Como Adam Neumann quase levou à falência a WeWork, a startup que chegou a ser avaliada em US$ 47 bilhões? A série da Apple TV+, apropriadamente intitulada “WeCrashed” (Nós Quebramos, na tradução), revisita o céu e o inferno vividos pelo polêmico empreendedor israelense.
O foco cai nas trapalhadas do CEO e cofundador da empresa unicórnio – como são chamadas no mercado as startups que valem mais de US$ 1 bilhão. Interpretado por Jared Leto na produção que estreou ontem na plataforma, Neumann muitas vezes não age como um empreendedor. E sim como um rock star.
No comando da empresa de espaços para escritórios compartilhados, sua vida é uma série de excessos, com direito a um escritório pessoal com sauna e banho de gelo na sede da empresa, além de muitas festas e bebedeiras durante o expediente. Seus gastos são absurdos, incluindo a compra de um jato particular.
Inspirada no podcast da “WeCrashed: The Rise and Fall of WeWork”, a série criada por Lee Eisenberg e Drew Crevello cobre desde a fundação da empresa americana, em 2010, até a queda de Neumann. Ele foi afastado em 2019, por erros na gestão, altos prejuízos, projeções de crescimento irreais e muita extravagância com despesas.
Embora suas ações tenham se mostrado questionáveis, à frente de uma empresa, “WeCrashed” não ignora o lado visionário de Neumann. Os primeiros episódios da série resgatam como ele criou os espaços de trabalho comunitários que promoviam a criatividade e a conexão entre profissionais, com foco no design descontraído, no clima acolhedor e na tecnologia avançada - algo até então inédito.
“Esse não é um lugar de trabalho para bater ponto na chegada e na saída. É um local para as pessoas se conectarem”, diz o personagem Neumann, momentos antes de abrir as portas da WeWork na série. “Quando as pessoas sentirem a energia, elas contarão aos seus amigos, que contarão aos seus amigos e que contarão ao mundo”, completa o CEO.
Quem o ajudou a repensar o ambiente de trabalho, atualmente presente em 121 cidades espalhadas pelo mundo, foi o arquiteto Miguel McKelvey, o cofundador da companhia, e a esposa Rebekah, prima de Gwyneth Paltrow. Os personagens são vividos na série por Kyle Marvin e Anne Hathaway, respectivamente.
No início da produção de oito episódios, o que se vê é um empreendedor que não aceita “não” como resposta. Embora Neumann tenha um discurso exagerado, como quem sonha em mudar o mundo, é interessante acompanhar como a WeWork nasceu e decolou – graças à capacidade dele de persuadir parceiros, investidores e agentes financeiros. Foi tudo muito rápido.
A partir do primeiro endereço, no SoHo de Nova York, Neumann continuou buscando aportes para crescer aceleradamente – sempre apostando em alugar espaços em grandes centros urbanos. Em 2014, a WeWork foi considerada a empresa de locação de escritório que mais crescia em Nova York. E em 2017 ela já estava avaliada em US$ 20 bilhões.
Mais preocupado em crescer, Neumann garantia que o lucro viria depois. No mundo das startups, faz sentido priorizar os investimentos para primeiro crescer, aumentando o seu valor no mercado. O problema é que a WeWork, como mostra a série, não ultrapassou essa fase de expansão e valorização com Neumann.
A ruína do CEO se deu com o pedido de abertura de capital, em 2019, quando a empresa tinha uma avaliação privada de US$ 47 bilhões. Como os números tiveram de ser analisados mais detalhadamente, para que viessem a público, ficou claro que o lucro ainda estava distante. E pior: que a companhia dava prejuízos monumentais – cerca de US$ 2 bilhões, registrados em 2018.
“Você é tóxico. Você matou a sua empresa”, diz na série um investidor da Benchmark Capital (Anthony Edwards) a Neumann, pouco antes de o CEO ser afastado da companhia. Na época, a WeWork só não abriu falência por que o Softbank veio ao socorro da startup.
No final, o excesso de confiança também contribuiu para o tombo de Neumann. E tudo pontuado por declarações surreais sobre uma suposta missão de “elevar a consciência do mundo’’ com a WeWork, o que fazia do CEO motivo de piada na mídia. A empresa ainda teria demitido vários funcionários porque Neumann e a esposa não gostavam da “energia” deles.
É por isso que “WeCrashed” aposta em uma visão narcisista e delirante de Neumann. Quando questionado, em um dos episódios, sobre quem vence em uma luta entre o cara esperto e o cara louco, o empreendedor responde “o louco”, sem pestanejar. “Você é o seu maior inimigo”, resume um investidor da JP Morgan Chase & Co., ao explicar a derrocada do protagonista.