O restaurante Tour d’Argent em Paris, um dos mais famosos da França, e provavelmente do mundo, reabriu após 15 meses de obras titanescas com três novos espaços: um bar, um rooftop com vista panorâmica, e curiosamente, um “apartamento” que funciona como uma suíte de hotel, com diária de € 8,9 mil.
Considerado um monumento gastronômico, o Tour d’Argent - que teria sido fundado há mais de 400 anos e é célebre por sua emblemática receita de pato e por sua adega com mais de 300 mil garrafas - não havia tido uma renovação desse porte desde os anos 30, quando dois andares foram acrescentados ao prédio às margens do Sena.
O objetivo dessa transformação, com novos espaços, é “inserir o restaurante no século 21”, disse ao NeoFeed André Terrail, 43 anos, terceira geração da família proprietária desde 1911. “Exploramos a herança fantástica do lugar, utilizamos o passado para assegurar sua perenidade”, diz o dono.
Segundo ele, as obras custaram "entre € 10 milhões e € 15 milhões". O bar des Maillets d’Argent, no térreo, funciona diariamente desde cedo pela manhã para um café com croissant.
O estilo é inglês, com balcão de estanho e elementos de decoração associados ao jogo de polo, uma paixão de Claude Terrail, pai do atual proprietário. O bar se prolonga por um sala aconchegante com sofás, biblioteca e chaminé. O Tour d’Argent se associou à marca Camus, que existe desde 1863, e criou um conhaque especial para o local.
No quinto andar, foi inaugurado o “apartamento”, uma suíte de 150 m² que até então era reservada aos banquetes. No local, com vista excepcional para o Sena, há uma grande sala com cozinha aberta e mesa para 12 pessoas. A ideia é que os hóspedes possam ir além da experiência gastronômica do Tour d’Argent, afirma Terrail. Eles e seus convidados podem encomendar um menu sob medida realizado pelo chef Yannick Franques, que comanda a cozinha do restaurante gastronômico.
“Eu decorei esse espaço como se fosse meu próprio apartamento”, afirma Terrail, que dirige a empresa desde 2006. O mobiliário minimalista de estilo escandinavo e a sauna são uma referência à sua mãe, finlandesa. A diária de quase nove mil euros inclui ainda um carro com motorista para passear pela cidade. Algumas reservas já foram feitas, segundo ele, que aposta sobretudo na clientela americana e japonesa.
No sexto andar, o célebre restaurante gastronômico com uma estrela no guia Michelin também foi renovado. A vista para o Sena e a Notre Dame, que já era panorâmica, se tornou ainda mais espetacular com a ampliação da fachada envidraçada. A cozinha, em mármore negro, passou a ser aberta, permitindo aos clientes de assistir à elaboração dos pratos.
“Paris entra na sala do restaurante. É uma experiência imersiva”, destaca Terrail, fazendo referência à vista do local. O que não mudou ali é o peso da monumental carta de vinhos: quase oito quilos com páginas sem fim. São poucos exemplares e, com tantas opções de garrafas, muitos preferem seguir as sugestões do chefe sommelier.
A grande especialidade gastronômica do Tour d’Argent é o pato. Uma das receitas (€ 185 por pessoa) é preparada num espaço especial do restaurante, o “teatro de patos”, e a ave vem acompanhada de um cartão com o seu número de identificação. Se o cliente for célebre, como, por exemplo, o imperador do Japão, seu pato acaba entrando para a “posteridade”, com um número que é arquivado.
Há no Tour d’Argent um espaço que retraça a história do restaurante e seus clientes ilustres, entre eles vários ex-presidentes americanos e franceses, além de artistas, como Brad Pitt. Um almoço custa, em média, € 250 e, o jantar, de € 450 a € 500, diz Terrail.
Outro novo espaço que acaba de ser inaugurado é o rooftop Le Toit de la Tour (O Telhado da Torre), um terraço a céu aberto com cerca de 30 lugares para degustar champagnes e coquetéis e também com uma vista de tirar o fôlego.
O faturamento do Tour d’Argent é de € 7 milhões, segundo Terrail. Com a renovação que criou o bar, a suíte de hotel e o terraço ele prevê que a receita deverá dobrar, atingindo entre € 12 milhões e € 14 milhões no médio prazo.
O pai de André Terrail já havia aberto a Rotisseria d’Argent no final dos anos 80, ao lado do restaurante. Também ali André criou, em 2016, uma padaria, que recebe quase 600 clientes por dia, a grande maioria moradores do bairro, segundo ele, e também uma loja de produtos gastronômicos, inaugurada em 2020. “É um pequeno vilarejo Tour d’Argent”, diz ele.
Há uma filial do restaurante Tour d’Argent no Japão, inaugurada há décadas. Terrail afirma que no momento não há planos de abrir restaurantes em outros países, mas não descarta a possibilidade no futuro. “No momento vamos nos concentrar nos novos espaços do Tour d’Argent parisiense”, afirma.
O restaurante teve três estrelas no guia Michelin por mais de 60 anos, de 1933 a 1996. A meta agora é passar da atual uma estrela para duas, ressalta Terrail. A torre secular de prata ou de dinheiro, na tradução em francês, agora na versão contemporânea pretende se manter firme e forte nos negócios.