São mais ou menos 13 horas quando a influenciadora Silvia Braz chega ao restaurante Madame Suzete, no bairro do Itaim, em São Paulo. Ela usa um vestido longo dourado de tricô da marca italiana Prada, brincos de argola com brilhantes, tem os cabelos presos e o rosto maquiado. É um almoço para celebrar os resultados de sua campanha para a marca de chocolates Kopenhagen. Sua voz a destaca ainda mais, ela gesticula, faz pose para a câmera. “Falo alto para caramba é coisa de família libanesa”, disse ela ao NeoFeed.
Atualmente, Silvia atingiu um patamar de distinção no nicho de luxo, o que significa muito no Brasil, um dos maiores mercados de influência digital do mundo. Ela tem 1,3 milhão de seguidores, 58 contratos ativos sendo que 48% são de marcas de moda. Nos outros 52% representa hotéis, instituições financeiras, automóveis, aviação executiva e comercial num portfólio eclético que segue à risca a direção que traçou para sua carreira que começou 100% com moda.
Sua trajetória de influência digital extrapolou as redes sociais, conquistando espaço em campanhas publicitárias, conteúdos editoriais, colabs com grifes, protagonismo em eventos e experiências de marca.
Hoje acompanha as principais semanas de moda no mundo, vai ao festival de Cannes e Veneza. Uma pesquisa da empresa de data analytics Launchmetris aponta Silvia como uma das cinco influenciadoras mundiais com maior valor de impacto na mídia em semanas de alta costura. Já conquistou US$235 mil de (MIV), uma centimetragem que mede o impacto de colocações e menções. Sua influência vai além da fronteira nacional.
É embaixadora da Audi, da Suíça como destino, da Lancôme, e hoje seu portfólio internacional representa 40% de seus clientes. Seus contratos, agora, são de média e longa duração, o que corresponde a um ou dois anos. Neste ano, faturou 50% a mais do que em 2021. Ela explica esses números pelos novos contratos firmados e o aumento substancioso dos existentes com clientes. Entre eles estão Arezzo, XP, Diageo, Luxottica, Gucci, Valentino, Prada, Dior, Dolce & Gabbana.
Uma pesquisa da empresa de data analytics Launchmetris aponta Silvia como uma das cinco influenciadoras mundiais com maior valor de impacto na mídia em semanas de alta costura
“A partir do momento em que assino um contrato, me entrego, quero que as vendas explodam. Acho que isso tem muito a ver com a minha educação.”
Embora mantenha sigilo absoluto sobre o valor de seu faturamento, avalia-se no mercado que, dependendo do projeto e exclusividade, cada um de seus contratos pode atingir uma cifra entre R$700 mil e R$ 1 milhão ao ano. Quem faz a prospecção de seus negócios são cinco agências, sendo uma a dela. Sua equipe é de oito funcionários.
Silvia tornou-se um case. E se nem ela tem resposta para explicar como isso aconteceu, especialistas também acham difícil entender o fenômeno que se tornou. “É possível planejar uma rota de construção de imagem, mas o resultado é imprevisível”, diz Rafael Coca, co-fundador e CSO da Spark, uma empresa de marketing de influência especializada em projetos B2B.
Coca avalia que o Instagram foi um veículo propulsor para ela, que lhe deu a chance de expressar com autenticidade a construção de conteúdo. “Ela é uma marca de valor, as pessoas têm interesse em saber como vive, o que faz. A grande dificuldade do influenciador é sair da bolha e ela conseguiu, conquistou um lugar de referência onde pode falar de tudo. Isso vai além da beleza e da produção dela.”
Isso é o que atesta a CEO da Kopenhagen, Renata Vichi, para quem a escolha de Silvia como embaixadora “se mostrou estratégica do início ao fim e o resultado superou as expectativas com uma importante alavancagem nas vendas. Mais do que influenciar as pessoas a consumirem, ela inspira com um conteúdo rico, verdadeiro e espontâneo”.
"A grande dificuldade do influenciador é sair da bolha e ela conseguiu, conquistou um lugar de referência onde pode falar de tudo”
Silvia tem 42 anos e gosta de ver que é referência para mulheres de sua idade. “Acho maravilhoso quando me olho fazendo as campanhas que faço, trabalhando com as marcas que trabalho, acho que dou representatividade e força para mulheres da mesma idade, recebo esse feedback”.
Tudo isso é possível porque, segundo ela, houve uma mudança no mercado. “A consumidora de fato não é uma menina, é uma mulher, que pode estar casada ou não, mas tem a carreira dela, o dinheiro dela para gastar como quer.”
Nascida em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio, viveu ali até os 20 anos quando se casou e se mudou para Muriaé, interior de Minas Gerais. Do ex-marido Glauco Braz, empresário do ramo de transportes em Minas, herdou o sobrenome.
Apesar de formada em direito, nunca exerceu a profissão. Tornou-se dona de casa e teve três filhas: Maria Vitória, 21 anos, Maria Antônia, 16 e Maria Isabela, 7. Foi lá em Muriaé, que incentivada pela filha mais velha, com dez anos na época e hoje também influenciadora, começou a fazer um blog, o Blog da Maria Sofia, onde falava de viagens, moda, decoração, postava receitas de família.
“Tenho um engajamento muito grande nas redes sociais, converso com as pessoas que me seguem, produzo conteúdo de qualidade. Quando você olha o mercado de influenciadores tem muita gente que começou para ganhar dinheiro. Eu comecei porque queria ser influenciadora, daí construí uma carreira. A receita do sucesso pode ser uma comunicação muito assertiva.”
"Quando você olha o mercado de influenciadores tem muita gente que começou para ganhar dinheiro. Eu comecei porque queria ser influenciadora, daí construí uma carreira. A receita do sucesso pode ser uma comunicação muito assertiva”
Se no passado ela postava tudo o que fazia parte de seu estilo de vida, garante que hoje tudo está igual: “Tudo que eu faço está no meu portfólio de clientes, desde o café que tomo, a companhia aérea que viajo, o hotel que me hospedo. Isso faz diferença. Na verdade estou comunicando produtos que consumiria e acredito neles.”
A quem olha com certo desdém o mundo das influenciadoras ela responde dizendo que isso é uma visão antiga. “É engraçado. Quando comecei ainda era essa cabeça: aquilo era uma grande futilidade. Dessa grande futilidade fiz meu trabalho e construí minha vida”. E se mantém forte numa área do marketing em que especialistas deslocam o foco para comunidades.
Apenas no início do ano passado ela se mudou para São Paulo, onde já tinha um apartamento. Foi uma época conturbada que coincidiu com a separação e momentos dolorosos. Ao olhar para trás diz que vê muito trabalho e pouca distração.
“Por mais que achem minha vida muito interessante e glamurosa e, de fato é, trabalho todos os dias da minha vida. Há uma entrega emocional e física, muito grande. Eu amo o que faço, gosto de falar na internet, de me comunicar com as pessoas, não trabalho pra ganhar dinheiro. Mas, de fato, ganho dinheiro”.
Ela nasceu numa família de classe média com o pai advogado e a mãe pediatra. Perdeu o pai aos dez anos e se lembra de ver a mãe vestida de branco para ir ao hospital, trabalhando o triplo para pagar os estudos dela e das outras duas irmãs. “Nós fomos criadas pra trabalhar, para termos nossas profissões e sermos mulheres independentes. Para ganhar dinheiro e criar o próprio destino”.
Assim ela tem feito. Ela diz ser “uma jovem senhora dona de casa. Não sou a modelo convencional que a gente se acostumou. Não tenho altura (tem 1,65 m) e não tenho idade.” Antes mesmo de representar marcas internacionais, ela já se considerava uma consumidora moderada. “Era pé no chão. Sou uma mulher que tem muita noção da efemeridade do dinheiro na vida das pessoas. Como ele pode estar presente e, de uma hora pra outra, você perde tudo”.
Uma hora, claro, ela pretende desacelerar. Mas não agora. “Ainda estou crescendo e quero crescer muito”. Talvez no futuro venha a ter uma marca própria, trajetória de grande parte das influenciadoras. “Já tive grandes propostas, mas ainda não senti que era o momento.” Segundo ela, um grande grupo empresarial de moda queria que entrasse para o portfólio deles com a marca Silvia Braz. “Tive propostas de vários segmentos e estou muito aberta a possibilidades”.