anselmi lança duas coleções por ano, mas novos produtos chegam às lojas todos os meses. Os tricôs da empresa trazem informações de moda em uma paleta de cores exclusivas, por causa da tinturaria própria. Além disso, a empresa investiu em equipamentos que confeccionam tricôs em 3D e permitem a criação de novas texturas mesmo para temperaturas mais altas.

Ao lado das irmãs, Sandra, diretora de criação, e Patrícia, diretora de marketing, Eduardo Anselmi comanda a parte industrial da malharia que tem sempre “Maria” - como ele se refere a mãe no ambiente profissional -, como consultora acompanhando as decisões. “Como fundadora ela está sempre por perto. A gente faz uma gestão compartilhada.”

Loja da Anselmi no shopping Iguatemi, em São Paulo. Ao fundo painel de lã criado pela artista plástica Inês Schertel

Maria de Lourdes buscava a autonomia financeira quando começou o negócio. Filha de uma família italiana, casou-se aos 16 anos quando queria mesmo estudar. Aos 45 anos, já com a Anselmi sendo reconhecida no Sul do país, ela entrou para um curso universitário de gestão. Hoje, dá palestras para outras empreendedoras sobre sua história.

Sua trajetória atraiu a atenção de clientes e fãs como as empresárias Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Chieko Aoki (Blue Tree), Sônia Hess (Dudalina), assim como parcerias e collabs com as influenciadoras Consuelo Blocker, Ucha Meirelles e Silvia Braz.