Como o Brasil poderia sair mais forte depois da pandemia, adaptando-se melhor ao “novo mundo”? Para o americano Peter Diamandis, fundador e diretor da Singularity University, o que ainda falta ao país é definir a sua “marca”.
“O Brasil tem uma oportunidade enorme em áreas como alimentação, energia e meio ambiente”, disse Diamandis, em seu depoimento para o “2021: O Ano Que Não Começou’’, uma das novas atrações da plataforma Globoplay e do canal GNT.
No documentário, que é produzido e apresentado por Luciano Huck, Diamandis afirmou confiar na capacidade do Brasil para se tornar o líder nesses setores, desde que deixe o mundo antigo e ingresse no novo. “Um país, assim como uma pessoa ou uma empresa, precisa de uma missão e de um propósito. Precisa de uma marca que o represente”, disse ele.
Um dos 50 maiores líderes do mundo, segundo a “Fortune”, o empresário destacou que “quando a nação tem uma visão clara de si mesma, os grandes empreendedores vêm até ela”. “Para o Brasil, poderia muito bem ser a economia verde, a alimentação para o mundo ou a energia para o mundo”, afirmou Diamandis.
O fundador da Singularity University é um dos grandes pensadores da atualidade que discutem o Brasil da pandemia no documentário. Ao longo do filme, de 43 minutos de duração, Rutger Bregman, Scott Galloway, Thomas Piketty e Esther Duflo, entre outros, também são entrevistados por Huck.
Entre os tópicos mais abordados nas conversas está a desigualdade social no país, que foi acentuada com a crise sanitária acarretada pelo novo coronavírus.
“A Covid-19 é muito mais um acelerador do que um agente de mudança”, disse no filme o americano Scott Galloway, empreendedor e professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York. “Com isso, é só pegar uma tendência forte, seja na economia, no mundo dos negócios e na sociedade e adiantá-la em dez anos. E, claramente, a tendência mais dominante é a desigualdade de renda.”
Na visão do holandês Rutger Bregman, historiador e autor do livro “Utopia para Realistas: Como Construir um Mundo Melhor”, o mundo atravessa um momento paradoxal. Esta seria a melhor de todas as épocas, mas também talvez a pior de todas.
“De um lado, é inegável os avanços extraordinários que fizemos nos últimos 30, 40 anos”, disse Bregman, lembrando que a expectativa de vida aumentou, a pobreza extrema diminuiu e a população está mais saudável e rica do que nunca. “O que também subiu foi a desigualdade, o que separa as pessoas, envenena democracias e destrói a sociedade civil. Como é o caso no Brasil”, afirmou Bregman.
Só uma drástica redistribuição de renda e de bens daria solução, como também aponta o economista francês Thomas Piketty, autor do livro “Capital no Século XXI”. Com mais de 2,5 milhões de exemplares vendidos, com tradução para 40 idiomas, a obra propõe uma taxação sobre a riqueza para compensar o desequilíbrio gerado pela concentração da renda nas mãos de poucos.
“Tomando por base as evidências históricas internacionais, o Brasil é desigual demais hoje para conseguir se desenvolver”, contou Piketty, em entrevista dada para o filme. “Aquela visão de que a desigualdade é boa nos primeiros estágios de desenvolvimento e que devemos enriquecer muito antes de distribuir não é correta. Não é o que acontece nos outros países.”
A franco-americana Esther Duflo, ganhadora do prêmio Nobel de Economia de 2019 e professora do MIT (Massachusetts Institute of Technology), defende o que chama de “renda ultrabásica universal’’. “Se as pessoas tivessem acesso a isso, suas vidas não mudariam drasticamente, mas seria uma garantia de que elas não morreriam de fome”, disse Esther.
E só a certeza de que o indivíduo seria capaz de alimentar a família três vezes por dia traria mais consequências positivas. “As pessoas continuariam consumindo, comprando coisas de outras pessoas pobres e mantendo a economia girando. E elas ainda se sentiriam mais dignas, o que traria mais autoconfiança para cuidar de suas vidas”, completou a economista.
Para o empreendedor indiano Nandan Nilekani, cofundador da Infosys, a tecnologia poderia ser usada como um “atalho” nessa reinvenção do Brasil. “Não vejo a falta de tecnologia como um problema nos países em desenvolvimento. Mas sim como uma oportunidade para abordagens novas e modernas”, disse ele.
Investir mais em educação seria outro caminho – e, de preferência, em associação com a tecnologia. “A boa notícia é que a Covid-19 está nos obrigando a reinventar a educação. Milhares de empreendedores trabalham nisso ao redor do mundo neste momento”, contou Diamandis.
Para o empresário, a melhor educação do mundo, “aquela voltada aos filhos dos bilionários atualmente”, é a individual. “Caminhamos para o mundo da inteligência artificial. Ela acabará assumindo o papel desse professor particular”, afirmou Diamandis, que usou como exemplo um aplicativo voltado ao aprendizado disponível hoje na China.
“A câmera do celular apontada para a criança já é capaz de identificar se ela está entediada, perdida ou entusiasmada, pela sua expressão facial. E assim o aplicativo pode trocar a lição, oferecendo uma educação personalizada”, contou ele no filme, que também pode ser visto por não assinantes da plataforma Globoplay.