Vale Douro - Acordar todos os dias diante de uma paisagem tombada pela Unesco, entre vinhedos, bosques centenários, colinas e o rio Douro. Comer alimentos frescos, locais e sazonais, muitas vezes produzidos na horta orgânica do hotel.

Utilizar energia renovável durante a estadia, cuidar do bem-estar físico e mental no spa, sabendo que parte dos valores gastos na hospedagem serão convertidos em compostagem de resíduos, auxílio a famílias em situação de risco e preservação de espécies da fauna e da flora.

Não por acaso o Six Senses Douro Valley, em Portugal, se tornou um dos símbolos de uma tendência cada vez mais comum na indústria do turismo de luxo: a certeza de que é possível, sim, entregar ao hóspede uma experiência impecável e, ao mesmo tempo, de baixo impacto ambiental.

Junto com o ecoturismo, o turismo sustentável movimenta globalmente US$ 77 bilhões e cresce a uma taxa de 10% a 30%, por ano. Na última edição do Sustainable Travel Index, elaborada pela Euromonitor International, as primeiras 20 colocações cabem a países europeus. O Brasil está na 54ª posição.

Inaugurado há 15 anos, o Six Senses Douro Valley foi a primeira unidade da rede asiática na Europa, com os brasileiros entre os três grupos de turistas mais assíduos do lugar.

Ocupando oito hectares de uma quinta do século 15 e um palacete do século 19 como sede, o hotel respira bem-estar e sustentabilidade. E a decoração minimalista faz da paisagem exterior a protagonista do lugar, porque o coração do resort é a piscina de borda infinita debruçada sobre um dos rios mais famosos da Europa.

O hotel ocupa oito hectares de uma quinta do século 15 e um palacete do século 19 serve de sede (Foto: Divulgação)
O hotel ocupa oito hectares de uma quinta do século 15 e um palacete do século 19 serve de sede (Foto: Divulgação)

Com 71 quartos, suítes e vilas privativas, lá até as obras de arte são feitas com materiais reciclados e não se admite plásticos de uso único.

Pelo menos 49% da energia vêm da fontes renováveis e, anualmente, se produz quase 10 toneladas de compostos, a partir da reciclagem dos resíduos orgânicos.

O Six Senses Douro Valley, inclusive, criou, na década passada, o Alchemy Bar, um laboratório experimental para a produção de produtos 100% naturais, utilizado no spa, a partir de ingredientes colhidos nos jardins da propriedade.

Uma ideia presente hoje em diversos hotéis do grupo, incluindo as unidades mais famosas da rede entre os brasileiros, como Six Senses Zighy Bay, Six Senses Laamu, Six Senses Zil Pasyon.

Guardião da flora e da fauna

A produção do jardim orgânico do resort abastece a cozinha e o spa com ingredientes naturais (Foto: Divulgação)
A produção do jardim orgânico do resort abastece a cozinha e o spa com ingredientes naturais (Foto: Divulgação)

Além dos tratamentos de bem-estar, a produção do imenso jardim orgânico serve também de base para pratos caprichados, sucos e chás servidos nos restaurantes. Até a água mineral, com e sem gás, é produzida pelo hotel.

Com diárias a partir de € 850, o resort é também coguardião da flora, da fauna e das águas do riacho, que atravessa mais de 500 metros da propriedade. O hotel trabalha ainda ativamente pela regeneração de uma floresta de 4 hectares.

Seu Earth Lab, sempre aberto aos hóspedes, realiza tours guiados, compartilha ideias para um dia-a-dia mais sustentável em casa e divulga os projetos apoiados por seu fundo de sustentabilidade, responsável pelo apoio a 270 crianças e suas famílias e pela proteção de cerca de 3,5 mil espécies botânicas, na região.

Sentimento de culpa, não

A indústria turística é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Acomodações, destinos e experiências realmente sustentáveis são uma necessidade imediata. E, como indicam pesquisas sobre o assunto, os turistas estão dispostos a tornar suas viagens mais ambientalmente responsáveis.

No restaurante, grandes portas de vidro deixam a paisagem entrar (Foto: Divulgação)
No restaurante, grandes portas de vidro deixam a paisagem entrar (Foto: Divulgação)

O novo comportamento impõe à indústria global do turismo desafios sem precedentes. Muitas pessoas lamentam: as ofertas disponíveis atualmente são mais comuns no mercado de luxo.

Conforme o 2023 Sustainable Travel Report, elaborado pela plataforma Booking.com, para 49% dos 33 mil entrevistados, no mundo todo, os passeios organizados dentro dos limites ambientais do planeta são caros.

Mesmo assim, 43% topariam estender um pouquinho o orçamento em programas alinhados às necessidades do meio ambiente.

As principais razões apontadas no relatório para a escolha do turismo sustentável são: ajudar a reduzir o impacto ambiental; ter uma experiência local relevante; e se sentir bem pela escolha de uma acomodação responsável.

Sim, ninguém quer se sentir culpado pela degradação ambiental, mesmo nos períodos de descanso.

Agentes da transformação

Se nos nichos mais econômicos o quesito preço quase sempre leva vantagem sobre a preocupação com o meio ambiente, no mercado de luxo o cenário é outro, mostra o estudo mais recente do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês).

Segundo o levantamento, 75% não titubeariam em gastar mais por passeios mais sustentáveis. Nesse nicho, impressionantes 60% já consideram recorrer ao mercado de crédito de carbono para compensar seu período de descanso. Como se vê, mercado há.

A decoração minimalista prioriza a natureza (Foto: Divulgação)
A decoração minimalista prioriza a natureza (Foto: Divulgação)

Cabe à indústria se adequar às novas necessidades dos consumidores. E eles são muitos. O fluxo de turistas internacionais está em 1,2 bilhão de pessoas, nas contas da Organização Mundial do Turismo (OMT). Até 2030, serão 1,8 bilhão.

É como Glenn Fogel, CEO da Booking.com, diz: “Os próprios viajantes estão mostrando que podem ser agentes de transformação ao adotarem hábitos de viagem mais sustentáveis e experiências mais responsáveis”. Turistas, empresas e o planeta, todos nós só temos a ganhar.