Quando a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil, no início de 2020, o restaurateur Juscelino Pereira havia acabado de comprar a participação dos quatro sócios que lhe ajudaram a criar a marca Piselli logo após sua saída do grupo Fasano, em 2004.
“Tudo tem o seu momento. Enquanto eles estavam comigo foi muito bom. Mas ficar sozinho também é bom demais”, garante o empresário ao NeoFeed, que começou a empreender ainda com 12 anos, quando decidiu lançar-se à plantação de ervilhas em Joanópolis (SP), sua cidade natal.
Em voo solo pela primeira vez – na verdade, a sociedade ainda inclui a esposa Renata Russo –, ele se prepara para dar mais um passo na expansão e fortalecimento da marca. Está previsto para fim de março o lançamento do Mercato Piselli, uma plataforma de marketplace “com tudo que nós gostamos e que possa ser uma conveniência virtual para a casa dos clientes”.
Logo no início deverão ser cerca de 500 itens, indo de alimentos e bebidas a acessórios. A princípio serão apenas nove itens de marca própria – cafés, drinques, vinhos (são três rótulos produzidos na Itália e servidos nos restaurantes) e azeite – e o restante de parceiros de longa data, como a importadora Mistral, o mercado Casa Santa Luzia ou a loja Spicy.
“A ideia é ir aumentando a oferta aos poucos, respondendo às demandas dos clientes, como sempre fizemos nos restaurantes. Gosto de atender pedidos”, diz Pereira.
Em três anos, quando prevê-se que os investimentos (não divulgados) tenham sido cobertos, a expectativa é estar próximo a dois mil itens no portfólio, sendo a maior parte de terceiros. “Vamos expandir a linha de marcas próprias, mas quero valorizar os parceiros.” Grande parte deles estará, inclusive, nas duas frentes.
É o caso da APTK Spirits, que produzirá e engarrafará três bebidas exclusivas sob a marca Piselli – o Negroni Vecchiato servido na casa, o aperitivo Voglio e um gim –, além de colocar na vitrine garrafas de outros drinques de sua autoria.
Ou da Orfeu Cafés, que produz o azeite monovarietal de coratina lançado em edição especial no ano passado e o blend exclusivo de café da casa. “Para os restaurantes chegam os grãos, mas no Mercato vamos vender já moído, em cápsulas ou embalagens de 500 g”, afirma.
As entregas serão feitas para todo o Brasil, com logística e custo gerenciados diretamente pelos “sellers”, diz o ex-gerente do grupo Fasano, que não descarta a ideia de ter inclusive cursos na plataforma.
Enquanto passa distante da perspectiva de ter um empório físico, como fez em julho o ex-patrão Rogério Fasano, ou de expandir a rede para outros estados, Juscelino Pereira vai se divertindo com a retomada nos restaurantes. Afinal, com o fluxo de clientes novamente em velocidade de cruzeiro é possível entender melhor o potencial dos novos investimentos e as mudanças comportamentais do público.
Durante o lockdown teve de lidar com o fechamento temporário dos dois Pisellis existentes até então – o restaurante original, no bairro do Jardins, e o Piselli SUD, localizado no átrio do shopping Iguatemi Faria Lima, onde até 2015 funcionava um Gero Caffé –, e criar à toque de caixa de um sistema de delivery eficiente. Poucos meses depois, duas propostas de expansão lhe pareceram irrecusáveis, apesar dos riscos iminentes do momento.
A primeira, no início de 2021, foi a abertura do primeiro Piselli fora de São Paulo, mais especificamente no espaço de 110 lugares deixado pelo restaurante Gero (novamente), no shopping Iguatemi Brasília. A segunda, meses depois, foi a instalação de um terceiro braço na capital paulista, no último andar da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na Rua Boa Vista, com vista para o Pátio do Colégio.
No espaço cedido por comodato pela ACSP, os 40 lugares iniciais já chegaram aos 60 máximos, com 90% do público cativo pagando em média R$ 170 pelo almoço, principalmente de terça a quinta.
Ao cardápio reduzido aos clássicos italianos como a saltimboca, lasanha, o carbonara, o risoto Piselli e o ravioli de pera com brie foram adicionados pratos mais triviais no menu executivo com filé à parmegiana, bife a cavalo e o filé São Paulo (nome fantasia dado durante a participação da casa em algumas edições da São Paulo Fashion Week ao bife acebolado, com arroz feijão e batata-frita).
Outra ligação afetiva motivou a ida ao Distrito Federal. Não bastasse a coincidência de ter sido batizado em homenagem ao presidente que fundou a capital, Juscelino lembra que recebeu um convite para inaugurar o Gero na capital administrativa justamente quando estava saindo do grupo Fasano para abrir o Piselli.
“Não foi uma decisão fácil, mas era hora de ter meu próprio negócio”, diz.. Mal sabia ele que, 17 anos depois, voltaria para inaugurar sua própria casa no mesmo local ocupado por 10 anos pela filial do antigo restaurante que gerenciava.
O espaço no shopping Iguatemi Brasília tem 110 lugares e conta com sala privativa e terraço, nos mesmos ares descontraídos do Piselli SUD. No cardápio que combina receitas do Norte e Sul da Itália, pratos exclusivos levam à uma viagem pela Toscana. Caso da porchetta com mel e mostarda.
Aberto ininterruptamente de segunda a domingo, do meio-dia à meia-noite, o Piselli SUD é disparada a melhor operação. Responsável sozinha por 60% do faturamento, a casa atende o perfil mais amplo de público, indo de executivos a turistas, num total de 10 mil clientes/mês dispostos a pagar cerca de R$ 120 por uma refeição pautada por pratos mais leves, com massas, frutos do mar e pescados.